quinta-feira, 26 de março de 2009

A feminista

*Bom, voltei a escrever contos ultimamente, mas é a primeira vez que escrevo com o eu lírico feminino. Um pouco ardente o texto, mas não o vejo de forma vulgar. Em fim, espero os comentários. Abraço perfumado.*




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A feminista


Esse corredor me assusta. Ele sabe que não gosto de vir aqui. Essas paredes sujas e gastas pelo tempo, a pouca luz que entra por esses vitrais, a fumaça que sempre paira vinda do lixão ao lado, os berros dos vizinhos que volta e meia ressoam. Não gosto desse lugar. O corrimão e a escada de madeira que os cupins já amoleceram de tanto furar e que ao subir me sinto tonta. Estou há pelo menos nove metros da porta de seu apartamento. Sei que ele deve ter tentado dar um jeito, mas continuará uma bagunça com cheiro de fumaça de lixo e mofo.

Daqui já ouço Ray Charles que toca na sua vitrola velha, acho que é a única coisa de valor que ele tem, além da gaita deixada de herança pelo pai e que ele arranha nesse momento, tentando acompanhar a música. Posso até supor que ele está sentado na poltrona de tafetá marrom que já esqueceu a cor que tinha de tanto o tempo bater sobre ela. Um copo de conhaque ao lado do cinzeiro cheio de bitucas. Já deve ter fumado um baseado para relaxar, sempre fica nervoso quando marca comigo.

Faz uns seis meses que não nos falamos e não venho até aqui. Hoje coloquei esse vestido preto por cima de meu corpo nu e ainda mais macio pelo extrato de pêssego, mas como faz frio nessa cidade, pus uma echarpe verde pântano e um trent coat grafite. Ele gosta de me desnudar, mas sempre pragueja calcinhas, sutiãs e espartilhos, prefere a facilidade de escorrer o vestido.

Estou a sua porta agora, retocando o batom carmim, única maquiagem que uso, realça meus lábios carnudos e as maças do meu rosto. São anos de encontros escondidos. Fui eu quem quis assim, afinal encabeçar o movimento feminista, viver viajando de norte a sul desse país e para fora dele, não estaria de acordo aos preceitos se convivesse com um homem rude como esse. Mas gosto dele, da sua barba sempre por fazer, a forma como mete a mão por baixo do meu vestido, como me aperta contra a parede, como consegue me dizer tudo sem pronunciar uma palavra se quer, o seu hálito de conhaque, cigarro e maconha, sua saliva quente, a tatuagem do Índio Cherokee no seu braço esquerdo, que sempre parece olhar para mim quando estamos nos momentos mais íntimos.

Estou em frente à porta há alguns minutos, estou tensa, bato três vezes com os nódulos dos dedos. Ouço o arrastar de seus coturnos desamarrados, ouço ele por o copo sobre a mesa, sinto uma gota de suor escorrer por minas nádegas, sinto o umedecer de minhas entranhas, como ele consegue me fazer tudo isso, ele abre a porta de cabeça baixa, me olha coçando o queixo. Sei que a vontade dele é me agarrar ali mesmo no corredor, mas entro sem dizer nada, tirando as luvas das mãos, primeiro a esquerda, depois a direita, paro logo depois de passar por ele e vou desamarrando o trent coat, e sinto suas narinas se encherem do meu ar passante. Ele fecha a porta e me oferece um conhaque, eu aceito, preciso molhar minha garganta. Enquanto ele põe a bebida num copo de extrato de tomate, olho ao redor para desvendar a passagem de alguma piranha por ali. Como imaginara estava com um aspecto de arrumação, mas muito mais do que eu poderia supor. Ele tem outra mulher! Não e cabível que aquele muquifo estivesse com boa aparecia só por uma arrumação dele. Quando me trouxe o copo, tinha um sorriso de canto de boca, como se soubesse o que eu pensava, quando peguei o copo nossas mãos se tocaram e tudo parou de girar, eu parei de pensar, era isso que ele queria, era o que ele precisava para se aproximar de meu corpo.

Enquanto tomava o primeiro gole e talvez o último, ele beijava meu pescoço e arrepios sucessivos me deixavam mais ouriçada. Eu queria lhe perguntar sobre a outra mulher que arrumara seu quarto e sala, mas uma mão já alisava meu sexo e um seio estava pra fora do vestido e ele mordendo levemente o bico.

- Estava com saudade.

Ele sussurrou isso ou estou sonhando? Podia jurar que ouvi isso e mesmo não tendo certeza respondo: - Eu também meu querido.

