segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Lua, Lua, Lua

Surgindo com um clarão.
Por detrás da mata sobre o morro.
Faz a árvore transformar-se em desenho sobre o céu.
Aquela que é cúmplice dos amantes,
que faz a matilha encarar os céus em uivos desvairados.
O grito do pavão noite a dentro.
A coruja espantando o medo.
A bela taciturna, dourada,
Por mais que demore a aparecer,
sabe-se que irá calar a quem quer que seja,
pois tamanha a sua plenitude,
a lua brilha e domina a natureza.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Se te serve de consolo, que sejas então

Eu não detenho o rancor. O mar que repete o céu cinzento. Etta James cantando ‘At last’: “Tola que sou eu, por ter me apaixonado por você...”. Chegou ao fim. O choro que quer cair. Por favor, não faça isso. Engolindo a seco meu orgulho. Não vês que teu lugar é ao meu lado. Queria mesmo que tudo isso não passasse de um pesadelo e que a qualquer momento despertarei. Guardei tuas coisas com carinho após lavá-las. Desde que decidiste me dizer que eu era a outra, que eu era a amante, que tento esquecê-lo, mas não consigo, deixei-me levar por esse sentimento tolo, mas o que eu poderia fazer afinal? Se teu jeito de me falar me faz ter os nervos estremecendo, se padeço desta forma louca de querer-te a todo tempo e minhas pernas ficam bambas. “... E, oh, todas as coisas que eu havia planejado...” Mas já que nada posso fazer apenas te quero, mesmo que isso me custe não poder desfrutar de tua presença todas as vezes que eu desejar. Porque tantas vezes terei de segurar o gozo, prender minhas pernas e não me deixar molhar quando me perder em pensamentos e lembranças de tuas visitas rápidas, de nós dois pelas ruas e becos, como dois apaixonados. Não te odeio por isso, porque me prendo a tua sinceridade e nem me odeio por te amar. Pois se caí nas garras desta paixão é por que nada mais tinha a fazer, apenas estou indo conforme a correnteza. Então não diz mais nada, não relute, venha quando quiser, quando puder. Mas venha, porque estarei te esperando.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Cordão, novelo, costura

O estalo da vértebra, a artéria que leva o sangue pulsante, quente. Abismos devem existir, aqui, acolá, mas sempre há um espaço preciso do gostar ou então o que seria aquele arrepio na espinha? Viajo dentro, corro por ali, selvagem sim, mas delicado quanto um toque nervoso de primeiro encontro. Não cabia mais desprezar os sentimentos internos, nem de um nem do outro. A partir dali, passos não deveriam ser pensados demais, palavras deveriam ser ditas com a precisão da verdade, porque o enrolar dos nervos não faz bem, causam desconfiança mútua. Mas enquanto um pensava na melancolia do jazz o outro lembrava a canção do Cazuza: “Meus olhos são bem grandes pra te secar, minha boca é um bueiro que vai te sugar...”. Do oblíquo desejo de um lado – o juntar os panos de bunda, as escovas de dente. Já do outro, sexo prático, sem certeza de muitos dias na mesma companhia. Não que ambos desconhecessem a possibilidade de uma vida-acasalada-perfeitinha-em-casa-de-janelas-brancas, mas talvez estivessem presos demais as convenções do tipo de vida que levam aqueles que fogem às regras, mas que acabam vivendo a base delas. Se um subia a ladeira lentamente para depois descer novamente em disparada, aquele simplesmente esperava em baixo, afinal, para que se cansar? Sentar a mesa do bar – água com gás de um lado e do outro rum com coca-cola. Sabidos de suas diferenças agudas, traçavam maneiras de continuar com aquilo tudo – este pensava nos uivos e deleite em cama, mesa e banho; já aquele, saber que podia contar com alguém quando a solidão estivesse tão amarga quanto o gosto de fel que estraga o frango. Os dias passando, os meses e anos também e assim foram se afinando, como aquela estória dos porcos-espinhos no forte inverno. “Viver é bom, partida e chegada, solidão que nada...”. Espantavam qualquer vontade de sair por aí, de deixar para trás o que lhes prendiam, porque no fundo, desde o primeiro dia, sabiam que cabiam um ao outro, mesmo sôfregos de tanto acharem que não combinavam e que tudo não passava de um desalento, de uma forma de um usar o outro para surrupiar a solidão que os assolavam quando ainda solteiros e detentores do ar jovial e maléfico de só pensarem nas conquistas da noite, do sexo fútil e o acordar sozinhos. Outros tempos agora, os finais de semana sempre juntos, programas mornos que tanto desprezavam e que passavam a dar tanto sentido as suas vidas. Ao fim de mais uma noite de sábado comendo pipoca em frente à TV, um olhou para o outro, e sem mesmo pestanejarem, disseram-se: Amo você. Instantaneamente, ao mesmo tempo. Depois veio o beijo. Era o fim do filme que assistiam, era o início do cair à ficha, que tanto tempo ficou presa ao orelhão. Ambos começavam a ouvir o que o outro tinha a dizer e claro, a entender o que queriam esconder.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

