sexta-feira, 20 de maio de 2011

Quando o amor é amor e reina absoluto

Era dezembro – um ano inteiro passado, mastigado, sorrateiro. Mas o que passou não volta, apenas corre para longe do pensamento, esquecido depois de vivido. As partículas de poeira se amontoando em cima de tudo, apenas alguns fleches de memória, apenas lembranças de partes da história. Já era noite quando ouvi Bidu Sayão cantando: “Acorda, vem ver a lua, que dorme na noite escura, que surge tão bela e branca...”, era um chamado, era a forma mais linda que alguém poderia me chamar ao mundo, ao vivo, era o veneno “anti-monotonia” necessário para desmanchar os nós que travavam minha garganta, evitando que eu gritasse um basta.

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Acordei meio assustado, era tarde do dia, havia perdido à hora. Algo me dizia para não sair de casa, inventar alguma história e faltar ao trabalho. Mas a responsabilidade me bateu a consciência, tratei de tomar um banho, liguei avisando que não estava me sentindo bem e que chegaria atrasado. Quando comecei a me vestir, na hora em que fui escolher uma gravata, percebi que todas elas viraram serpentes e me espreitavam, aguardavam um mínimo movimento meu para introduzir um veneno mais mortal do que o que eu bebia diariamente.

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Restou muito, restou muito mais do que eu pensava. No início era tudo confuso, dúvidas, questionamentos a cerca do que me fizeram, do mal que me desejaram, do quanto dei com a porta na cara, e mais as paredes, as janelas, o chão quente e duro, ralando meus braços e joelhos após a queda. Mas quando pensaram que nada mais restava de mim, enganaram-se, deixaram espaço para eu perceber a grandeza que há aqui dentro, o amor mais pleno e ininterrupto, o mais quente e visceral sentimento que pulsa e alimenta, o amor por mim, o que me fez belo e certo do que eu poderia reconstruir, o amor que é amor e reina absoluto em meu mundo próprio e que depois escorre, segue, fluxo líquido evaporando, átomos de mim que encontram amizades verdadeiras, aquelas que independem do que você tem, porque mais vale o que você é.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sabiás em vôos brandos, gato branco, sorriso verdadeiro, transmutações e outras histórias musicadas.

Um abraço perfumado, transmutado em luz e enviado aos céus
para quem não chegou a me dizer o que achou do
meu primeiro livro de poesias. Ao amigo Àtila Lueska.

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Essa noite eu tive um sonho... Sonhei com uma fotografia. Não dessas digitais, que bloqueiam parte do nosso imaginário, mas uma fotografia mesmo, impressa, revelada, posta num papel apropriado. Era a foto de uma cachoeira, uma pedreira enorme, de onde caía do alto volumosa queda d’água. Parecia ser somente uma paisagem, mas o que me chamou a atenção foi uma coisinha miúda que estava no meio do lago que era formado pela cachoeira. Era uma pessoa, talvez eu mesmo ou um amigo, mas o que realmente importa, é que eu percebia no sonho e acabo entendendo agora que na vida real também, tudo é tão grande diante de nós, mas isso não quer dizer que somos insignificantes, pelo contrário, quer dizer que temos o devido tamanho, cabido e imaginado para nós. E quem imagina? Quem compõe isso? Para muitos pode ser Deus, algum não deus, orixá, caboclo, Maomé, Jeová, Buda, força universal invisível, mas isso também não importa, porque estou falando de seres humanos e nós temos uma força gigantesca nessa parada, mas nem sempre percebemos e nesse caso, só vemos a cachoeira na fotografia. Sei que depois de ver bem essa bendita fotografia, na verdade ficar olhando e percebendo um monte de coisas nela e dentro de mim, eu saía de casa, sem rumo e andava bastante. Quando já estava cansado de tanto andar, pegava uma condução e voltava para casa, logo em seguida acordei. “... Tem pena d'eu (Sabiá),
Diz por favor (Sabiá)...”

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Hoje aprendi a sorrir e aprendi contigo. Engraçado isso, o fato em que num momento de dor, de partida, de eu não poder mais conversar contigo e ver você dizendo que adora viver, justamente nesse momento eu aprendi a sorrir e foi contigo. Mas não sorrir de qualquer jeito, mas do sei jeito expansivo e por tantas vezes barulhento, sorrir, cair da gargalhada em um ‘muá’.

