quarta-feira, 30 de junho de 2010

Bucólico






Bem que o momento poderia ter durado mais um tanto. Enquanto ouvia o vento balançar as árvores e os passarinhos cantarem em algazarra o pensamento voava em direção ao sol que não se via. Era a sensação de que me tiraram do chão, que meus pés não mais podiam tocar a terra, mas não existia medo de cair. Faz tempo que não me sentia assim leve pluma solta ao veto rodopiando feliz. Tudo bem que existe um medo quase absoluto, mas é o mesmo medo que me faz ir além. Bem que poderia ter durando mais um tanto. Que eu não me perdesse tanto, que não podasse tanto os sentimentos. Que eu tivesse colocado pra fora tudo o que sentia. Até que permiti que escorresse algo, mas creio que ainda não foi suficiente para fazer entender. Entendo. Não entendo. Duas faces de uma mesma moeda que devora tudo que passa dentro de minha mente. Onde tudo isso vai parar, o que sei, e que é muito pouco, é que não vai passar como chuva fina de inverno, nem vai secar depois que o sol abrir. Porque de alguma forma a certeza que tenho é que é amor. E roça plantada esperando colheita. É canto triste de pássaro solto, mas solitário.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Florais psicodélicos.

O orvalho sal que me devora.

Quando em brisa me dissolvo.

Lágrimas corridas, saltitantes.

O não que assola.

O não ver futuro.

O marasmo presente.

À deriva, onde mais se quer afundar.

Crescente. Expandindo pungente. Aquele medo original. Não querendo perder-se, mas indo de encontro ao caos interior. Porquês natos. Unindo-se ao gosto puro, desejo, fato, dilatando-se em solvência, em se solver, caindo pelos lados, explodindo pelos ares, ardência, exaurindo palavras, pele em arrepio, vento louco, tudo pouco, febre vespertina, não, não, não, delírio, espasmos, o ver-se de perto, o correr soberbo, o lindo, o leito, o pleito, peito, depois de boca, beijos, barriga, novos arrepios, o queimar, arfar, o salivar, o desatino, o prazer imediato duradouro instantâneo. O amor insano, a paixão avassaladora, o ermo, a tempestade, as flores vertiginosas crescentes. Entre azulejos existe um cimento leve, forte suficiente em prender, firmar. Os lapsos de memória, a nostalgia que me revela muito mais que florais, que em líquido leve fluido tornam-se cura, tomam-se aos braços e correm disparados ao encontro de um sol noturno, divagante. Penso que pode ser diferente, que algo misterioso acontecerá que ponha outros pensamentos por aí, que paire outros cheiros, outros ventos que não esses que só levam, distanciam. Ofegante depois da caminhada pardo sonho parado nem imaginava que ao meu lado andava essa realização e que eu faca cega não via, não sentia, não me permitia. Sem tempo hábil, cheio de vícios, um trono opaco em que nada de reis e rainhas sentam-se, somente bobos chorando perdas perdidas sem lutas. Canto escuro com cortinas salmão e jarros de plantas verdes artificiais. E do vidro sujo se vê um céu calmo, capaz de ensurdecer qualquer um que se encontre em pleno estado estágio que nem esse. Vai-se então quadrado floral flor fina ramificada crescente subindo pelo teto e emaranhando tudo. Vai-se enfim.

terça-feira, 22 de junho de 2010

C’est pour vous, pour rien. O lago. O cisne. Tempos em tempos.

Vamos ao lago agora. Preciso de um pouco de paz. Aquela água limpa, o sol intenso, o verde ao redor. Preciso mesmo. J’habite nesta cidade há tanto tempo que esqueci como é estar no lago. Um, deux, trois, quatre. Dannée en année. O tempo vai passando e esquecemos-nos de tantas coisas, mas do lago, como poderia tê-lo esquecido? Quando peguei uma caixa com velhas fotografias, mexendo, relembrando o passado, encontrei aquela foto de quando estive no lago pela última vez. Souvenir. Da mesma forma que não posso esquecer meu nome, jamais poderia esquecer o lago, das ondas que as pequenas pedras produziam quando atiradas ao meio. Je m’appelle Zingador. O lago. Mas de alguma forma entendo o fato de ter permitido o esquecimento pairar sobre mim. Ao longo desses quatro anos eu sublimei muitas coisas, eu sublimei a mim mesmo. Mas decidi voltar ao lago, voltar ao centro de meus pensamentos, tomar ás rédeas do meu cavalo. Être d’accord avec. Sem muitos rodeios. O lago. Somente ir ao lago. Lá saberei o que fazer. Fato. Tout compte fait.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sobre, entre, por, onde, desce, corre - um certo olhar.

