terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Passagens translúcidas. (Descarado seu.)



Porque viver assim, tão louco e tão são, cheio de vida, cheio de qualquer coisa e tudo, é o simples e complexo dom de enfrentar os dias, fazendo das horas amigas inseparáveis e do passado um livro cheio de presente escrito. Porque amar é amar e eu sou só sentimento dentro desta razão toda. Era parte, era chuva, sol e horizonte descampado. Era todo, era neve, lua e mansidão sem tamanho. Era amor, era fogo, estrelas e sussurros no paraíso. Era verde, era tempo certo, despertar e se aninhar para sempre.
Dia de chuva numa casa qualquer, num fim de tarde, inicio de noite, um cobertor para dois, quatro pernas, quatro braços, trilhões de mãos, fim de noite, inicio da madrugada, o universo inteiro conspirando, o céu inteiro respingando, muito movimento no avançar do novo dia.

sábado, 12 de novembro de 2011

Intervalo – Tesoura, estado e concerto para piano.


Correu para o abraço perdido há anos, percebeu que sua única chance passava ali, estava ali, vivia ali e por um instante que fosse, qualquer, o abraço poderia sair de seu alcance.
Pôs todas as plantas ao sol. O astro não surgia assim há semanas, as plantas estavam molhadas demais, por isso as guardou, mas agora era a hora, o dia, o sol.
Madagascar é tudo que sempre sonhei. Um território inundado de beleza. Talvez o lugar mais lindo que estive, guardando suas peculiaridades, mas me sinto feliz em Paris, é nesta cidade-estado-de-espírito que meus pensamentos vivem e morrem férteis.
Porque parte de mim é mar a outra é ar. Porque parte de mim delira enquanto a outra pensa. Mas principalmente porque uma parte de mim sou eu e a outra também.
Pegou o dia, vestiu-se de luz, de sol, de vento, andou como sempre, mas estava mais sabido de si, trocou-se ao entardecer, amparou-se na lua, banhou-se de brisa e logo se entregou aos sonhos, límpidos e cristalinos sob a luz das estrelas.
Fragmentos são cacos espalhados sobre o chão, a mesa, a rua, mas ali, bem ali, eram partes do todo, do composto, do infinito de cada um e a mulher, agitada com seus dedos nervosos, trouxe uma inquietude, que por quase uma hora, saí de mim.
Ele falava demais, mas falava tão sujo, tão cheio de palavrões, ele era uma bosta, estava querendo chamar a atenção e conseguiu, por ser tão sujo e grosseiro.
Ingerir álcool nem sempre é a melhor saída para a saída dada ou tomada, enfim. Sofrer de cara limpa normalmente ajuda a entender melhor e no outro dia não haverá ressaca. 

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Crônico!


Com lançamento previsto para o dia 12 de novembro, a coletânea Crônico! (R$28, Ed. Multifoco, 100 páginas.), organizada pelos escritores Jana Lauxen e Beto Canales em parceria com a Editora Multifoco, reúne a nova safra de cronistas e ilustradores brasileiros.
São, ao total, 18 crônicas e 18 ilustrações, que reúnem o melhor de todo o material recebido durante a seletiva, que buscou, pelos quatro cantos deste Brasil, cronistas e ilustradores dispostos a colocar seus textos e ilustrações na avenida:
- Existem excelentes escritores e ilustradores em nosso país; infelizmente (e injustamente) em sua maioria ainda desconhecidos. Um dos principais objetivos da Editora Multifoco é encontrá-los e publicá-los. Uma forma de colocar leitores em contato com autores que, através dos meios de comunicação convencionais, nunca teriam a oportunidade de conhecer. – diz Jana Lauxen, uma das organizadoras da coletânea.
A obra conta com autores do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo e Bahia, o que, segundo a organizadora da coletânea, só vem a somar no resultado final da obra, que considera pra lá de satisfatório.
- O Brasil é um país imenso, cheio de culturas diferentes e, naturalmente, de realidades e pontos de vista também diferentes. Reunir autores de diversos lugares do Brasil, cada qual com sua visão sobre situações completamente distintas entre si, trazem ao leitor um panorama atualizado da realidade brasileira. Além do que, é muito interessante descobrir o que pensam estes novos escritores que, de uma maneira ou de outra, também estão escrevendo hoje o futuro da literatura no Brasil.
Os textos que compõem a obra discorrem sobre os mais variados assuntos, indo desde literatura, Deus, galinhas, maconha e futebol, até festas, esperas, pêssego, vida e morte – todos retratados também por meio dos quatro ilustradores, que deram traço e forma aos textos que receberam.
O resultado desta miscelânea de autores, ilustrações, textos e temas poderá ser conferido a partir do dia 12 de novembro, data do lançamento da obra, que acontecerá no Rio de Janeiro, no Espaço Multifoco (Av. Mem de Sá, 126 - Lapa), entre 18h e 21h.

