sábado, 27 de junho de 2009

Mel, conhaque e desejo

Embebedado de ti, escorro.

Passo não passo e rio contente.

Palavras ousadas pronunciadas ao pé do ouvido

e derreto, espanto os pelos do corpo.

Tua mão esquerda sobre meus cabelos

e a outra desliza leve indagando minhas partes.

Tua língua molhada e quente fala à minha pele,

teus dentes maltratam divinamente

Tu me sorve, me condensa,

me faz livre.

sábado, 20 de junho de 2009

Pululantes

Torrentes de desejos estavam circulando por ali. Existia uma vontade maior que a própria razão. Mas ainda não haviam chegado às vias de fato. Por enquanto, entre goles de uísque e azuis baforadas de cigarros, apenas algumas conversas, amenidades do dia-a-dia de suas vidas. Mas a qualquer momento haveria um estouro, uma concentração tamanha de hormônios, que faria a lava explodir e escorrer para fora dos dois. A carne sedenta de contato, a boca salivando, os olhares em brilho. As palavras em demora de sair, as células querendo toques, o cérebro emanando mais ordens. Qualquer vacilo causará a mais bela das guerras. A mais divertida derrota. O maior e mais gostoso sabor de vitória. Pólvora mandando pelos ares suor e saliva. Mãos perdendo-se entre pernas, braços, barrigas, seios e costas. A qualquer momento...

domingo, 14 de junho de 2009

Uma imagem viva

Enquanto tomo uma xícara de café e olho pela janela.
Um sentimento esperançoso vindo com o vento.
Existia um olhar dentro do nada. Não, não era dentro do nada, não era o nada, era um contexto fluido de qualquer coisa, de incompreensão minha, por isso disse o nada. Então eu observei, porque aquele olhar realmente me fez indagar tanta coisa, tantos mistérios ocultos, que eu simplesmente observava. A imobilidade do corpo e mesmo assim, sua constante expressão de vida, de leveza. A senhora depois de um tempo acendeu um cigarro. E fumou. Mas fumou com uma vontade e paciência, que me orgulhei de ver. Aquilo mexeu comigo, mas mexeu tanto, que acendi um cigarro também. Enquanto ela fumava de lá, paciente, lânguida, eu fumava de cá, observador. Ela riu quando um cachorro passou. Ela fitou o sabiá que cantava no poste defronte de sua casa. Ela tragava, demorava um pouco e soltava aquela fumaça. E eu besta, olhando-a, crente na sua severidade, na sua insensatez. Via naquela senhora uma vida inteira vivida de forma feliz. Não sei porque, mas era a impressão que ela me passava. Uma criança passou, ela falou algo que não deu para ouvir daqui, mas a criança sorriu e depois correu. Aquela mulher tinha algo mágico, algo que me prendeu. Quando ela terminou seu cigarro, pegou a vassoura encostada na mureta e começou a varrer. Deu as costas para o mundo e para mim. Demorei mais um tanto observando-a. Mas eu já não cabia mais em sua vida, não pertencia mais ao seu mundo, não podia mais estar em sua fluidez de alguma coisa. Algo se quebrou ou eu me perdi. Mas pude ser simples o suficiente para observar o simples.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sonho de primavera

O sol mais forte. Nos varais, brancos panos a reluzir. Um sentimento de limpeza se instaura dentro de mim. Cheiro de terra que se molhou propositadamente. As flores das laranjeiras gracejam e exalam perfume ímpar. Nada de novo nesta minha vida, mas tudo é paz e isso me conforta. À noite estarei cansado, mas receberei a taciturna de forma mais clara, escreverei mais, apreciarei um bom livro. Tomarei um café mais forte. Talvez apareça alguma visita, mas quem sabe não apareça ninguém. Mas estarei comigo e isto me basta. Amanhã acordarei mais tarde e tudo será como sonho de primavera. Muita cor, muita felicidade estonteante. Nada me exaspera. Tudo me reporta ao belo. Apenas eu. Sem nada demais nem de menos. Um tempo inteiro sem pressa. Tudo no seu devido lugar.

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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