Certa curiosidade em saber por onde olhas e para onde. Talvez eu não tenha o direito de buscar, de correr atrás de teus sonhos, de teus passos, mas eu queria, eu quero, e a passividade da vida não combina com meu jeito de ser, de encarar os fatos, o mundo, as pessoas. Não que eu queria falar de coisa alguma muito mais para o fundo, profundo ou mais substancial, porque no fundo apenas busco dizer alguma coisa, apenas quero falar de olhar, de ver, de não deixar passar as coisas de forma despercebida. Creio que seja isso, creio que não seja nada tão especial, porque simplicidade é só simplicidade e dentro disso vou seguindo.

.
.


O feio. A parte esquecida, àquela que destoa que não voa dentro do pensamento por não ser belo. Mas sabe de uma coisa, felicidade está no feio. Amor está no feio e acabei me lembrando de uma frase que um amigo sempre citava:

“Quem ama o feio bonito lhe parece.” E agora isso tudo possa fazer um pouco mais de sentido, porque assim como em algum momento disse, às vezes faz-se necessário entender que o espinho é tão belo e importante quanto a mais perfeita rosa e que seja para reforçar a beleza da rosa ou mesmo a sua própria beleza de proteger a frágil flor. Assim vi, assim vejo, assim penso.

.

.



Nada de tempo corroendo, apenas tempo levando, lavando, tempo perfeito, cicatrizante, bajulador, tempo de branco estendido nos varais sobre céu azul e sol forte. Tempo de ficar junto, de colher fruta madura, de... Sabia que o tempo não é o que parece. Sério! Ele vem de vez em quando me dizer algumas coisas e claro, como não sou besta, eu corro, eu louco, eu danço, eu vivo, porque sábio é o tempo, mas mais sábio quem ouve o tempo. Neste exato momento/tempo, deixo-me leve, porque o tempo leva e eu vou levando.

















Coisas absurdas acontecem quando estamos presos há um ponto. Parece que tudo desaba que o mundo não nos quer mais dentro dele, que se existia como todos os problemas se encontrarem, o momento era esse e estamos no meio de uma encruzilhada fedida de despachos e oferendas. Mas sabe o que é isso? A vista de um ponto. É o fato de estarmos com o foco somente sobre o problema e a necessidade de nos fazermos de coitados é tão grande que esquecemos que somos grandes, fortes e que a solução está ao alcance das mãos. É, é assim que as coisas acontecem, é assim. Porque mesmo que eu escrevi isso?









Vou contar uma coisa. Não, vou contar duas. Melhor não. Não, vou contar sim. Mas porque deveria contar? Que importa, a quem importa? Ontem eu disse não a mim mesmo. Engraçado isso. Porque é difícil nos dizermos não. Mas um NÃO grande, absoluto, tão certo de si que não temos coragem de questionar. Sabe?




O que é tudo isso que assusta que não parece ser que parece mancha, borrão, que nos indaga e nos arrebata? Coador de pano cheio de borra de café, boca escurecida de muito cigarro e os pensamentos fervilhando a cabeça. Não. Não. Passou o tempo, isso é passado, isso... Hoje é dia de boa música, de festa, de gozo, de estar bem consigo. Hoje é céu de paixão, hoje é um dia que não acaba, porque hoje é sempre, e aquilo tudo que só gastava tempo passou. Agora, que é hoje, sempre, é certeza, é fato, mãos dadas, é oração. Hoje é dia de ver tudo, de todas as formas, ver e sentir que não somos brinquedinhos e pedrinhas, somos gente, somos flores ou quem sabe espinhos, mas somos, porque o importante, o mais importante é que sabemos o quanto somos essenciais, verdadeiros, e que, e que, e que, ah! Que somos humanos e precisamos ser mais humanos, mas detentores de nossas vidas, de nossos anseios, de nossos sentimentos, que fazemos questão da verdade, e da mais pura verdade, mesmo que ela possa doer, mas ela se faz necessária, sempre.

Hoje, hoje, sempre, hoje, saberemos dizer não a nós mesmos, absolutamente certos de que o fazemos para o nosso bem e claro, teremos de dizer não há algumas pessoas, porque também é importante. Mas, porém, todavia, entretanto, que saibamos, hoje, hoje, sempre, dizer SIM a vida, ao amor, a consciência limpa. Dizer sim a amizade, ao beijo, ao vento, a chuva, dizer sim a nós mesmos, porque no fundo, no fundo, estamos sempre deixando de nos fazer algo. Vamos viver. Vamos encontrar mais a poesia, a beleza, a imagem, ouvir mais o tempo. Tempo. O nosso tempo: hoje.