Quem tiver interesse em adquirir um exemplar, poderá entrar em contato comigo pelo e-mail: pliniogomess@hotmail

Abraço Perfumado

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Fronteiras


Procurei distante, porque perto já não enxergava nada. Uma nuvem, bruma, fumaça: Socorro! Um grito ecoando no vazio, e desespero dentro do quarto, da casa, da cozinha, no limite de tudo, do caber em si de tanto pensar e comer e rezar e viver e não por pra fora tudo isso que é muito e não se sabe bem organizar em parágrafos, frases, palavras, apenas caos, caos, fumaça. Começou assim, de leve, como uma vontade de não estar mais sozinho, de ter alguém para dividir o fogo, o prazer, o jantar, a garrafa de vinho, a cama. Depois foi crescendo, como um bolo no forno, subindo, subindo, o desejo enorme, a solidão beirando a forma, o risco de transbordar, de derramar e depois o trabalho de limpar tudo, mas não teve jeito, caiu, passou da borda e começou essa fumaça adocicada, chocolate, e foi aumentando o desejo, os pensamentos foram e vieram, trouxeram a imagem precisa, mas as coisas andam tão imprecisas, não ando tendo conversas e ando até impaciente. É isso, era mais ou menos nisso que queria chegar, no fato de ter de romper espaços, de ir mais longe, de sair da casca, da casa, da rua, estourar os limites, ultrapassar as fronteiras que me impedem de ver o inevitável, de perceber o quanto estou me escondendo por detrás desta fumaça de bolo queimando, desta bruma de romance inalcançável. Isso. 

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A prévia do dia excluído

Perdeu-se no acaso do não dito, tentou se aconchegar no colo do mundo, mas o mundo, por certo não cabia em si e nele pouco ficava quieto. Algumas palavras tentavam sair de sua boca, mas a confusão era tamanha que tudo se embaralhava e mal murmurava coisas desconexas. Perdeu-se no acaso do ser só e não tentou se aconchegar mais em lugar nenhum. ‘Nature Boy’, naturalmente contemplado e contemplando, ‘... Um estranho e encantador rapaz... ’, sabido por demais, pensando por demais e passando por demais as coisas, os escritos, os dedos sobre a superfície árdua e bela da vida, como um armário antigo de madeira cheio de poeira e com a ponta, não menos e não mais que a ponta do dedo indicador, retira a poeira e deixa aquele caminho perdido, de não chegar a lugar nenhum, apenas indicar que ali, bem ali, existe um mau zelo, um descuidado com tudo. Não necessariamente confuso, ainda, observa as gaivotas que sobrevoam o mar, os barcos e mergulham e pescam, perde-se até, vendo aquilo, imagina-se leve, fluido, pairando sobre tudo e todos e de certo, o era, o é, afinal, sabe do amor, mas sabe do amor numa profusão de tanta coisa, que por isso se perde, acha-se, engana-se e ama, como todos, como tudo. Porque amar além de tudo, também é confusão, choro, dor e silêncio.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Do tempo eterno do instante [A narrativa fantástica do sexo]

Tudo começa como uma brincadeira bendita... Um pega-pega, um roça-roça, de risos fáceis, os cheiros exalando, uma mordiscada aqui, um beijo acolá e depois vem... A pele queimando, os lábios ardendo, mãos faiscando, pernas tremendo, coração explodindo e irrigando loucamente o cérebro, uma parte vazando, a outra em riste, uma querendo a outra, depois tudo funciona... Muito calor, evaporação sobre a pele, muita fricção, muito de tudo, num vai-e-vem-doido-compassado-sem-ritmo, querendo sorver, derreter. A respiração mais sonora do que nunca, os músculos dilatando, os nervos relaxando, hormônios tomando conta de cada centímetro-corpo, tudo é uma explosão de silêncio e barulho, o suor escorrendo, dois num corpo só, mais risos, agora mais absolutos, espasmos, boca seca, para depois molhar mais em beijos, amor pleno, paixão realizada.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Emoldurado

Você surgiu,
pensou que não notaria,
até pensei em não dizer,
não falar,
mas o amor é maior,
perdi-me em ti,
muito antes de querer pensar,
então não escorre,
não finge,
apenas vem...
Senti-me...
Só seu, como sempre fui.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Só um pouquinho de nada.

Por hoje é só e para todo o resto também. Nem um pouco a mais, nem um pouco a menos e não adianta pedir um pouquinho de nada. Afinal, quem passou a vida toda esperando fui eu, quem sempre teve de dar concessões, aguardar a chegada, não sair de casa, permanecer intacta e lícita às suas vontades fui euzinha, a mulher que você conquistou e reconquistou durante esses anos e que sempre esteve cheirosa e bem vestida para depois você vir [quando vinha] para desnudar ou rasgar as vestes e me possuir de um jeito que só você sentia prazer e um misto de dor e medo de ficar sozinha pro resto da vida, por isso aceitava, eu acho, essa espera toda, esse seu jeito louco de me ter e o meu jeito mais louco ainda de consentir. Mas agora não, percebo que esperar é doloroso, nunca saber se você irá vir; Nunca ter certeza de um futuro troncho e vazio contigo é muito pior do que ficar sozinha e encalhada. Afinal, quando me preparava para você [vir ou não] acabei descobrindo que minhas mãos me dão mais prazer do que aquilo que você tanto ostenta no meio das pernas. Cara, eu pensava que era amor o que eu sentia, mas não, era desprezo a mim, era uma coisa estranha, uma mania de querer sentir dor para esquecer a dor que sempre existiu em mim, a de lutar, de mudar, de aceitar que decidissem sempre tudo por mim, como minha mãe sempre fez e depois meu irmão e agora você. Não, nem mais um pouquinho de nada, nem mais sua mão em cima de minha pele, nem mais uma palavra sua, nem mais a sua cara na minha porta. E não adiantará você me dizer que me ama que não sabe viver sem mim, porque eu definitivamente sei viver sem você e não quero mais essa história de mais um pouquinho de nada.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Engasgo (ou) Cinzas de cigarro que voam e caem nos olhos