Não devia ter dito, ele vai pensar que estou fraca, que poderá fazer qualquer coisa comigo. Mas eu já disse, não tem como voltar atrás. Já sentia meu corpo nu e os pêlos do seu peito roçando minha barriga. Eu amo esse homem, o desejo tanto, quero-o tanto junto de mim, dentro de mim. Quero tirá-lo dessa vida sem nexo, dessa sujeira toda. Mas e as mulheres que se espelham em mim? O que elas irão pensar, dizer?

Seu membro em riste encostado na minha coxa, sua língua numa destreza sem tamanho. Ah! Ele me enlouquece. Estou sobre a mesa e ele entre as minhas pernas, me conduzindo e não me sinto inferior e nem menos feminina. Não posso continuar minha vida sem esse homem e nem ele pode viver sem mim. Como é perfeito, como é bom tê-lo em mim.
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Por Plínio Gomes

terça-feira, 24 de março de 2009

Sexo e luz

Sobre a cama seu corpo cintilava,

entrava pela janela pouca luz de uma lua quase cheia,

o mosquiteiro protegia dos insetos,

mas não dos meus olhos aguçados,

que pela porta entre aberta,

percebia cada músculo, cada centímetro daquela beleza negra,

eu desejava, queria tocar com as mãos, com a língua,

precisava sentir seu gosto, seu cheiro,

sabia que devia explorar cada pedaço,

eu tremia, mas tremia de vontade,

de medo de ser percebido por aquela fresta,

mas esse mesmo sentimento me agitava mais,

me fazia suar,

entre minhas mãos estava meu sexo, eu bolinava,

apertava e sentia a cada minuto mais meu corpo aquecer.

Mexia-se na cama como se soubesse que alguém lhe olhava,

as vezes eu saía um pouco e me escondia nas sombras,

mas logo voltava,

foi uma vez dessa que percebi que quase já não havia roupas sobre seu corpo

e eu entrava madrugada a dentro com mais aflição por conta desse desejo.

Saí um pouco dali, precisava de água, precisava de ar.

Quando voltei sorrateiro, já não estava mais sobre a cama.

E eu me perguntava: onde pode estar? O que aconteceu?

Foi quando senti uma respiração forte no meu pescoço,

tinha percebido a minha presença desde cedo e

agora me fazia subir pelas paredes de medo e desejo,

mais desejo que qualquer outra coisa,

num abraço pelas costas, me direciona a sua cama,

levantou o mosquiteiro, antes me desnudou,

deitou-me sobre os lençóis brancos e se ajeitou ao meu lado.

Nada sabia sobre sexo, nunca havia estado ao lado de outra pessoa,

apenas imaginava como devia ser,

me tomou de uma forma que eu parecia estar recebendo todos os ensinamentos através de seus toques, de sua língua que percorria minhas costas, meu corpo.

Tudo se encaixava, eu morria de felicidade, eu sentia milhares de mãos percorrendo minha carne. Não sei se é pecado ou qualquer coisa que ouvia de ruim dos padres, dos mais velhos,

o que sei é que meu corpo pedia por mais, minha alma queria ser mais sorvida

e aquele líquido saindo me fez amolecer nos braços, fui ficando pequeno, fraco, mas em êxtase, em perfeito estado de tranquilidade.
Hoje eu quero mais, todos os dias eu quero mais, quero ser inundado cada noite por aquela energia.
Quero sempre a proteção do mosquiteiro e daquele corpo negro que me enlouquece.

sábado, 21 de março de 2009

Deixando-se levar

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Uma identidade qualquer abandonada por este que se esconde atrás de um grito, de um feixe luz, na sombra, um gota de som. Vive numa escuridão que apavora, que avassala, que transforma o coração em simples bomba de pulsar. Nada de sentimento, nada de querer, de se preocupar. Uma geleira que anda, que finge pensar. Pobre e podre criatura, engolida pelo consumo, pelo dinheiro, pelas companhias fúteis, estás se perdendo cada dia mais, se esvaindo pelo ralo, cairá num esgoto sujo, sem ninguém. Sozinho.

quarta-feira, 18 de março de 2009

|Selo



Selo para o Zingador que me foi dado pela Samantha: http://nodivacomsamantha.wordpress.com/
Adorei! Amei!
MEU BLOG É NOTA 10 , sem modéstia... risos


E como todo selo tem regras… Aqui estão elas:

