domingo, 7 de abril de 2013

Autoideiacompreensiva


De alguma forma ou de forma nenhuma o que passou passou. Velhas expressões como ‘não adianta chorar pelo leite derramado’ em muito servem para não dizer nada ou dizer tudo a respeito disso tudo em que se vive. Cadeiras vazias em mesas vazias com copos vazios. Na chuva podemos chorar com maior tranquilidade. O jazz toca freneticamente em minha cabeça em tudo que faço por onde ando no que vejo ao escovar os dentes pentear os cabelos há jazz. Cansei de passar em frente à loja de noivas, a alvura dos vestidos me cansa. Hercília não vem mais fazer faxinas, Hercília gostava de cantar enquanto engomava as roupas e usava anil para cintilar o branco. Algumas coisas vêm ganhando corpo para outras uso placebos – na prática funcionam muito bem. Sempre tive vontade de andar de trem. A sensação genuína de sempre estar nos trilhos me conforta. Doses homeopáticas de autocrítica não fazem efeito, na verdade trazem um efeito colateral nocivo, um não, vários. Tenho vontade de voltar. Não no sentido de regredir ou de escapar como ladrão pela janela por onde entrou. Mas voltar. Simples. Puro. Porque existe o lugar sagrado do quero mais. O lugar não, os lugares. O jazz que toca nesses lugares é muito mais intenso e o daqui de dentro pouco se ouve. Praticidade é um alimento essencial. Lembro-me de quando me chamavam de bicho grilo e eu dizia que jamais ia perder isso. E parece que o poema cai como luva que se tem de usar para lavar os pratos – ‘Outrora eu era daqui e hoje regresso no estrangeiro, forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim... ’. E não cabido dentro de todos os lugares que estive e estou, reparto-me como colar de pérolas que quebrou e cada bolinha saiu por aí, algumas entraram pelo buraco do assoalho, mas muito mais delas correu por ruas, praças, avenidas, estradas e depois se encontrar no tudo ou nada que está por aí.  

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Cuidado!! Frágil!!


Sinto-me como se todos achassem que sou uma bomba – favor manusear com cuidado. Tenho na sala um abajur em forma de disco voador. Tenho a sensação de que ele voa perdido em minha sala, procurando o caminho de volta, para depois me levar daqui. Alguns anos se passaram rasteiros e vejo o espelho me afrontar, mas de uma forma tão ousada, como uma serpente aguardando a hora certa e a qualquer momento o bote, certeiro, que me fará sufocar com o veneno mais imoral que existe. Olho para tudo com uma precisão de atirador, aqui nada muda, as flores só retiro quando estão totalmente mortas. Penso em mudar as cores da parede, mas o que precisa realmente ser alterado está tão incrustado. É como um peso que é impossível de levantar. Tem dias que os equinos galopeiam em meu telhado, engraçado como as asas surgem e desaparecem – enquanto alados, acompanham em um teto aparente nos passos que dou fora de casa, quando no chão, eles brincam de correr em liberdade sobre o barro queimado de minhas telhas. Faz muito que tento adestrá-los, mas são selvagens por demais e não consigo selar. Canto aboios tristonhos e nada. Canto aboios felizes e nada. Em silêncio e nada. E de tanto nadar cheguei a lugares incrivelmente distantes, onde nem mesmo o disco voador me levou. As vezes cruzo olhares com pessoas que são afins, penso que me reconhecem, que sabem do meu óvni disfarçado de abajur, mas creio que tem medo de se declararem e eu também. Em dias de chuva, pássaros invadem em sons minha janela, cantam tão loucamente felizes e me instauram o sentimento tão jocoso. Em dias de chuva, sinto que a vontade de encontrar outros extraterrestres se fortalece, é como se as gotas que caem interligasse a energia cósmica que nos une. Mas tem muito de planeta Terra que nos prende, gravidade, medo, receio, angustias. Sinto que preciso partir ou me tornarei tão humano quanto um humano. Os cavalos chegaram, preciso por a sela ou partir montado em pelo. 

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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