Tenho vários motivos para sorrir, mas posso citar apenar um: estou vivo. Simples isso, fácil. Mas o que me prende hoje é o sapato esquerdo que me força a unha encravada. Destravo as janelas que estão loucas para serem abertas e me gritam desvairadamente, porque lá fora brilha um sol majestoso, e as roupas estão totalmente secas no varal. Queria sair daqui e ir, mas ir tão perto do nada quanto longe de tudo e apenas recostar minha cabeça no colo do espaço e chorar. Por que mesmo sabendo de toda felicidade que há em mim, também sei o que me arrebata e me faz querer simplesmente ser frágil. Numa música que toca enquanto outro toca um violino afinado e afiado, diz: tempo de silêncio e solidão. Mas alguém pode me perguntar o porquê e eu, franco e claro, digo: Nem tudo é companhia no meio da multidão. Hoje estou em casa, nunca mais estive em casa do jeito que estou hoje. Mas o que há de diferente estar em sua própria casa todos os dias? Engraçado isso, ter de explicar algo tão denso&complexo&chato e quem sabe desnecessário, mas como disse que sou e realmente sou franco: tem dias que você está em casa, mas não está. Noutros dias estamos, mas tem alguém conosco, mesmo que seja em pensamento. Há ainda os dias em que recebemos visitas avisadas ou desavisadas e rezamos para que saiam tão rapidamente como quando entraram. Aqueles dias em que chamamos alguém para um almoço, mas a pessoa fica até o jantar. Enfim, são tantos dias, mas hoje é um dia meu, em minha casa, com minha musica, meu choroloucodesenfreadosufocante. Parece que estou num desabafo alucinado, mas não, estou sendo um pássaro que se permite, mesmo que por um dia, não saber voar.

Uma noite sem você
João Linhares

Uma estrela brilha na brecha da noite
Clareando o calabouço da minh'alma
No escuro e sem você
eu perco a calma
Hora amarga que me encharca
em seu açoite
A paixão me esquartejando com sua foice
E a garganta vomitando um grito rouco
Chamei tanto que eu quase fiquei louco
Quis mostrar um pouco do meu sentimento
Que uma noite sem você é muito tempo
E uma vida com você é muito pouco

A saudade incendiando a madrugada
No silêncio queima a chama da alegria
Inda lembro de você naquele dia
Me beijando, me dizendo que me amava
Te amei tanto que eu não imaginava
Que sozinho ficaria triste e oco
Quando o mundo me chamava
eu tava mouco
Galopando no vagão do pensamento
Que uma noite sem você
é muito tempo
E uma vida com você é muito pouco

terça-feira, 12 de julho de 2011

Estágios consagrados dos sinais dos signos em sol


"... Você me agradou me acertou
Me miseravou, me aqueceu
Me rasgou a roupa e valeu..."

Carlinhos Brown

Que reine o sol. Porque há um jeito de dizer tudo, mas há também uma forma em que alguns não entendem, apenas desdizem, imaginam, confabulam. Mas eu, completo dentro disso, desse espaço todo meu, acredito, plenamente que só eu, euzinho, posso dizer o que se passa aqui dentro. Hoje acordei com a corda toda. Queria confidenciar coisas que não ouso me dizer. Mas já que vem da minha linha imaginária jamais constante de escorpião em aquário, não sei bem o que é apenas sei que reside num pedacinho qualquer do meu corpo. Bom, os gatos egípcios não miam mais, apenas estão, estátuas a decorar um jardim que não é babilônico. Ontem eu disse que amava. Jamais tinha dito que amava, mas é que tudo me pareceu e apareceu tão diferente. Nada-haver-com-o-que-diziam-ou-eu-lia. Stop! Cadenciou um samba tão próprio. Quando vi, já tinha me aberto ao mundo,entrado na avenida, sambando, amando. Mas esse sentimento queima com a paixão e todo queimar amedronta, espanta bichos que correm de uma mata a qualquer sinal de fumaça. A escola perdeu pontos na entrada, no desfile, perdi o amor, houve um recuo da bateria, esta parou de tocar por lá, meu surdo ecoou sozinho, triste. Marte está em queda e Saturno tem o seu exílio. Algumas coisas não funcionam mais como antes. Então permaneço só, não como antes, porque tudo mudou.

“Não haveria planos, nem vontades, nem ciúmes, nem coração magoado. Se não fosse amor, não haveria desejo, nem o medo da solidão. Se não fosse amor não haveria saudade, nem o meu pensamento o tempo todo em você.

Caio Fernando Abreu

Vênus e Saturno pedem conscientização dos padrões a superar. Amadurecimento necessário.

"Now you say you're lonely
You cry the long night through
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you..."