CONVERSA DESATADA NUM ESTALO, SÓ

Toda espera cansa, angustia. Existe um conforto nesta reclusão. Passado a limpo o contexto inodoro, sentia na boca um gosto desconhecido, enquanto o café esfriava na caneca de esmalte branco. Era fim de tarde, o calor amolecia o corpo e fazia as moscas voarem baixo. Não passava um vento sequer, todas as árvores paradas enquanto fervilhavam no horizonte visto pela janela. Sobre a mesa de madeira reciclada farelos de pão acumulados nos últimos dias. Não há mais panos de chão limpos, a pia amontoada de pratos e panelas – só re-lavando a caneca de café. Não acendia mais incensos de canela, porque de nada adiantaria deixar o ambiente afrodisíaco. Quando do cair completo da noite: colocar comida para os gatos e os cães. Ainda resta ração suficiente para mais dois dias. Quarenta e oito horas aguardando alguma coisa, alguém, um telefonema, carta ridícula qualquer, um vento ou mesmo força estranha que me faça lavar os pratos. O disco da Maria Callas tocando repetidamente. A qualquer momento os vizinhos devem reclamar, mas não abrirei a porta. Joguei na loteria, sonhei com minha filha, mas desde que a mãe se casou com o chileno, isso há quatro anos, só ligações no meu aniversário e no natal, nada mais, nem uma foto pelo correio. Sinto saudade daquelas bochechas rosadas e boca vermelha me chamando de papai. Alias, creio que seja a única coisa da qual sinto saudade. Porque isso é um privilégio para poucos. Algumas pessoas contam os dias para a chegada das férias, eu particularmente, além de ter vendido parte do tempo, rezo para voltar a trabalhar, lembro de minha avó me dizendo: “mente vazia é oficina do diabo.” E creio que seja mesmo, afinal de contas, não tenho pensado em nada que preste. Mas o pior de tudo, é que depois que as moscas se aquietaram os pernilongos desataram a me encher o saco, minhas pernas estão queimando. Pelo adiantado da hora, a barriga roncando, algo precisa ser feito para alimentar esse corpo – o resto de sopa de ontem com pães dormidos poderão me deixar mais tranquilo. Quem sabe pegar no sono.

domingo, 17 de outubro de 2010

Imperial

*
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A letra deitada sobre o papel.
O cheiro de tinta exalando.
O frescor dos pensamentos
e os sentimentos aflorados.
O tic-tac esplendoroso da madrugada.
Os dois bem-ti-vis na folha da palmeira,
o toc-toc sobre a cabeça,
a dureza do passado solvente,
dissolvendo grosso presente,
entre o destilar de veneno,
serpentes horas a rodar,
enquanto samba a felicidade, alheia,
com não me toques e comigo ninguém pode.


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dia 5

Não sabia que música era aquela que entrava pela janela, nem muito menos de quem era aquela voz doce e afinada, mas começava a perceber que alguma coisa estava diferente, que o amanhecer surgia com uma energia extraordinária. Era comum ser acordado pelo barulho infernal do metrô ou pelo bate estaca da construção da esquina, mas jamais tinha despertado de forma tão prazerosa. Dia cinco de fevereiro; Esta era a data anunciada no meu calendário de geladeira. Enquanto tomava o copo com água matinal me lembrei que dali a exatamente um mês eu estaria comemorando o meu aniversário e que de alguma forma começava a se aproximar o meu inferno astral e por mais que eu não acredite nisso, os dias antes de meu aniversário sempre são dignos do rei das chamas profundas cheirando a enxofre. Mas eu não queria me apegar a esse detalhe, pois além do meu dia começar genuinamente maravilhoso, poderia me ater ao fato de que me casei no dia cinco de junho, que meu filho nasceu no dia dez de dezembro que é o dobro de cinco, que meus irmãos fazem aniversário dia cinco de outubro. E que na mesma data só que do mês de janeiro deste ano, minha mãe completou cinquenta e cinco anos. São muitos cincos em minha vida e todos dadivosos, isso sem citar que me separei no dia cinco de agosto, que sem dúvida foi à melhor coisa que fiz em minha vida. Neste dia calmo e musical quero ficar em casa, que por ser dia de pagamento, não quero gastar um centavo sequer. Pronto! Decidido. Ficarei em casa, degustando esse sentimento de tranquilidade e liberdade.
*
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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pedra no sapato dos outros é suco de caixinha.

