sexta-feira, 30 de abril de 2010
Três anos de Zingador.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
O fim e o começo
Acordou resmungando. Estava muito calor, não soprava vento algum. Passava das dez da manhã. Não era costume acordar àquela hora, pelo contrário, o hábito é estar de pé antes das seis, trocar a água dos canários, por alpiste, depois alimentar as galinhas e gansos, além dos cães. Depois sua mãe chegaria se arrastando com uma xícara de café preto e após o primeiro gole viria o cigarro inaugural do dia.
Mas a noite foi extremamente turbulenta, por causa do calor, dos cães que não pararam de latir, certamente por conta de alguma ratazana. Sempre que há ratos nas árvores é essa zoada toda, mas o mau humor fez com que não se levantasse. Mas além do calor e dos animais, existia uma solidão implacável que lhe consumia e os sonhos e pesadelos que lhe acordavam a todo instante Não se recordava de muitos, mas um estava martelando sua cabeça.
Bem na verdade, os últimos tempos tornaram-se mais difíceis e agora com a proximidade de seu aniversário, tudo se tornava mais turvo. A ausência de um grande amor. O não dar a mínima para as duas filhas. Tudo bem que ele não as procurava, por mais que sua velha mãe insistisse para que ele ligasse para as meninas – a velha se sentia só, gostaria de mimar as netas. Pouco tinha contato com as gêmeas, mas tinha um profundo amor por elas. Mandava escondido do filho um pouco de dinheiro de vez em quando. Mas ele não era de fazer o gosto de ninguém.
A convivência com Dona Beata, assim chama sua mãe, era agradável, porém eles pouco se falavam, era como se um soubesse o que o outro queria dizer ou pelo menos supunham. Ele abriu a boca como se quisesse dizer algo, mas desistiu. Dona Beata, ao contrário das outras vezes indagou:
- Fala filho! Diz o que se passa.
Omar se sentiu acuado e talvez por conta disso, falou:
- Não é nada não. Apenas me lembrei do sonho que tive essa noite.
- E o que você sonhou? Porque você se mexeu na cama a noite inteira, pensei até que estava tendo um passamento.
- Ah! Mas com esse maldito calor quem consegue dormir? Ainda por cima os cães não pararam de latir.
A mãe falou mudando de assunto, para não dar vazão ao seu mau humor - Mas o que sonhou mesmo?
- Não sei tão exatamente, mas era como se as meninas estivesses em apuros, pedindo socorro. Daí eu acordei. Mas era só pegar no sono e o sonho continuava e mais pedido de ajuda. Ora elas se afogavam, ora estavam numa casa pegando fogo. Depois eram pisoteadas por cavalos, depois cercadas por cobras. E eu acordando, suado, os latidos dos malditos cachorros.
- Então faça o que tem de ser feito, ligue para elas.
- Mas elas não querem saber de mim. Já estão adolescentes e não procuram o pai.
- E você faz pior: um pai que não dá a mínima para as filhas. Ligue homem, ligue!
Não foi preciso ele se mover – o telefone tocou estridente na sala. Eles se entre olharam. Omar saiu da mesa acendendo um cigarro. Encostou-se na pilastra após atender a ligação. Ele não falava, apenas ouvia. A mãe, observando seu rosto, perguntava:
- Quem é? É da parte das meninas, não é? Fala Omar, responde.
Ele acenava, como que pedisse para ela se calar. Em sua cabeça os sonhos voltavam em fleches, indo e vindo, indo e vindo. Falou antes de desligar:
- Estou indo para aí.
A velha não parava de lhe fazer perguntas. Porém Omar permanecia calado, encostado na pilastra, o pé esquerdo apoiado no joelho direito. Olhando para o quintal.
- Você pode me dizer o que aconteceu com as gêmeas? Disse Dona Beata batendo com a xícara três vezes sobre a mesa.
Irritado e suado bastante, falou:
- A mãe delas não acordou, parece que foi o coração. Quando morávamos juntos ela já reclamava das dores, eu dizia para ela ir ao médico, mas ela gritava ferozmente que a culpa era minha. Está aí, feito. E o que eu vou fazer agora? Que diabos eu vou fazer?
- Ai meu Deus! Nossa Senhora do Bom Parto proteja essas meninas. Vá homem, pegue o carro e vá buscar as meninas.
- E fazer o que? Trazer para cá?
- Mas é cada uma que ouço. È claro que vai trazê-las para cá. Ou vai querer enterrá-las com a mãe? Ande Omar, vá pegar o carro. Irei junto contigo.
A ficha parecia não cair. Ele ainda esta a olhar o quintal. A velha se levantou, caminhou até ele, deu-lhe um tabefe no braço e disse:
- Não se preocupe, estou aqui para lhe ajudar.
Omar olhou para a mãe e pela primeira vez em anos abraçou-a. O mundo parecia desmoronar em sua cabeça. Mas de alguma forma o afago da mãe lhe apaziguou a alma.
Não demorou muito estava pronto para sair, quando sua mãe, já pronta disse:
- Omar, vai sozinho, estou tonta, acho que foi pela notícia. Vai e eu fico arrumando o quarto para as gêmeas.