Arthur Hamilton

Questões afetivas e de relacionamento se encontram num ponto delicado.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

reinado

Vista preferida bendita,
tanta paixão e zelo,
dormir com tempo,
recosto perfeito.
Sair do só,
entrar no juntos.
Permanecer estático,
untado no outro.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Tudo parte um

Tudo aqui é muito estranho; um sentimento vazio, um frio torpe aquecendo os pés, as mãos. Buscando algum entendimento, segue dentro dos espaços, mas tudo é tão escuro, muitos móveis e é impossível não esbarrar nas coisas do subconsciente; caixas e mais caixas de sabão tentando limpar a sujeira da pele, da alma, mas tudo tão impreguinado, missão quase impossível de ser feita, alguns feiticeiros diriam que somente numa chuva ácida o lavar aconteceria de fato. As abelhas sobrevoam e mergulham como verdadeiros kamikazes dentro da xícara de café, beber poderá ser uma experiência um tanto dolorida. O horóscopo de hoje não diz coisa com coisa. O telejornal traz as mesmas-notícias-catastróficas-de-todos-os-dias. Tudo aqui se perdeu num esquecimento louco, as dores de hoje são cinzas dentro de um futuro ainda mais inflamado. Dias de chuva são sempre preguiçosos e o jornal sempre chega molhado.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Coisa

Queria escrever. Melhor, precisava escrever, há dias não conseguia nortear minhas idéias dentro de frases. Parece-me que realmente estou dentro de uma bolha que me evapora e tudo se perde em tantos pensamentos-indagações. Então comecei a colar os caquinhos, alguns estavam nítidos, fáceis, outros não, escondidos, mas que de alguma forma consegui achá-los nessa inconstância chamada vida. Mas como sempre, algumas peças do quebra-cabeça caem no fundo de um baú-tempo e nem sempre a imagem fica lúcida. Que mania é essa de querer ser tudo? Que diálogo é esse que só você fala? Cala-te e ouve o silêncio: Megera metida à besta. Diz-me se é isso aí ou é apenas um jogo-de-gato-e-rato? Luz de vida, luz divina, luz da diva, luz que é dádiva. No escurecer do dia, a algazarra dos passarinhos no pé de umbu. A brincadeira é séria. Cortei o dedo quando cortava o pão e o sangue não é o vinho, e a dor não é sonora, mas abstrata e densa dentro do meu peito, soluço estampado, do choro não solto. Sempre tive vontade de escrever um texto que começasse assim: Queria escrever. Melhor, precisava escrever, há dias não conseguia nortear minhas idéias dentro de frases... E hoje parece que ele vem, como parte de mim que sempre quis sair por aí, viajar, conhecer o mundo, mesmo que esteja chovendo em Roma e eu com o dia livre. E mesmo tudo molhado, vermelhos intenso cruzam as ruas em roupas, semáforos, paredes e telhas e sonhas com o sorriso de James Franco e pensar no mais puro mel, chorar de felicidade ou de tédio ou um oceano de arrependimento. E todas as pessoas que liguei e não me atenderam, mas é que nem sempre ou quase nunca tenho coragem de ligar e falar e assumir que tenho algo para por pra fora. E parece que o mundo todo se voltou contra mim – É um trabalho voluntário exigido a todos aqui. Mas o que será de mim, o que farei com meus ideais, não existe uma bussola, nem mesmo mapa, tudo sou eu, os caquinhos, as peças perdidas no baú ou nos espaços entre os tacos do chão. E só penso no sorriso e Buscar a palavra certa, o sentimento completo, o beijo, aquele beijo. É assim que a banda toca, em dias de frio o vinho, o cobertor e estar sozinho passando um pé no outro, pensando em alguém. Caramba, é muita loucura, por isso queria escrever, mas há muito queria escrever, jogar tudo no papel e imortalizar e profetizar e me abster de tudo, só a musica entrando e saindo. Coisa alguma, coisa nenhuma, talvez o resto da dor de um ano atrás tenha ganhado força e agora saindo de mim em forma de chuva, de suor. Coisa nenhuma. Apenas devaneios salpicados de sal que vem nessa bruma. Coisa alguma. Teatro desnudo de uma cena muda, atores monstros transformados em gente e um deles tenta ao máximo ser alguma coisa perto do ser humano, mas falha, porque monstros são perfeitos em serem monstros, mas humano não, humano é demais, humano é poesia e isso tão complicado, é tão cheio de dor, de amor, de paixão, de saudade, de se arrepiar ouvindo a canção. Coisas. A batida, o surdo do samba, cutucando, cutucando as coisas aqui dentro e poderia continuar repondo e sobrepondo palavras e frases, mas chega uma hora que as coisas precisam sair de cena, os monstros precisam desistir e deixar os humanos com os humanos. Vou me arrumar, vou sair, vou ver os vermelhos que reinam, vou ser humano, deixar de ser coisa, de ser monstro, de ser cinza.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Soneto de passarinho

Canta, canta passarinho, canta, canta miudinho
Na palma da minha mão
Quero ver você voando, quero ouvir você cantando
Quero paz no coração...”