***

Existia um tempo em que ateus acreditavam serem filhos de Xangô. Época em que o sorriso era livre e pensando nisso, lembrei da canção: “... O orvalho vale a flor, que nasce desse prazer, nesse lampejo de dor, meu canto é só pra dizer, que tudo isso é por ti, eu vi, virei estrela...” e creio que seja isso, que muita coisa vale à pena, que é por isso que a flor brota, é isso, é por ti, é por nós, a sabiá voou, virou estrela, vivia sorriso, agora vive luz. Transmutou o pensar, saiu do tempo óbvio, do espaço contexto prático, saiu para brilhar nas entrelinhas, no doce sonoro bailar, nas rodas de músicos que cantam e tocam a vida, o amor, a amizade – “ Tu que andas pelo mundo, tu que tanto já voou...”. Existia um tempo em que tudo eram flores e cores e nem nos dávamos conta, dizíamos o quanto às pessoas eram importantes em nossas vidas, demonstrávamos carinho, mas hoje perdemos esse tato, já não somos tão preocupados assim, como costumamos fazer ao gato branco que adora roçar em nossas pernas e empurramos para longe. Gatos gostam de aconchego, humanos também, por isso amemos os gatos brancos, rajados, pretos, de raça, da rua, amemos.

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Essa é minha forma alegre e prática de ver o mundo e entender as coisas. Escrevo. Ponho em papel alguns pensamentos vertiginosos, para tornarem-se um pouco mais fáceis de entender. Talvez seja como uma fotografia de paisagem com alguém no meio da lagoa ou quem sabe como um gato branco que se esfrega nas pernas dos outros ou ainda como uma sabiá cantante em manhã chuvosa, alguns pensam que ela canta de tristeza por cinta de não poder voar leve outros pensam que é porque ela vê a chuva molhar a terra e trazer boas novas. De qualquer modo, tudo na vida tem lados opostos, nós é quem decidimos para onde olhar.

sábado, 14 de maio de 2011

Do céu onde os pássaros voam - Do amor fílmico




Um mar calmo, sem ondas, os pássaros em revoada tomando formas num céu brando, o sentimento renovado, inspirado. Aqueles dois ali, em plena harmonia. Uma nave espacial, um pedaço do céu, uma vassoura de bruxa, um tapete mágico, alguma coisa assim, do tipo, que me fizesse sair voando, sem parar muito tempo em lugar algum, sem me prender as coisas sem contexto, apenas amando e querendo bem, por aí, leve, solto, incrível. Parecia querer deixar ali, mas não, o querer sair era mais para contemplar tudo de longe, de cima, de fora, perceber-se dentro daquele fluxo contexto amante; os dois nadando num mar próprio, próximo de casa, nus como vieram ao mundo, entre brincadeiras e entregas, entre água e o despertar para o mundo. O então amor sonhado, agora realidade, parte de um viver sonoro, como uma sonata, uma área - leve, precisa, mistura cadenciada de instrumentos que levam as almas ao êxtase, ao pleno, ao certo e impreciso amar. Quando voltar do passeio sonho, encontrar-se do mesmo jeito, molhado, nadando, unindo-se ao outro, verdadeiro consentimento. Depois uma noite adentro, uma cama boa, um entrelaçar-se para depois untar-se em suor deslavado. Uma madrugada solta, um amanhecer justo e tudo rodar em sincronia com o universo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Casa Ver[de] - Poema/prosa em construção

Para se ler/sentir ouvindo Vinicius de Moraes e Baden Powell ou Glória Bonfim


Acima da cabeça a fumaça enfeitada, mosquiteiro dependurado, ao lado o galão de água vazio, entre notas psicodélicas em psico-trance-ultra-moderno-jazz-blues-bate-estaca, sentado em lótus, divagando um pulo só, enquanto os outros se esbaldam e dançam parados. O famoso turco não está, o cobrador se perdeu. De bochechas vermelhas o de cabelos de anjo cintila rindo, enquanto quatro paredes brancas de teto com goteiras goteja desvairadamente parte da chuva lá de fora. Sonâmbulos gatos diurnos que entraram pela noite, o ventilador tragoso girando, severo, o cheiro misto de banho tomado e ervas. Depois eles tocam, acreditam no externo, no de dentro, que mesmo que caia louca, uma chuva, o violino não desafina, apenas corre, corre, a água limpando telhado incrustado, limo, limbo.Enfrentando o descartável, firmando pés, mãos, raízes, cantam, dançam, divertem-se, gritam, ela eufórica, bate pés, mãos. O outro, só olha, bebe, fuma. Lembramos de Allen Ginsberg e seu Uivo. Que falta faz a menina de Iemanjá com Oxum e a risada desenfreada e estrambólica daquele outro rapaz. Solta os bichanos. E a tela, o vazo azul imitando laca chinesa. E ela que nos une, corre pelo eternit. O anjo dizendo: mal, mal, me passei total. Aliás, adoro viver! Precisamos de ritmo, entraram tantas pessoas temporais, ronronando, viajando. Só falta você 'el bigodon!', ninfeto siciliano, só falta você. Batidas agitadas no violão e vendo-o tocar, penso com é bom tocar um instrumento...

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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