- A senhora está bem mesmo?
- Estou sim Omar, mas ande logo, vá ver as meninas e dar o suporte necessário.
Ele saiu deixando um rastro de cigarro pela casa. Foi até a casa das gêmeas e encontrou tudo pronto, o velório estava todo organizado, tudo feito pela vizinhança, já que a ex-mulher não tinha mais ninguém. Ao contrário do que ele imaginava, as gêmeas correram para seus braços. Omar mal sabia lhe dar com aquela situação, dar colo, proporcionar proteção. Mas algo dentro dele o fazia agir de uma forma que acarinhava as meninas.
Passada a tempestade emocional do velório e enterro, Omar voltou à casa das gêmeas para pegar roupas e o que fosse necessário para a mudança delas. Pôs tudo na caçamba da camionete, fechou a casa, depois teria de voltar ali, decidir o que fazer: se vender ou alugar, enfim organizar a vida das filhas. Isso! Suas filhas. Como era bom pensar nisso, desta forma. Nada de aterrorizante como imaginava. Tudo em paz – ele, as gêmeas e a velha mãe.
Omar parou a caminhonete na porta. Ajudou as meninas a descer. Passavam das oito da noite. Caminhou em direção a porta, enquanto acendia um cigarro, mas achando muito estranho a Dona Beata não vir receber as netas. Entraram em casa, os cães latindo, gansos zoando também. Chamou pela mãe:
- Dona Beata! As meninas estão aqui.
Nenhuma resposta vinha. Só os cães latindo. Omar observou a sala, a cozinha e nenhum sinal da mãe. Foi até o quintal para fazer com que os bichos quietassem. E lá estava Dona Beata, caída no chão, com os animais ao seu redor, como que protegendo. Omar correu, afastou os cães. Sua mãe estava morta há horas. Certamente ela passara mal logo depois que ele saiu de casa. A partir de agora um novo velório, novo enterro, uma nova vida, só ele e as gêmeas.
domingo, 25 de abril de 2010
Ver de longe – Depois de verde o maduro.
sábado, 24 de abril de 2010
Oração ao bom anjo - Incenso de floresta de pinho
O tempo não passa. A cada minuto são trinta segundos, vinte, sei lá, mas não passa como pensamos. Meu anjo o tempo não passa quando estou ao teu lado. Sinto quando partes. Tudo é tão engraçado e cheio de cor ao seu lado. Entendemo-nos, mas não percebes da forma que vejo. Entre nós existe muito mais que o real, que a ilusão, existe um amor puro, universal, solto, leve. Sabe que pode contar comigo sempre, não sabe? Pois bem, sempre que estiver triste, vem me visitar, pois adoro te fazer rir, te escutar, adoro quando olha para mim e afirma que te conheço como mais ninguém, adoro seu jeito manso, às vezes infernal, mas amo todos os teus detalhes. E os nossos encontros desavisados? Nossa! Só o destino mesmo. Mas o mais curioso é que quando te vais, os tons pastel meio que voltam, o tempo passa a correr e não me sinto aproveitar nada, por isso quero que fique mais, que possamos desfrutar deste tempo calmo quando estamos juntos. Entende? Portanto já sabes, nada de pressa quando vieres, apenas vem. E pronto.
Um grande cheiro meu anjo.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Pontos de vista - O seu, o meu e o nosso.
domingo, 18 de abril de 2010
Enigma - Pardal em dia de chuva de verão
Simples quanto à chuva caindo do céu. Fiz uso do mistério para expandir meus horizontes e aqui estou – leve como bruma, forte como raiz de uma grande arvore e supremo como um sorriso de criança. Desfiz-me das roupas do passado, limpei as gavetas da consciência, desnudei-me de tudo que um dia se instaurou a base de pré-conceitos. O fato de ter sido ingênuo tantas vezes me fez enxergar que confiar é sempre importante, mas não quer dizer que deixarei a raposa presa dentro do galinheiro. Não digo em tom de lamentação, porque outra coisa que aprendi muito cedo e a duras quedas, é que lamúria não vence obstáculos, mas sei também que se fazer de coitado ajuda a conseguir colo, porém o exagero pode fazer com que nos achem chatos e pessimistas. Alguns que me olham e viram o rosto ao meu passar, esses, bem esses, sempre torceram contra, mas a esses, bem a esses, rezo mais. Se por um lado estou cansado de andar e paro diante do espelho, percebo a beleza que existe em mim, porque isso, além de ser natural por eu me gostar tanto, ajuda-me a ter mais forças para encarar o mundo de forma clara e destemida. Um tempo estive dentro de um turbilhão de emoções, meus sentimentos dançavam loucos um folk, um tango ou coisa do tipo, e saiam faíscas, parecia querer incendiar. Depois veio o período vulcão expelindo cinzas, até que, de alguma forma não mágica, caí em si, percebi que estava na bendita hora de fazer a faxina, arrumar a casa, lavar os pratos e xícaras sujos de semanas e semanas amontoados sobre a pia. Assim, cheguei onde estou, exatamente entre o coeso e a coerência, por mais que alguns predicados ainda caibam no contexto da loucura que sou, porque afinal de contas, em cada um de nós, convive entre guerras e paz um louco e um sábio. Na atual conjuntura, o louco tomou alguns remedinhos para dormir e o sábio reina constante. Mas até quando não sei.