Regra nº 1: O selo deve ser exibido, assim como a pessoa que lhe enviou;
Regra nº 2: Você deve indicar cinco, nem mais, nem menos, apenas 5 blogs para recebê-lo;
Regra nº 3: Avise os blogs premiados (Claro! Dã!)
Regra nº4: Definir você, seu blog e qualquer outra pessoa ou coisa em apenas uma palavra;

Definição: Sentimento

Regra nº 5: E por fim, você deve escrever: MEU BLOG É NOTA 10(opcional) afinal, é isso que o selo diz, e se recebeu…

É porque é mesmo rsrsrsrs

Abraço perfumado a todos

Repasso para:

http://clubedecarteado.blogspot.com/
http://solidaoestavel.blogspot.com/
http://eucaliptosnajanela.blogspot.com/
http://sabe-de-uma-coisa.blogspot.com/
http://tecerpalavras.blogspot.com/

sexta-feira, 13 de março de 2009

Um dia desses - quando ficamos sem chão.

Decomposto o largo e experimentado o olhar, sigo em contralto, disparando contra o som do silêncio e do abismo que me separa de quem amo.


O ventilador de teto girando devagar e essa fumaça toda o torna mais lento com a ajuda dessa luz difusa do neon da padaria. Queria ter forças para levantar da cama, arrumar a casa, mas só consigo estirar a mão para pegar outro cigarro e acendê-lo no toco do que acabara de fumar e que quase se apaga nos dedos. Talvez quando esse maço acabar eu tenha coragem de sair de casa, sair desse estado enevoado e letárgico em que me encontro.
O tempo vai passando e quanto mais penso que aprendo com a vida, percebo que sou um tolo. Corrida essa ampulheta que é meu destino, meu traçado, jamais tinha vivido algo tão intenso, nunca tinha estado tão apaixonado e mesmo que no inicio eu me preparava para esse momento, no fundo sempre fui à criança com medo do bicho-papão, da cuca, do homem da baratinha vermelha. Jamais estamos prontos para o fim, para sermos deixados. Partir sempre é mais fácil mesmo quando se deixa pra traz pessoas e coisas. Mas ser deixado, ser cuspido para fora da vida, da história que você participou, que você ajudou a construir é cruel, é desumano.
Ainda ontem estava tudo bem. Tantas brigas existiram, tantos desentendimentos, mas sempre conversamos, sempre resolvemos. Parece que fui enganado em todos esses momentos. Somente para mim as coisas estavam calmas e resolvidas depois dos diálogos. Por quê? Estou a vinte oito horas sem dormir, tentando entender. Buscando me achar no meio dessa agonia chamada fim.
Não nos conhecemos há uma semana, nem mesmo há um mês, são anos e anos, são doze anos e desses, seis morando sob o mesmo teto. É uma vida, uma eternidade, tudo que temos foi erguido com amor, com carinho, cumplicidade, com nosso esforço diário em fazer tudo dar certo. Quando nos conhecemos éramos estudantes, sonhadores, inocentes. Fomos conquistando a maturidade juntos. Aquele espetáculo da Virgínia Rodrigues, as nossas mãos trêmulas se tocando, foi nesse dia que tive certeza e receio. Logo a convivência foi dizimando o receio e fui me apegando, me entregando a paixão. As nossas viagens. Ah! Como nos divertimos em todas, até mesmo quando dormimos no sol numa praia em Natal e ficamos vermelhos de tanto que tostamos, só conseguimos dormir depois dos analgésicos, mas mesmo assim ríamos de tudo, dessas besteiras todas.
Não entendo, por mais que tenha me dito com todas as frases, todas as palavras, não creio que tenha acabado de uma hora para a outra, que tenha morrido o nosso amor. E os planos que estavam por se realizar e há pouquíssimos dias discutíamos? O que aconteceu com eles? E o pior de tudo é ouvir: “Vamos parar por aqui enquanto existe amizade.” Amizade é o “caralho”! A merda com a amizade, eu amo e não quero só a amizade. Estou partido, quebrado em pedaços, em cacos. Quem vai me colar? Quem? Não quero isso, não quero.
E esse maldito cigarro que está acabando.

