domingo, 28 de fevereiro de 2010

Partos do acaso ou café no fim

Nuvem escondendo lua, noite quente de Fevereiro entrando em Março, infernos destinados há certo quem de quem não se sabe. Céu pronto para um vôo calmo. Pairava qualquer notícia para se vir por aí, aquela que outrora se esperava roendo unhas, enrolando os cabelos, mas que agora já não se faz tão necessária, porque a angustia ficou mais forte, porque a frustração se instaurou e inaugurou um tempo só seu, onde cores em tom pastel deixam tudo num marasmo só e se cansa a visão. Cartola tocando em voz mais aguda e o incenso de canela queimando e transmutando meus pensamentos em saudade de alguma coisa. Não há espaço livre, não há certeza, o que existe é uma indecisão completa por metro quadrado, por mente cheia. Precisava ser mais aguado, mais tranquilo, mas como ser? Sim, eu queria ser algo em torno de ti, queria proferir palavras minhas, dizer-te sem receios, sem receitas prontas, sem venda de imagem alguma. Poderia ser simples, porque assim o sou, mesmo que fujas justamente porque simples assim te ponho medo de viver ao meu lado, medo de se permitir estar solto, sem neuras, sem náuseas, apoio forte, pilastra, pedestal em bronze para esse contexto humano que somos. Porém em desalinho, em quebras de juras que não existiram, em buracos na pista que quebram molas, onde escapou o preciso instante em que me afastei de ti e tu correste, fechou-se em defesa e eu louco em ataque Kamikase me joguei, lancei-me cego, surdo, sem querer ver que você não me queria, sem ouvir aquela voz que insistia em me dizer que tu não estria disponível, porque quer se esconder atrás de não sei o que. Acontece que não consigo me desvencilhar desse desejo, não consigo dizer não a mim mesmo, porque acreditar se faz mais forte do que pensar na dor, na desilusão. Como não me diz nada, não falas. È apenas silêncio e isso me deixa indignado. Novamente os porquês se fazem presente em indagação plena. Mas nada vem de lá para cá, balanço parado em parque de praça. Louco deitado em banco, coberto por jornal, céu de nuvens ligeiras e lua quase a ponto de luz máxima, desejo rondando, sonho perdido porque um cão latiu no meio da rua. Nada de vôos calmos, apenas tormenta de não ter asas. Gangorra quebrada, sem santos que velem por mim, sem reza, sem nexo, sem sono. Mais uma vez acabou, acabou esse momento e tudo é sem cor, sem nada.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Entre salmos e confusões

Passou, sabia que em questão de pouco tempo iria passar, sair, sumir, esvair, pular para fora. Incrível como ainda sofro, como me deparo com uma situação esperada e ainda sofro, choro. Parece fácil voltar a acreditar, pensar no dia seguinte, imaginar como irá ser bom o encontro, o beijo, o abraço, mas ele não acontece, nova decepção, nova dor, aquele-novo-velho-choro. Perder tudo, perder a chance de estar, de ser quem és, de não omitir, não mentir, não fingir nada, apenas ser quem és. Perde-se isso por pouco, por coisa ínfima, por mesquinharia, por nada. O mais engraçado é que não atende o telefone, não responde mensagem alguma, não dá sinal de vida, não diz nenhum porque. Me diga: não seria mais fácil me dizer um porque ou os porquês? Afinal sou humano, tenho sentimento, acredito na verdade, por mais que ela possa doer. Nossa! Que sufoco de carta barata perdida num jogo de burro. Simples seria se permitir, se dar. Até porque eu, bobo, besta, iludido, doei-me, dei-me mesmo, porque para mim é fácil, para mim é fato, para que se perder? E agora que não tem limão na geladeira e essa azia me consome, nada de sal de frutas, nade de curativos para essa alma que se engana, que deixa se enganar, que sofre e escreve, é, porque afinal, algum proveito eu tenho de tirar de hipocrisia toda, dessa falta de escrúpulos para com os sentimentos alheios. E eu nesse momento quero que tudo se consoma numa explosão, que caia raios e trovões, porque já não é mais solitude é solidão implacável, é masturbação mental, é último cigarro na carteira e é madrugada, o dinheiro acabou, não tenho vodka, não tenho sonho, não tenho nada, absolutamente nada que possa fumar e por a fumaça pra fora e assim enevoar esse quarto limpo, essas paredes brancas, essa cama grande, esse espaço que poderia ter duas pessoas, mas só tem eu, dicionário me olhando, cinzeiro cheio de tocos de cigarros fumados enquanto esperava uma ligação, uma mensagem, uma carta, um adeus, um não ou um sim, sei lá. Leio salmos, mas neste estado de sítio sentimental aflorado e plotado sobre mim me deixa confuso, mais até do que já sou, porque eu era simples, eu conversava sorrindo, eu sorria, ah como eu sorria! Mas acabou, gosto mesmo é de blues e jazz, porque sofro, sofro como imagino que elas, aquelas cantoras negras, sofriam. Mas já falei que não há o que beber e nem o que fumar, então, eu, jovem, calmo, triste, confuso, irei jogar água sobre esse corpo esguio e quem sabe assim, limpar-me de tudo, de você, de mim mesmo que sofro por acreditar que seja possível amar e ser amado, sentir desejo, apaixonar-se, viver algo junto de outrem. Banho, é disso que estou precisando e de mais salmos também.
Sujeito sem predicados cadê o hiato?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Certo pensar - monólogo de abutre