sábado, 17 de abril de 2010
Memória
Memória da pele, do gosto, do cheiro, do gesto. Não há vento sem arrepio, sem expressão. Passada aquela impressão original, ficou a saudade de teu tato, mesmo sorvido por toda uma noite, neste dia que se instaura, a vontade de te ter mais me assola, deixa-me de água na boca. Vem caminhar por esse espaço que é teu, embutir tuas marcas, tua história, tua memória. Faz teu suor lavar minha pele e impregnar teu cheiro, teu gosto. Dos beijos sinto falta, sensação de vazio. Volta, regressa a tua boca a minha, tuas mãos as minhas costas, enche-me de ti, completa-me. Memória do ato, do teu bailar sobre minha cama, de teus pés sobre a minha terra, do teu sentar sobre o corso do amar. Memória de ti, de mim, dos nossos devaneios, de nossa paixão avassaladora. Memória do amor.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Do grande amor – Aos amigos plenos.
Para se ler ouvindo Embebado na voz de Gal costa.
Hoje queria um chapéu que me tampasse o rosto. Não, não. Isso eu não queria, porque na verdade, deixei de lado a vergonha a partir do momento que comecei a pensar em escrever. Podia começar pelo fato, pelo obvio, mas ao que me parece um tanto previsível, prefiro falar de pipas. Sim, aquelas em que passávamos manhãs ou tardes inteiras usando papel de seda colorido, taliscas de palhas de coqueiro e cola branca. Depois, presas há uma boa linha, às vezes, temperadas (não era proibido na época). Acrescenta-se ainda uma bela rabada para poder equilibrar o vôo macio pelo azul de um céu do interior. Era uma farra, uma algazarra só, todos ali, doidos para cortar a linha do oponente que era amigo, e, depois aquela correria toda, porque alguém perdeu ‘a guerra’. Bons e preciosos tempos. Mas a grande metáfora, ou talvez não seja uma, é que entre o preparar e o empinar uma pipa, existia uma confidência, um consentimento, uma ajuda mútua de ter entre os seus os mais belos exemplares de planadores no céu. Mesmo que depois houvesse a dita ‘guerra’, mas sempre fomos e sempre seremos cúmplices, amigos, que de alguma forma, estávamos juntos para vermo-nos voar, coloridos, ferozes. O tempo foi passando e já não estamos em céu azul e tranquilo do interior – apesar (graças a Deus) de continuarmos amigos, fiéis, mesmo que distantes, mesmo que nem sempre lado a lado num conclave de lendários empinadores de pipa. Surgiram novas personas, novos colaboradores, novos ouvidos para desabafos, novos pioneiros em dividir descobertas de tantas-coisas-juntos. Agora são outros tempos, as afinidades são outras, buscamos conforto nas relações, não nos deixamos levar por qualquer papo (claro que erramos vez ou outra, sempre, nas escolhas), nem muito menos nos prendemos à superficialidade das coisas, das relações. Mas ao falar de amor, hoje, prefiro referir-me aos meus amigos. Não que não exista espaço para um amor carnal, de casamento, ou coisa e tal, mas é que de alguma forma, neste exato momento de minha vida, quero externar mais os meus sentimentos para com os meus amigos. Afinal, na banalização das relações, acabamos nos esquecendo de dizer: Obrigado meu amigo! Como você é importante em minha vida! Desculpe por lhe ‘encher o saco’! Ou mesmo, simples e verdadeiramente: Amo você! Mas não pense que isso deve ocorrer da mesma forma que muitas vezes estamos utilizando em nossas relações de amor/paixão – banal, sem verdade, sem encher os olhos de lágrimas, sem soar humano e verdadeiro mesmo. Pelo contrário, da mesma forma que creio que devemos dizer que amamos, devemos transbordar isso nos atos. Porque afinal, o amar não está contido somente no ‘eu te amo’. Assim, neste dia que acabei me lembrando de pipas soltas num céu qualquer, que possamos ser livres em declarar o amor aos amigos, aqueles dos quais não conseguiríamos viver sem.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Leve surto - Aqui do lado de fora é realidade?
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Assassinos S/A vol. 2 - O vídeo
Aspas, parênteses e reticências
Parte de mim - o que vira escrita...
-
▼
2010
(100)
-
▼
abril
(11)
- Três anos de Zingador.
- O fim e o começo
- Ver de longe – Depois de verde o maduro.
- Oração ao bom anjo - Incenso de floresta de pinho
- Pontos de vista - O seu, o meu e o nosso.
- Enigma - Pardal em dia de chuva de verão
- Memória
- Do grande amor – Aos amigos plenos.
- Leve surto - Aqui do lado de fora é realidade?
- Assassinos S/A vol. 2 - O vídeo
- Aspas, parênteses e reticências
-
▼
abril
(11)