Um desarrumado jeito de ver as coisas e as imagens de Saulo Brandão. Apreciem seu espaço, suas fotos, seus textos. Um grande amigo e parceiro de projetos.

Todas as fotos foram retiradas de seu blog, com a devida autorização.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Basta. Fim de papo. Verdades

Percebi meu bem.
Nem sempre é preciso dizer algo.
Caiu certo como um raio esse silêncio.
Mas te pergunto mesmo sem saber as respostas:
Era preciso se calar?
Era preciso continuar fugindo?
E ainda assim ouso dar-te a resposta:
Covarde!
Perdeste algo bom, algo verdadeiro.
Porque se me coloquei desta forma,
é porque eu saltei todo orgulho que um dia ousou existir dentro de mim,
porque aquela máxima que te citei, ela é verdadeira, mas eu tinha medo de continuar sendo-a.
Então ficas com teu silêncio, ele nada mais é que o teu desejo de continuar, mas onde a coragem lhe falta.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Branco, preto e rosa

Na sala, na cozinha, no quarto, em qualquer lugar em que eu esteja nessa bendita casa, pairo os pensamentos em você, no que realizamos quando estivemos juntos e no que pode acontecer. Êxtase, beijos, abraços, paixão, tesão, paixão, sussurros, toques, afagos, suspiros, corpo, alma. Tão presentes estivemos e os próprios presentes fomos um para o outro. Ao tudo em nada, pouco tudo, tempo e espaço, na vaidade ou loucura, em sabor de de quase pouco tempo juntos, tanto tempo distante, e mesmo assim eu passei, eu consegui, deixei-me te amar. E assim, conquistando você - declarando-me, mostrando-me, sendo-me, apaixonando-me, amando-te, indo, louco por cada segundo ao seu lado, em qualquer lugar onde pude chegar fisicamente. E quando não, deixei meus pensamentos fluírem e minh'alma viajar ao teu encontro, para matar essa saudade que as vezes predomina. E sempre procuro re-lembrar, pois de passado também vive o homem e eu não menos distante, busco-te em mim, no meu arquivo mental e carnal, e completo ouvindo sua voz por quantas vezes for necessário. Sempre.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Atos e desleixos.

Os palhaços me olham esmagadoramente. Vários penduricalhos fluorescentes. A frase da Maysa a minha frente: "Eu odeio as pessoas que entram num bar e não bebem. Eu odeio testemunhas. Um bar é um templo, entrou, tem que beber." E olho para a foto dela e olho para minha coca-cola, e penso: porque não bebo? E fico sem respostas ouvindo a trilha sonora do filme Amelie Poulain.

domingo, 6 de junho de 2010

Partes do todo. Copo quase cheio ou quase vazio? Olhares desnudos

Pego um pedaço qualquer de mim e atiro ao vento.

Era uma simples parte que não se via tamanho.

Cabia em si, mas nada concreto seria capaz de preencher.

O bendito vento, sabido, espalhou por aí,

Mesmo sabendo não poder ser dividida.

O tempo que sempre anda junto tratou de ajudar.

Em determinado ponto fez um encontro acontecer.

Era um simples encontro.

Mas ali se podia ver além das aparências.

Não houve medo, receio ou coisa qualquer do tipo.

Apenas se viu o todo.

Quando duas partes se encontram por aí é bonito de se ver.

O vento ria de prazer.

O tempo gargalhava de felicidade.

E a minha parte, já com outra parte, já não cabia mais em si.

Era de tamanha amplidão que explodia.

A outra parte também não se continha.

Éramos partes comuns, em prantos de alegria.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Jogo de empurra-empurra. Película em fim de tarde chuvosa.