Sem mais atitude que lhe desse aspecto de vivo, percebeu que suas forças não mais vigoravam, pelo contrário, sumia a cada hora, desvanecia a cada dia. Buscava explicações e sentido para sua jornada sem lógica, mas só encontrava opacidade e caminhos cada vez mais tortos e pedregosos. Não tinha mais pai ou mãe que lhe dessem conselhos, mas também quando os teve desfez-se, não quis ouvir balelas. Agora que chegou o tempo das vacas magras, só tinha a si próprio e mais ninguém que lhe confortasse a cabeça em colo macio. Sabia que onipotente de si, mesmo sem sustança nenhuma, cabia só a ele vencer ou desfalecer. Chegava então o tempo de calçar botinas e ir ao ou de encontro a tudo e a todos. Mas como até agora não tinha feito nada, a letargia dormia tranquila com o desespero, decidiu que somente amanhã dava inicio aos novos tempos, ficar na cama numa segunda-feira era a melhor maneira de vencer mais um dia.

sábado, 9 de outubro de 2010

Sina e Seguir

Força equilibrada
Contexto arraigado de história
O meu sentir mais completo
A minha vida mais sentida
O desmembrar dos caminhos
O seguir mais florido

sábado, 2 de outubro de 2010

Danado com o mundo - Do egoísmo e do heroísmo.

Graças a Deus ela não falou. Por mais que eu a ame, muito me custa ouvir sua teorias absurdas sobre o consciente, o inconsciente, sobre os sonhos, sobre os signos e os sinais. A mania que ela tem de fazer previsões não confirmadas, de levantar o rosto para sentir o vento e dizer que vai chover, de ler Santo Agostinho e o Apocalipse e evacuar tramas loucas sobre humanos que não são humanos e sim seres de outros planetas e que a qualquer momento irão mostrar suas caras, caretas e tarjas pretas e o mundo entrará em tempos de cólera e sofreguidão. Amo demais essa mulher, mas gostaria que ela fosse normal, que me fosse uma Amélia, que me escrevesse cartas de paixão e saudade, mas ela parece não se apegar a nada, não crer que eu me apaixonei e que muito mais gostaria de fazer do que divagar sobre o som da chuva, a poluição do planeta e o canto das baleias. Ela diz que escorpião e leão fazem loucuras na cama e logo eu que nem sabia que era leonino. Mas se ela sabe disso porque não se entrega de vez para mim? Não creio que nada conste em seu ser que não a deixe apegada a mim, pois são anos a fio, são diversas noites - ela consumindo xícaras e mais xícaras de chá alucinógeno e eu taças e mais taças de vinho. A minha persistência às vezes se cansa, mas quando ela para de falar e me olha com olhos de volúpia enquanto enrola uma mecha de cabelos, não caibo em mim, o meu apetite de fazer amor dilata minhas veias, irriga meu cérebro. Corro para cima, ela faz doce, fico mais louco, ela me afasta com suas pernas grandes, reluto, ela me empurra, caio, ela abre as pernas, sinto seu cheiro, ela ri, afogo-me, ela delira, arranho com minha barba, ela grita, nos entrelaçamos. Penso que tudo vai ser diferente, que ela não vai sair correndo depois de tudo, que vamos continuar deitados no chão da sala, que ela permanecerá deitada em meu peito. Mas ela torna a falar dos signos, que escorpiões matam depois da cópula, que ela tem medo do que possa fazer comigo, ela chora, fico calado, ela soluça, tento confortá-la, ela levanta-se, peço que fique, ela diz que é noite de lua nova, imploro que não se vista, ela vira o ultimo gole de chá, digo que a amo, ela me olha calada, repito que a amo, ela caminha até a porta, levanto e vou ao seu encontro, ela me dá um beijo no rosto e fala que está partindo para outro mundo, peço que não vá, ela bate a porta.

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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