Um tornado, um vendaval constante, repouso calado, pouso mãos, abraço apertado, nada de profetizações, apenas conclusões precipitadas, queda, surto, loucura. Existia um paraíso a ser dado, ofertado, construído, vivido. Precisava de uma palavra, de um gesto, de dar as mãos e ir. Poderia reinar cores vastas, brisa refrescante, conversas construtivas, riso solto, estado de alegria. Poderia tudo, muito, mas muito mais, café na cama, flores desavisadas, encontros marcados, pizza no fim de semana. Mas chove muito, faz um calor infernal, os pensamentos estão sem nexo, a vida está frouxa, o tempo está letárgico, o desejo está a ponto de partir, de estourar, de arremeter. Tudo é confuso, não existe noite bem dormida, não há espaço nas prateleiras, muito pó nos cantos da casa, muitas asas partidas, muito leite derramado, pouco choro. Aquilo tudo se perdeu antes mesmo de existir, de ser pensado. A maldita dor de cabeça não passa nem muito menos a ressaca alcoólica, a moral. Um abstinência de água, de sexo, de paz, de tudo que poderia estar acontecendo de bom e tudo é lixo, nada de luxo, café ralo, comida sem gosto, banho morno, saindo suado, cupins nos quadros da sala sujando o chão de farelos de madeira. Muito cansaço, muito desastrado, mãos tremendo, aspirinas são fracas, cigarros não matam a vontade de fumar e fumo e fumo e fumo, a boca seca, ressaca de cigarro também, ressaca de você ficar calado, de você não me ligar, de não existir, de nada, de tudo. Esse palhaço que se instaurou em mim não faz ninguém rir, nem mesmo eu, nem mesmo espelho. O que será de tudo? O que será de mim? Não li meu horóscopo hoje, será que devo sair de casa, será que meu inferno astral já começou e por isso também tudo está enevoado? Que música ouvir? Quero silêncio. Não! Quero sua voz quase estridente, quero seu sussurrar quente, quero sua risada farta, quero seus passos firmes, quero seu desejo me consumindo, como quero, como quero. Estou cansado das máscaras que uso, quase sou um travesti de tanto enfeite, não quero isso, quero me desnudar, quero despir as coisas todas que foi decantando em cima de minha alma, sedimento por sedimento quero por pra fora. Quero leite morno com alecrim, quero som de saxofone, quero dançar um folk, quero, quero. Chega desse etecetara de nossas vidas, de minha vida. Chega de pesadelos e acordar assustado. Muita loucura, muita insensatez, melhor ficar calado, sem pensar em nada, nem em ganhar na mega sena, no jogo do bicho, na mãe da vizinha que faleceu na segunda. Acabou, desavisado, mas acabou, sem pressa, sem panela no fogo, sem insensos, acabou o jogo de ping-pong, acabou esses desfrute azedo, água sobre a pele, muito sabonete, muito esfrega-esfrega. Não preciso dizer nada, nada mais. Afinal, você não não me entende, eu não me entendo, nós não nos entendemos e salve geral, o mundo se desentendeu.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Algum pedaço - ou Fendas desastradas - Confuso

"... e vomitas sobre mim, depois puxas a descarga e te vais, me deixando repleto dos restos amargos do que não digeriste..."
Caio Fernando Abreu - do livro Dragões não conhecem o paraíso.
*****
Era uma festa, tinha uma festa, fez-se uma festa grandiosa pela minha chegada. Cativou-me, lançou olhares, dançou se insinuando, eu quis, eu tive, eu quero. Ainda existia um espaço entre a gente, existia uma nostalgia do outro lado, não era festa completa, não foi festa certa, era máscara de festa veneziana comprada em loja de departamentos. Mas fomos, sempre vamos, mesmo que astros, signos, búzios digam para não irmos, sempre vamos. Tira roupa, joga roupa, corpos nus, muito suor, muito suor, muitos suspiros, muitos suspiros, mundo girando, realidade voltando perturbada. Noites esperando, noites querendo. E uma vez juntos, muito álcool, muita rosca, muita vodka, muita cerveja, muito gim, muito tudo que for de beber e embriagar. E mundo girando, até que corre para o banheiro, se lança sobre o vaso e põe pra fora tudo que foi bebido, tudo que foi imaginado, tudo que insinuou querer fazer. Grito por detrás da porta fechada, grito, grito, chego a ficar rouco, ouço o cair da água do chuveiro, ouço parar de cair a água, abre a porta, sai sem roupa alguma, do mesmo jeito que entrou, deixou no vaso, no ralo aquele desejo todo, pega peça por peça de roupa e vai se vestindo e ao mesmo tempo se desnudando de mim, das palavras ditas. E vai embora, deixando-me na mão, na casa só, na tristeza, na nostalgia que era sua e agora é minha. Ainda resta um garrafa de vinho na geladeira, ainda passará dias até um novo encontro. Ainda haverá paz?

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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