Faz parte de um jogo. Pregador de roupas, varal, sol e claro, roupas estendidas, esperando ser secadas. Mas o que muda nesse jogo é que não há sol, apenas essa maresia que consome os eletrodomésticos e refrigera minha alma e muitas, mas muitas nuvens cor de chumbo. Poderia falar de desejo, mas o que me custa é demasiadamente pesado, forte. Por isso, venho caminhando numa rua de luzes amarelas em postes de madeira. Enquadramento da câmera nos meus passos descompromissados, a trilha sonora faz um ziguezague com o som dos meus sapatos num cimento cru. É fim de tarde início de noite, o litoral iluminado por esses postes. A música que volta e meia toca é In my place do Coldplay. Poderia falar de amor, mas isso me custa muito mais que o desejo e seguir é preciso. Começa a chover. Continuo o meu andar calmo, despretensioso e perdido enquanto a fina chuva caía. Mas nesse jogo, lembra-se é uma arma mortal e necessária. Saio correndo pela rua, encharcando-me de tudo, existem roupas no varal, é isso, existem coisas que não devem ser molhadas, não quero um re-trabalho. Do terraço onde estão estiradas as amarguras, presas à fina corda, vejo um mar revolto, vejo meus pensamentos nele, sinto que está arrebentando na praia. Poderia falar de sofrimento, mas isso muito me custa também, e tudo é uma questão de escolha. E nesse momento, sem roupas estendidas, sem nada para me preocupar a mais do que em minha vida, então ponho para fora lágrimas que se misturam a chuva. Deixo-me levar, lavar, porque isso tudo irá acabar, isso tudo que hoje me sorve, amanhã, com sol, será apenas evaporação. Poderia continuar a pensar, mas isso, justamente isso, é o que não quero, mas como parar um jogo ininterrupto? Como? Tudo continua, à noite correndo, a trilha sonora, o sopro marítimo, eu.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Ela chegou, sorrateira e certa de si, a tempestade. Sobre minha cabeça. O guarda-chuva.

Chegou. Chegou e pronto. Estava demorando. Há um tempo que a previsão dizia que estava por chegar uma tempestade forte. Inicialmente veio como uma chuva de verão, mas os ventos foram aumentando, aumentando e pronto: Chegou. Não queria chuva, não gosto de chuva. Mas que posso fazer agora que meu coração anda mais apertado que tudo? Tive de fechar as janelas e o ar aqui dentro parece pesado. Tudo na verdade está acima do peso e eu não pareço poder suportar. Há quem recorrer? Logo eu? Eu que estou sempre ao alcance de todos e agora, a quem peço colo? Porque sou quem vem caindo como tempestade, com ventos forte que derrubam tudo que há nas paredes, eu quem dissolvo, eu quem não consigo mais dizer muitas palavras, porque as águas caem desesperadamente. Aonde ir? Com quem falar? Que coisa poderia me ajudar a suportar essa enchente, esse deságue todo? Socorro! Help! SOS. Preciso de um colo para simplesmente deitar minha cabeça, e chorar, chorar, chorar e não dizer nada, porque nem mesmo eu, logo eu, não sei bem o que se passa, apenas quero um colo. Por favor, alguém tira de mim esse desgosto amargo, azedo, essa vontade enorme de se ir, alguém, por favor, não me deixe só nesse momento, porque a solidão só aumenta com essa chuva que cai lá fora, aqui dentro e eu me afogando, sem poder emergir. Por favor. Por quê? Porque Barbra Streisand me faz chorar mais ainda, porque choro e cigarros não combinam, porque isso agora que tudo ia tão bem? Por quê? Porque assisti a aquele filme? Transbordando assim, sozinho, sem sono, arrepios de baixo até em cima, lembranças, passado ativo, presente dolorido, futuro, ah esse futuro que me deixa mais amedrontado. Por quê? Porque o telefone não toca, porque não existem respostas para minhas mensagens envidas se foram recebidas? Por quê? Procurei um analista fumante, mas o seu ego era tão aguçado que me deixou desolado e logo agora que eu precisava tanto dele, da sua forma calada de ser e de me deixar chorar. E de também me indagar coisas que me deixam mais confuso e me fazer chorar mais ainda e isso de alguma forma iria me encharcar muito por fora, mas iria me secar um tanto por dentro e isso também é preciso. Mas se o fato de me encontrar assim tão frágil é porque preciso entender que não sou realmente tão forte como imagino, como imaginam, como gostariam que eu fosse, como gostaria que fosse, como... E se amanhã eu acordar pior que hoje? E se... Ah! A merda com o que pensam, porque nesse exato momento não há ninguém que me dê colo, então ninguém tem o direito de me cobrar nada. É isso. Mas essa chuva não passa e eu quem sou o guarda-chuva, eu quem me molho mais em vez de estar protegido. Vou me despir de tudo e vou tomar correr por aí, sim, isso, louco, correndo pela tempestade, melhor, sendo ela, em vez de querer impedir seu cair.

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

Contador de visitas

Contador de visitas