Geraldo Azevedo

Sonhei que tinha ninhos de passarinho nas pilastras de dentro de casa, um sonho lindo, nítido. Depois vinham todos eles, os pássaros, para a janela, olhavam o dia cinza, chuvoso e davam a cantar, eram vários, muitos, sabiás, sofrês, galos-de-campina, cardeais, rolinhas-fogo-pago, pêgas, passarinhos-de-arroz, rouxinóis, canários-da-terra, periquitos, pardais e muitos outros, com suas cores e cantos. Uma festa danada em minha janela. Não demorou muito o sol apareceu, veio juntar-se a grande algazarra, banhou tudo com seu dourado, deu mais vida as cores das penas dos passarinhos. Um dia mágico, o sonho vivo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Quando o amor é amor e reina absoluto

Era dezembro – um ano inteiro passado, mastigado, sorrateiro. Mas o que passou não volta, apenas corre para longe do pensamento, esquecido depois de vivido. As partículas de poeira se amontoando em cima de tudo, apenas alguns fleches de memória, apenas lembranças de partes da história. Já era noite quando ouvi Bidu Sayão cantando: “Acorda, vem ver a lua, que dorme na noite escura, que surge tão bela e branca...”, era um chamado, era a forma mais linda que alguém poderia me chamar ao mundo, ao vivo, era o veneno “anti-monotonia” necessário para desmanchar os nós que travavam minha garganta, evitando que eu gritasse um basta.

***

Acordei meio assustado, era tarde do dia, havia perdido à hora. Algo me dizia para não sair de casa, inventar alguma história e faltar ao trabalho. Mas a responsabilidade me bateu a consciência, tratei de tomar um banho, liguei avisando que não estava me sentindo bem e que chegaria atrasado. Quando comecei a me vestir, na hora em que fui escolher uma gravata, percebi que todas elas viraram serpentes e me espreitavam, aguardavam um mínimo movimento meu para introduzir um veneno mais mortal do que o que eu bebia diariamente.

***

Restou muito, restou muito mais do que eu pensava. No início era tudo confuso, dúvidas, questionamentos a cerca do que me fizeram, do mal que me desejaram, do quanto dei com a porta na cara, e mais as paredes, as janelas, o chão quente e duro, ralando meus braços e joelhos após a queda. Mas quando pensaram que nada mais restava de mim, enganaram-se, deixaram espaço para eu perceber a grandeza que há aqui dentro, o amor mais pleno e ininterrupto, o mais quente e visceral sentimento que pulsa e alimenta, o amor por mim, o que me fez belo e certo do que eu poderia reconstruir, o amor que é amor e reina absoluto em meu mundo próprio e que depois escorre, segue, fluxo líquido evaporando, átomos de mim que encontram amizades verdadeiras, aquelas que independem do que você tem, porque mais vale o que você é.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sabiás em vôos brandos, gato branco, sorriso verdadeiro, transmutações e outras histórias musicadas.

Um abraço perfumado, transmutado em luz e enviado aos céus
para quem não chegou a me dizer o que achou do
meu primeiro livro de poesias. Ao amigo Àtila Lueska.

*

Essa noite eu tive um sonho... Sonhei com uma fotografia. Não dessas digitais, que bloqueiam parte do nosso imaginário, mas uma fotografia mesmo, impressa, revelada, posta num papel apropriado. Era a foto de uma cachoeira, uma pedreira enorme, de onde caía do alto volumosa queda d’água. Parecia ser somente uma paisagem, mas o que me chamou a atenção foi uma coisinha miúda que estava no meio do lago que era formado pela cachoeira. Era uma pessoa, talvez eu mesmo ou um amigo, mas o que realmente importa, é que eu percebia no sonho e acabo entendendo agora que na vida real também, tudo é tão grande diante de nós, mas isso não quer dizer que somos insignificantes, pelo contrário, quer dizer que temos o devido tamanho, cabido e imaginado para nós. E quem imagina? Quem compõe isso? Para muitos pode ser Deus, algum não deus, orixá, caboclo, Maomé, Jeová, Buda, força universal invisível, mas isso também não importa, porque estou falando de seres humanos e nós temos uma força gigantesca nessa parada, mas nem sempre percebemos e nesse caso, só vemos a cachoeira na fotografia. Sei que depois de ver bem essa bendita fotografia, na verdade ficar olhando e percebendo um monte de coisas nela e dentro de mim, eu saía de casa, sem rumo e andava bastante. Quando já estava cansado de tanto andar, pegava uma condução e voltava para casa, logo em seguida acordei. “... Tem pena d'eu (Sabiá),
Diz por favor (Sabiá)...”

**

Hoje aprendi a sorrir e aprendi contigo. Engraçado isso, o fato em que num momento de dor, de partida, de eu não poder mais conversar contigo e ver você dizendo que adora viver, justamente nesse momento eu aprendi a sorrir e foi contigo. Mas não sorrir de qualquer jeito, mas do sei jeito expansivo e por tantas vezes barulhento, sorrir, cair da gargalhada em um ‘muá’.

***

Existia um tempo em que ateus acreditavam serem filhos de Xangô. Época em que o sorriso era livre e pensando nisso, lembrei da canção: “... O orvalho vale a flor, que nasce desse prazer, nesse lampejo de dor, meu canto é só pra dizer, que tudo isso é por ti, eu vi, virei estrela...” e creio que seja isso, que muita coisa vale à pena, que é por isso que a flor brota, é isso, é por ti, é por nós, a sabiá voou, virou estrela, vivia sorriso, agora vive luz. Transmutou o pensar, saiu do tempo óbvio, do espaço contexto prático, saiu para brilhar nas entrelinhas, no doce sonoro bailar, nas rodas de músicos que cantam e tocam a vida, o amor, a amizade – “ Tu que andas pelo mundo, tu que tanto já voou...”. Existia um tempo em que tudo eram flores e cores e nem nos dávamos conta, dizíamos o quanto às pessoas eram importantes em nossas vidas, demonstrávamos carinho, mas hoje perdemos esse tato, já não somos tão preocupados assim, como costumamos fazer ao gato branco que adora roçar em nossas pernas e empurramos para longe. Gatos gostam de aconchego, humanos também, por isso amemos os gatos brancos, rajados, pretos, de raça, da rua, amemos.

