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o óbvio. Parece loucura, às vezes aparenta tormenta, noutras pura leviandade.
Parti porque queria mais, queria mundo, cheiro de novo, aquilo tudo me
apavorava, a sensação de estar presa, de não poder voar e só cantar, cantar,
cantar. O palco. A vida pedia mais, meu intimo pedia muito mais. Eram enormes
minhas asas para aquele cubículo que me continha. Abriram as cortinas e fui
grande. Palmas para a artista. Sensação de boca seca, choro. Contenha-se! Era
voz que vinha e pretendia me segurar, mas não, não era mais possível o
controle. E como feixe de luz, lembrei-me da primeira vez que me visitou no camarim,
as rosas vermelhas, o bilhete ousado, o beijo roubado que eu deixei levar. E
hoje não tinha mais você, não tinha mais rosas, bilhetes e beijos roubados.
Porque a prisão? Porque essa mania de querer me podar as penas, as plumas e
paetês? Nasci pra ecoar o canto, sabiá de grota que morre quando presa. “Eu sei que eu tenho um jeito meio estúpido de ser e de dizer, coisas
que podem magoar e te ofender, mas cada um tem o seu jeito...”. Abri o espetáculo, cantarei como nunca, como se
fosse a ultima vez, como se não houvesse amanhã. E beberei todo o conhaque possível.
Dramática? Não. Verdadeira, humana. Sinto dor. Partir é sempre mais fácil, mas
ser deixada, ser cuspida pra fora de tudo, da vida, enquanto tanto tempo se
passou e você me amordaçando. Não. Definitivamente não. “Bom dia tristeza, que tarde tristeza, você veio hoje me ver, já estava
ficando até meio triste de estar tanto tempo longe de você, se chegue tristeza,
se sente comigo, aqui nessa mesa de bar, beba do meu copo, me dê o seu ombro,
que é pra eu chorar...”.
Vou seguindo, vou andando, tropeços irão existir, sempre. O batom carmim? Não o
uso mais. Nunca gostei dele, usava pra satisfazer seu fetiche, seu desejo
impróprio e repugnante. Não penses que estar em frente ao palco com outra vai
me fazer descer do salto. Não. Definitivamente não. Sempre estive acima, sempre
fui eu a loba dessa estória e você o bichinho fraco. Parece que foi ontem. As
joias, as canções, a casa no litoral, os amigos reunidos e sempre dizendo que
fomos feito um para o outro. “Eu sei e você sabe
já que a vida quis assim, que nada nesse mundo levará você de mim, eu sei e
você sabe a distancia não existe e todo grande amor só é bem grande se for
triste...”. O fim. Não sei, já que tudo sempre é começo. O
tempo que dirá. Mas aquela mulher com quem você se deitou e foi feliz, essa mulher,
está livre, está partindo em voo pleno. “Momentos são iguais
aqueles em que eu te amei, palavras são iguais àquelas que eu te dediquei, eu
escrevi na fria areia um nome para amar, o mar chegou, tudo apagou...”. Fecham as cortinas, o pranto, os aplausos, a
vontade de desabar, ovacionada. Reabrem. Flores para a artista e gritam: Diva!
Diva! Curvar o corpo ao publico, jamais para você novamente. É o fim do
espetáculo, é o fim. O povo pede um bis: “Minha vida era um
palco iluminado, eu vivia vestida de dourado, palhaço das perdidas ilusões...”.
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
domingo, 7 de abril de 2013
Autoideiacompreensiva
De alguma forma ou de forma
nenhuma o que passou passou. Velhas expressões como ‘não adianta chorar pelo
leite derramado’ em muito servem para não dizer nada ou dizer tudo a respeito
disso tudo em que se vive. Cadeiras vazias em mesas vazias com copos vazios. Na
chuva podemos chorar com maior tranquilidade. O jazz toca freneticamente em
minha cabeça em tudo que faço por onde ando no que vejo ao escovar os dentes
pentear os cabelos há jazz. Cansei de passar em frente à loja de noivas, a
alvura dos vestidos me cansa. Hercília não vem mais fazer faxinas, Hercília
gostava de cantar enquanto engomava as roupas e usava anil para cintilar o
branco. Algumas coisas vêm ganhando corpo para outras uso placebos – na prática
funcionam muito bem. Sempre tive vontade de andar de trem. A sensação genuína de
sempre estar nos trilhos me conforta. Doses homeopáticas de autocrítica não
fazem efeito, na verdade trazem um efeito colateral nocivo, um não, vários.
Tenho vontade de voltar. Não no sentido de regredir ou de escapar como ladrão
pela janela por onde entrou. Mas voltar. Simples. Puro. Porque existe o lugar
sagrado do quero mais. O lugar não, os lugares. O jazz que toca nesses lugares
é muito mais intenso e o daqui de dentro pouco se ouve. Praticidade é um
alimento essencial. Lembro-me de quando me chamavam de bicho grilo e eu dizia
que jamais ia perder isso. E parece que o poema cai como luva que se tem de
usar para lavar os pratos – ‘Outrora eu era daqui e hoje regresso no estrangeiro,
forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim... ’. E não cabido dentro de todos
os lugares que estive e estou, reparto-me como colar de pérolas que quebrou e
cada bolinha saiu por aí, algumas entraram pelo buraco do assoalho, mas muito
mais delas correu por ruas, praças, avenidas, estradas e depois se encontrar no
tudo ou nada que está por aí.