Em relação ao tempo

Num tic-tac compassado, saio por esses caminhos e cuco. Volto para dentro da casinha. Às cinco em ponto da tarde aquele chá à moda inglesa. Blem-Blem-Blem. É a hora da ave Maria, rezo. Volto para o alto da torre. Mas de que adianta contabilizar o tempo e perder tempo fazendo isso?
E então o poetinha diz: "...meu tempo é quando...".

terça-feira, 10 de março de 2009

Todos os sentimentos

*Um abraço perfumado à turma do T.O.S.
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Leve como uma brisa, sólido como rocha velha, gosto leve, amargo, de um azedume total ou com um sabor adocicado, cintila no entardecer, alveja no amanhecer, escurece os olhares, brinca no sono, parece sumir enquanto o dia raia, depois volta ou mesmo não vai, não está perdido, não está achado em lugar nenhum, mas está contido, vive rodeando os pensamentos, o inconsciente. Alguns tentam resumir em palavras, outros em poemas, aqueles em filmes, outros tantos em livros, peças teatrais. As vezes escondemos, noutros momentos demonstramos, explodimos. Dizem por aí que não há quem não tenha, que não passe, que não viva. São todos, todos os nossos sentimentos, dos mais odiosos aos mais apaixonados. Dos mais leves aos mais fortes, são todos os sentimentos. São os combustíveis para os poetas, para os amantes. São todos os sentimentos humanos, em todos os sentidos.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Constando

Movimento de dias que passam e dentro deles um estado de vida, de completa tradução de viver cada sentimento intensamente.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Exaurir

Chegado. Aferir não adianta nada. Nem mesmo segurar nas minhas mãos esse instante. Chegou. Desceu sobre tudo e não adiantar espernear, gritar, lacrimejar. Chegou. Esse estado de letargia, de definitiva agonia instantânea, esse processo de saudade constante, esse construto de solidão e saudade que me invade e me deixa em tom pastel. Olhei tanto pela janela que mesmo quando fecho os olhos vejo as coisas passarem e nada faço, apenas olho, não vejo e pronto.
Faço parte do que? Porquê? Onde? Nem adianta me questionar, sou confuso, sou redemoinho, sou nada nesse exato momento em que me queixo e me entrego ao nada. Conjunto vazio, determinado ao impossível, ao sonho de sonhar e jamais ter, realizar. Entregue a tristeza, por isso ando calado, olhando para o chão, porque ninguém tem nada com isso, comigo. Cheguei. Depois de tudo isso ainda mesmo que durma, acordo sem nexo, sem beira e nem eira. Sonhos confusos durante o sono, nem melhor e nem pior dos que sonhei acordado. Passado, entrelaçado ao acaso e a sorte passa longe, tem medo de mim, de minha vastidão de não dar certo. O engraçado é que não graça, não cor alguma. Chegado. Estou assim, cansado, paralisado. Nada de help! Nada de socorro. Nada de ajuda. Nada procede, nem precede. Mas ainda assim existe uma esperança. Aquela mesma que nunca morre, que sempre renasce tal qual a Fênix tatuada em meu corpo. E mais leve e firme que a libélula que voa fixa em minha panturrilha. A esperança de amor que muda, de amar que transforma. E de um amanhã novinho, pronto para ser vivido. Chegado. Chegando amanhã, renovada e redobrada a força eu mudarei meu plano de voo, minha entranhas estarão limpas de todo esse lamento, dessa tristeza. Até amanhã.
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*Desculpem-me, mas sempre fico triste, por demais saudoso e sem esperanças no fim de meu inferno astral. Amanhã é outro dia, amanhã é meu aniversário e tudo voltará ao normal.

domingo, 1 de março de 2009

Platonismo

Aquele gosto,
....................................espera de viver.

Cigarros, taças de vinho tinto,
................................ meu coração viajando,
................................ minha cabeça voando.

REcorro as lembranças,

...... ao pouco tempo deixado,
em ti, contigo,

...................................aquele tempo pouco em que
...................................quase sumi pelo teu sorriso.

Exaurindo tudo, saindo de mim
e tornando a me engolir com o malbec
........................e depois tragando o cigarro,

.........tendo certeza de voltar a si.
Plínio Gomes



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Escrevi essa poesia ontém e minha prima/irmã Ellen Ferreira fez uma outra logo em seguida, para mim. Ela realmente é demais. E aqui está:


Aquele gosto,
o último momento. O gosto do último momento.
O cigarro oculto que não conhecia.
O gosto refinado do vinho. Malbec...
O refinado gosto que não conhecia.
O sabor refinado do teu beijo, o
calor das mãos, o olhar de "ressaca".
Ah! Aquele último momento. Aquele
gosto.
Se fujo? Melhor me manter amarrado.
Pois o gosto. O teu gosto. É aquele gosto ainda.
Ellen Ferreira

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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