sábado, 16 de março de 2019

|três

Tem três tipos de formigas aqui em casa. O gel-pesticida já não dá conta. Até no pente da barba elas passeia e se alimentam, essas são pequenininhas, mais durinhas de matar, ao picarem causam uma dor fina e imediatamente começa a coçar. Tenho pavor delas. Até na manta do sofá elas se refestelam, certamente das camadas mortas de minha pele. Os outros dois tipos são mais controláveis e claro, não picam. Dia desses, injetei dois tubos de gel pela casa, frestas, cantos, esquinas.  Deu jeito. Momentaneamente. Mas elas voltam, sempre voltam e se aninham em algum lugar que não consigo encontrar. Tem três gatos aqui em casa. Preto. Branco. E Gisberta. Foi trazendo um por vez. Nesta ordem de apresentação. O primeiro é o macho-alfa. Branco, chegou porque acreditava que o primeiro se sentia só. Ele é o meu gato-cão, tão carinhoso e carente que chega a ser besta. Gisberta, que é irmã de barriga de Preto, chegou depois que soube que só tinha restado ela para adoção e ninguém queria. Se bem que ela teria sido a primeira caso não tivesse me azunhado. Ao chegar, amedrontada, ficou feito uma fera escondida por mais de um mês. Não via a cor dela enquanto estava em casa. Para constatar que ela não estava morta, olhava debaixo da cama e lá estava ela, amuada e fazendo aquele rasgado amedrontador quando me olhava nos olhos. Até hoje, com quase nove anos, ela não me deixa pegar nela. Mas ela é carinhosa, no tempo dela, no tempo de gato dela, onde eu sou seu humano de estimação. Tenho os três como filhos que pari. Mas tenho medo de Gisberta. As vezes acho que ela irá me morder ou me cortar a jugular. Tem três dias que tenho o mesmo sonho-pesadelo. Não o mesmo-mesmo, mas aquele mesmo que meio que continua, sabe? Começa como um sonho, estou andando numa rua, voltando de uma festa, tem poucas pessoas naquele horário, e vou seguindo, em direção a não sei onde, essa rua não é uma rua comum, é uma mistura de várias cidades que já morei. Até este ponto o sonho-pesadelo sempre se repete. Daí em diante é que tem mudado. O caminho me levou sempre para um lugar diferente. Nesta ultima noite me vi em frente ao coreto de uma praça de uma cidade dessas que morei. No dito coreto tinha um desses gringos que tocam algum instrumento. Ele estava tocando violino. Uma canção triste. Não. Ele estava tocando uma canção linda. Não. Ele estava tocando uma canção linda e triste. E então eu comecei a chorar. Chorei de soluçar sabe? Engasguei de tanto que as lagrimas me consumiram. Ele – o gringo que não sei mesmo se era gringo – olhava para mim, sorrindo. E eu me acabando em lágrimas, soluçando, inconsolável. Despertei nessa hora com uma picada de formiga. Com o grito do despertar, os três gatos que dormiam sobre a cama, assustaram-se. Tive medo da gata pular sobre meu pescoço. Já gastei um frasco de veneno aerossol no quarto, está um mal cheiro do cão. Não sei se consigo dormir hoje. 

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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