****

Essa é minha forma alegre e prática de ver o mundo e entender as coisas. Escrevo. Ponho em papel alguns pensamentos vertiginosos, para tornarem-se um pouco mais fáceis de entender. Talvez seja como uma fotografia de paisagem com alguém no meio da lagoa ou quem sabe como um gato branco que se esfrega nas pernas dos outros ou ainda como uma sabiá cantante em manhã chuvosa, alguns pensam que ela canta de tristeza por cinta de não poder voar leve outros pensam que é porque ela vê a chuva molhar a terra e trazer boas novas. De qualquer modo, tudo na vida tem lados opostos, nós é quem decidimos para onde olhar.

sábado, 14 de maio de 2011

Do céu onde os pássaros voam - Do amor fílmico




Um mar calmo, sem ondas, os pássaros em revoada tomando formas num céu brando, o sentimento renovado, inspirado. Aqueles dois ali, em plena harmonia. Uma nave espacial, um pedaço do céu, uma vassoura de bruxa, um tapete mágico, alguma coisa assim, do tipo, que me fizesse sair voando, sem parar muito tempo em lugar algum, sem me prender as coisas sem contexto, apenas amando e querendo bem, por aí, leve, solto, incrível. Parecia querer deixar ali, mas não, o querer sair era mais para contemplar tudo de longe, de cima, de fora, perceber-se dentro daquele fluxo contexto amante; os dois nadando num mar próprio, próximo de casa, nus como vieram ao mundo, entre brincadeiras e entregas, entre água e o despertar para o mundo. O então amor sonhado, agora realidade, parte de um viver sonoro, como uma sonata, uma área - leve, precisa, mistura cadenciada de instrumentos que levam as almas ao êxtase, ao pleno, ao certo e impreciso amar. Quando voltar do passeio sonho, encontrar-se do mesmo jeito, molhado, nadando, unindo-se ao outro, verdadeiro consentimento. Depois uma noite adentro, uma cama boa, um entrelaçar-se para depois untar-se em suor deslavado. Uma madrugada solta, um amanhecer justo e tudo rodar em sincronia com o universo.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Casa Ver[de] - Poema/prosa em construção

Para se ler/sentir ouvindo Vinicius de Moraes e Baden Powell ou Glória Bonfim


Acima da cabeça a fumaça enfeitada, mosquiteiro dependurado, ao lado o galão de água vazio, entre notas psicodélicas em psico-trance-ultra-moderno-jazz-blues-bate-estaca, sentado em lótus, divagando um pulo só, enquanto os outros se esbaldam e dançam parados. O famoso turco não está, o cobrador se perdeu. De bochechas vermelhas o de cabelos de anjo cintila rindo, enquanto quatro paredes brancas de teto com goteiras goteja desvairadamente parte da chuva lá de fora. Sonâmbulos gatos diurnos que entraram pela noite, o ventilador tragoso girando, severo, o cheiro misto de banho tomado e ervas. Depois eles tocam, acreditam no externo, no de dentro, que mesmo que caia louca, uma chuva, o violino não desafina, apenas corre, corre, a água limpando telhado incrustado, limo, limbo.Enfrentando o descartável, firmando pés, mãos, raízes, cantam, dançam, divertem-se, gritam, ela eufórica, bate pés, mãos. O outro, só olha, bebe, fuma. Lembramos de Allen Ginsberg e seu Uivo. Que falta faz a menina de Iemanjá com Oxum e a risada desenfreada e estrambólica daquele outro rapaz. Solta os bichanos. E a tela, o vazo azul imitando laca chinesa. E ela que nos une, corre pelo eternit. O anjo dizendo: mal, mal, me passei total. Aliás, adoro viver! Precisamos de ritmo, entraram tantas pessoas temporais, ronronando, viajando. Só falta você 'el bigodon!', ninfeto siciliano, só falta você. Batidas agitadas no violão e vendo-o tocar, penso com é bom tocar um instrumento...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Bate estaca na construção

Espelho quebrado em milhares de cacos, pés descalços sobre os estilhaços, sangue correndo por entre tudo e o chão forrado de pedaços loucos de um pé espelhado. Aquele pássaro já não canta por essas bandas e sinto saudade de seu canto triste que de alguma forma me aliviava o coração. Aquela criatura queria me fazer cair, ver-me tombar, mas eu sabia o que ela queria e por isso preparei minhas fundações, minhas raízes e nada será capaz de me fazer triste. Nesses dias de chuva existe um sol raiando dentro de mim.

domingo, 10 de abril de 2011

Jogo de vôo raso com borboletas coloridas

Onde cabia o se entregar,

Justo tempo de libertar-se,

O amor era muito mais que vento,

Era dia pleno, céu azul e sol de primavera.