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Cuidado!! Frágil!!
Sinto-me como se todos achassem
que sou uma bomba – favor manusear com cuidado. Tenho na sala um abajur em
forma de disco voador. Tenho a sensação de que ele voa perdido em minha sala,
procurando o caminho de volta, para depois me levar daqui. Alguns anos se
passaram rasteiros e vejo o espelho me afrontar, mas de uma forma tão ousada,
como uma serpente aguardando a hora certa e a qualquer momento o bote,
certeiro, que me fará sufocar com o veneno mais imoral que existe. Olho para
tudo com uma precisão de atirador, aqui nada muda, as flores só retiro quando
estão totalmente mortas. Penso em mudar as cores da parede, mas o que precisa
realmente ser alterado está tão incrustado. É como um peso que é impossível de
levantar. Tem dias que os equinos galopeiam em meu telhado, engraçado como as
asas surgem e desaparecem – enquanto alados, acompanham em um teto aparente nos
passos que dou fora de casa, quando no chão, eles brincam de correr em
liberdade sobre o barro queimado de minhas telhas. Faz muito que tento
adestrá-los, mas são selvagens por demais e não consigo selar. Canto aboios
tristonhos e nada. Canto aboios felizes e nada. Em silêncio e nada. E de tanto
nadar cheguei a lugares incrivelmente distantes, onde nem mesmo o disco voador
me levou. As vezes cruzo olhares com pessoas que são afins, penso que me
reconhecem, que sabem do meu óvni disfarçado de abajur, mas creio que tem medo
de se declararem e eu também. Em dias de chuva, pássaros invadem em sons minha
janela, cantam tão loucamente felizes e me instauram o sentimento tão jocoso.
Em dias de chuva, sinto que a vontade de encontrar outros extraterrestres se
fortalece, é como se as gotas que caem interligasse a energia cósmica que nos
une. Mas tem muito de planeta Terra que nos prende, gravidade, medo, receio,
angustias. Sinto que preciso partir ou me tornarei tão humano quanto um humano.
Os cavalos chegaram, preciso por a sela ou partir montado em pelo.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
Tatuagem
Vasto espaço, largo descampado,
praieira planície sob meus pés, correndo, andando, parado, barcos, balões,
caminhões, pássaros sobrevoando minha cabeça, de tanto te procurar me perdi,
esquinas, vielas, avenidas de um coração tão pleno, desatino cristalino em dias
de sol, quando chove incansável busca não se finda, parte inteira do todo não
se pode esquecer. Meu amor estendido nos diversos varais, quintais, sentado às
portas das casas, passantes olham, não vem ou não entendem, seguem. Estive nos
faróis a fim de te ajudar, deixei rastros de pão, perfume, pedras. Tantas
fogueiras e sinais de fumaça, e aqui dentro tudo queima. L'amour est l'amour et
tout s'installe. Acredito demais, penso demais, vivo demais e nada será capaz
de me arrancar isso. Posso tropeçar, espinhos rasgar minha pele, matas densas
dificultarem que eu entre. Logo, sempre estabelecido, estarei de pé, guerreiro
soberano do sentimento, lanças feitas de poesia, cordas trabalhadas em canção,
espada forjada em perfume e sorrisos, escudo talhado em paixão, armadura de
corações que amam e na alma certeza do ser.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
esmiuçado
Todo
pedacinho de olhar que vem de lá pra cá me deixa ouriçado, luzes amarelas
emaranhadas no arame esticado sob o céu de algum lugar, qualquer, esvoaçando
cortinas, janelas abertas esperando entrar um pouquinho de perfume para inalar
e refestelar, pensar-horas-vagas-dedicadas, aquele sentimento, não esse que
você pensa, apenas esse que vive, guardado. Um dedilhar de notas canção
desenfreada de falar coisa tanta, perder-se no encontrar, mão que toca mão,
noite dentro adendo do dia que passou calminho, seu lado, meu lado, brisa fora,
beijo dentro, cálice de tinto seco, boca cor de vinho, mais beijinho
bebericando aqui cutucando acolá, simples contexto acompanhado.
Não, não sei bem, mas é nela que me perco me
acho, ela, toda doce, melando, melada, ah! é nela que me perco.
Sorver o mel que a noite traz... E sou urso,
abelha, gente querendo, buscando o mel que alimenta, lambuza, atordoa,
apaixona.
Meu nome, Noite, escura como a pele da pantera
negra, ofusca caçador, engana traiçoeiro, faz sorrir galanteador. Minha cor,
difere dos demais, única, brilha com a lua, resplandece com o sol. Minha boca
com mel se lambuza e com ele se derrete. Ah! a Noite!!
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