quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Certo pensar - monólogo de abutre

Um tornado, um vendaval constante, repouso calado, pouso mãos, abraço apertado, nada de profetizações, apenas conclusões precipitadas, queda, surto, loucura. Existia um paraíso a ser dado, ofertado, construído, vivido. Precisava de uma palavra, de um gesto, de dar as mãos e ir. Poderia reinar cores vastas, brisa refrescante, conversas construtivas, riso solto, estado de alegria. Poderia tudo, muito, mas muito mais, café na cama, flores desavisadas, encontros marcados, pizza no fim de semana. Mas chove muito, faz um calor infernal, os pensamentos estão sem nexo, a vida está frouxa, o tempo está letárgico, o desejo está a ponto de partir, de estourar, de arremeter. Tudo é confuso, não existe noite bem dormida, não há espaço nas prateleiras, muito pó nos cantos da casa, muitas asas partidas, muito leite derramado, pouco choro. Aquilo tudo se perdeu antes mesmo de existir, de ser pensado. A maldita dor de cabeça não passa nem muito menos a ressaca alcoólica, a moral. Um abstinência de água, de sexo, de paz, de tudo que poderia estar acontecendo de bom e tudo é lixo, nada de luxo, café ralo, comida sem gosto, banho morno, saindo suado, cupins nos quadros da sala sujando o chão de farelos de madeira. Muito cansaço, muito desastrado, mãos tremendo, aspirinas são fracas, cigarros não matam a vontade de fumar e fumo e fumo e fumo, a boca seca, ressaca de cigarro também, ressaca de você ficar calado, de você não me ligar, de não existir, de nada, de tudo. Esse palhaço que se instaurou em mim não faz ninguém rir, nem mesmo eu, nem mesmo espelho. O que será de tudo? O que será de mim? Não li meu horóscopo hoje, será que devo sair de casa, será que meu inferno astral já começou e por isso também tudo está enevoado? Que música ouvir? Quero silêncio. Não! Quero sua voz quase estridente, quero seu sussurrar quente, quero sua risada farta, quero seus passos firmes, quero seu desejo me consumindo, como quero, como quero. Estou cansado das máscaras que uso, quase sou um travesti de tanto enfeite, não quero isso, quero me desnudar, quero despir as coisas todas que foi decantando em cima de minha alma, sedimento por sedimento quero por pra fora. Quero leite morno com alecrim, quero som de saxofone, quero dançar um folk, quero, quero. Chega desse etecetara de nossas vidas, de minha vida. Chega de pesadelos e acordar assustado. Muita loucura, muita insensatez, melhor ficar calado, sem pensar em nada, nem em ganhar na mega sena, no jogo do bicho, na mãe da vizinha que faleceu na segunda. Acabou, desavisado, mas acabou, sem pressa, sem panela no fogo, sem insensos, acabou o jogo de ping-pong, acabou esses desfrute azedo, água sobre a pele, muito sabonete, muito esfrega-esfrega. Não preciso dizer nada, nada mais. Afinal, você não não me entende, eu não me entendo, nós não nos entendemos e salve geral, o mundo se desentendeu.

Um comentário:

Unknown disse...

é o tempo que passa, passa, passa, e leva um pedaço da gente com ele.

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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