Ultima peça do quebra-cabeça, uma imagem qualquer de um pintor famoso, uma taça de vinho refrescando a garganta que trava por conta de um choro escandaloso dentro do seu silêncio. Uma canção invadindo o coração e dando aquela sensação de que tudo parece confuso, dolorido e distante. O poeta disse “o amor é tão curto... o esquecimento é tão longo.”, mas aqui dentro, onde queima esse sentir, que sofre, desespera-se, grita por mais atenção ao mesmo tempo em que se esconde o amor não é pequeno, na verdade não tem proporções. Parecia que tudo entraria em desuso, que não haveria um novo pulsar, envolvimento de cartas num jogo complicado demais dentro da sua simplicidade. Esvaziando o copo para depois enchê-lo e depois beber de uma só vez e gotas descerem pelo nariz, choro, vinho, dor de cabeça. Perder! Ser jogado fora quando a outra parte não tem coragem de invadir o tempo a dois. Vai, completo idiota do nada, afoga-se nesse teu lago obscuro de ignorância e medo. Cabe-me a dor de estar comigo, de saber que sempre depois da dor vem um prazer incalculável de viver, de ultrapassar linhas imaginárias de uma prisão individual onde não há banho de sol e é esse astro que faz a minha pele lutar, transmutar a feiúra e brutalidade de um casulo e voar lânguido com asas frágeis e beleza singular. O quebra-cabeça era uma analogia ridícula do seu ser, porque eu sempre te entendi e sabia que um dia você me deixaria, mas não por mim, mas por você ser cruel de mais consigo e assim por diante com os outros e comigo, mas eu sempre estive de alma inteira ao seu lado, fui sempre amor, e agora, que ainda o sou, mas não mais por ti, mas por mim, é a parte que me cabe e ela é enorme.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Do vôo da mosca à espera da aranha

Horizontalmente seco, rachando o sentir, inchando frases com engano, verticalmente olhando a aranha que tece sua teia louca no canto da parede, entre a pilastra e o teto.

*

*

Ela estava ali sentada, sabia o que viria depois, mas mesmo assim se mantinha calma, afinal era o que queria o que desejara nos últimos meses. Pecado! Isso sua mãe pensaria, mas ela não pensava desse jeito, sabia que sentir prazer não era pecado, apesar de ter ficando tanto tempo se policiando, deixando de se entregar aos homens, mulheres, objetos que hoje lhe dão tamanha grandeza de viver. Quanto tempo perdido e talvez por isso hoje viva com tanta intensidade. O mundo é livre e as pessoas também. E ali sentada, pensava nisso tudo e ansiava que aquele homem lhe tomasse pelos braços e a mulher caísse em meio as suas pernas, mas ainda estavam todos num prelúdio calmo, regado há um bom vinho tinto, ao som de uma guitarra espanhola. Enquanto isso suas entranhas minava, sua boca salivava, até que o interfone tocou, mas um convidado era anunciado e ela deixou de lado a tranquilidade, mas levantou-se certa e tirando a roupa foi receber o rapaz que aparecia a porta. Chegava o momento do ato principal.

*

*

Palavras dedicadas, línguas endurecidas, mãos delicadas, entre o entrar e o sair, ficar. A aranha come a mosca em sua teia úmida.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Do meio que é o lado do centro

Rarefeito, talvez condensando um pouco de tudo, de quase qualquer coisa, tempo suspenso, boca mastigando um chiclete de menta sem sabor algum e duro de tanto morde, morde, morde e aperta no canto esquerdo da bochecha; o outro lado está meio dolorido, talvez uma infiltração na restauração antiga por demais que incomoda há dias, como também o calo seco magoado diariamente pelo coturno que comprara na liquidação e que ama tanto, mas machuca por demais. As horas correm tanto, os minutos parecem partículas de poeira carregadas pelo vento absorto do outono corrente. Tudo parece uma banda de jazz, bateria, contrabaixo, piano e o instrumento de sopro, todos correndo em disparada, querendo chegar há uma perfeição quase impossível para pessoas comuns, mas àqueles lá conseguem, inspirados, sincrônicos, desalinhados, como gatos em cima do telhado, em miados de cio incontestável. Agora esses dormem, os outros tocam, e ele pretendendo chegar há algum lugar, dança sob uma lua fácil, observado por olhos de volúpia e carinho de um estrelado céu.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Lançamento do Livro "Puros ensaios, Novos tempos"


Puros ensaios, Novos tempos

Oficialmente venho falar do lançamento do meu livro de poesias "Puros ensaios, Novos tempos", que saí pela Editora Multifoco. O lançamento será dia 26 de abril de 2011, a partir das 19h, no Tarrafa Botequim, Rio Vermelho, Salvador - BA.

A idéia de realizar o lançamento num bar é para aproveitar a energia que emana da boemia que tanto me inspira.

E aí está um pouco do que fala essas poesias que reuni neste livro, que trato com muito carinho.

Puros ensaios, Novos tempos.

Amar, sonhar, apaixonar-se, viver intensamente os sentimentos, gostar da solidão, sofrer. Poesia do acaso, das situações vividas, saboreadas, imaginadas. A poesia livre, livre como somos em essência: o importante é não deixar a ebulição do sentir passar despercebida. Puros ensaios, novos tempos é um retrato dos nossos ensaios diários, a forma de se jogar no meio de tudo, mas não há como voltar a trás, é marca, é sedimentação de experiências, é a busca pelo novo, o tempo inteiro.



quarta-feira, 9 de março de 2011

Pra falar de amor

"... Pra falar de amor
Use o coração
Ouça seu desejo
Siga a paixão
Tire os pés do chão..."

Vânia Abreu


Queria falar de amor, mas a ópera que toca não me deixar pronunciar nenhuma palavra. E deitado, olhando o teto, solto em pensamentos, percebi que não cabe nesse momento falar de nada, porque é tudo tão limpo, nítido. Teus olhos tão leves no olhar, no ver tudo ao redor, tu sorris com eles e quando junto à boca, tudo é mais luminoso. Tua beleza é maior, tamanha, que chego a me espantar. Estar contigo é tão mágico, tua maneira de afastar os cabelos dos olhos, de rir de tudo quando acha graça. De buscar minha atenção, mesmo que seja me fazendo cócegas. Amo-te. Mas te amo pleno, sem medo do amanhã, dos dias tristes, das coisas que outrora podem vir a amargar. Amo desigual, crescente, fácil, justo. É mais que um amor de carne, de coração, és amigo, és cúmplice, mesmo quando bates de frente, quando não gosta de algo, porque me falas a verdade, mesmo que ela venha a doer momentaneamente. Lembrei quando tomamos aquele porre de vinho ouvindo a Maria Callas, parecia que o mundo ia se acabar e por isso bebíamos, bebíamos e catávamos e dançávamos – um dia mágico que sempre me toma os pensamentos. Como é bom saber de nós, do nosso tom acertado, do nosso encaixe. E todas as vezes que te vais, porque assim faz-se necessário, morro de saudade, espero-te, amo-te mais ainda, porque a distancia maltrata, mas também alimenta. Desejo que os dias passem, voem, para eu poder reencontrar teus olhos, tua boca, teu jeito expansivo. Escrevo-te porque hoje não quero falar e ópera realmente me cala. Mas estou aqui, pronto, esperando tuas mãos, tua voz, cheiro, suor. E por aqui fico, ouvindo a Maria Callas, tomando nosso vinho preferido, enquanto minha alma e meu corpo clamam por ti.

terça-feira, 8 de março de 2011

Porta retrato em branco

Parte de mim está seguindo e a outra parte segue junto, afinal, não posso me dividir, não posso me deixar. Estou concentrado em não ficar correndo atrás de minha cauda. O navio dos sonhos já não me interessa mais; Realidade, isso sim é relevante, os desatinos já não cabem mais em meu roteiro, erros devem existir, fazem parte da existência, mas permanecer neles, é fraude, é burrice, isso também já não me cabe mais. Que venham as horas, os dias, os meses, os anos. Definitivamente começo a marcar meus passos no chão.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Com fuso perdido entre horário e anti-horário Vol. 2

Não, não era de aquário nem muito menos de escorpião, mas tinha alguma coisa desses signos que me encantava. Um Tum-tum-tum de alguma música eletrônica-bate-estaca ao longe mexendo com meus pés e os pensamentos. Um gosto travoso de alguma fruta que eu comi no café da manhã, uma luz na casa vizinha que sempre me acorda no melhor do sono. Entrando e saindo, a casa estática, a chuva lenta, os pensamentos sortidos. E pensar em amor sugere algo entre cansaço e decepção, não com os outros, mas com alguma coisa aqui dentro, comigo. Existe uma simultaneidade – em todos os lugares ao mesmo tempo e tudo ao mesmo tempo agora – e entro em curto circuito com o cheiro de algas que vem do mar. O vinho me deixou lânguido, a música ajudou. Verdade nua e crua com olfato apurado e mãos sensíveis. Penso que poderia viver coisas diferentes e nem me ater tanto a esses detalhes que agora soam relevantes. Talvez seja tudo uma questão de ótica, de prioridades, apagar algumas coisas, idéias, pessoas. Amanhã, hoje, não sei, quem sabe depois, enfim...

Chegou à hora

Chega de meias frases, meias palavras

Chegamos ao ponto em que seguimos ou paramos

Nosso amor rompeu tantas coisas

Pulou de um século para o outro

Rimos tanto juntos

Chegou à hora

Pronto

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Brasão do Respeito - Alafiá

Saudando o mensageiro cheguei. Vim pra cantar na chuva e ver o arco-íris que vem com ela, ouvir os trovões que estremecem os que me querem mal; Vim para saldar o sol, buscar luz que vem do verde das matas, dos raios que riscam o céu, dos ventos que varrem a maldade, sentir a energia que me prepara para as guerras diárias que a vida propõe; Pedir benção as lagoas e a lama que há no fundo delas, banhar-me na beira do mar que retira todo o mal, bem como lavar minha cabeça no mais lindo rio, com suas águas doces, descansar a sua beira e escutar o silêncio que cura as chagas do corpo e da alma. Comer o mais branco inhame pilado e aprimorar os sentidos, equilibrar minha cabeça; Curvar-me diante do Tempo e sair para o mundo, pronto, respeitador e forte.

Mojubá Lailai! (Apresento meu humilde respeito para sempre!)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Olhares Obliquos

Remanescente de lugar qualquer, trazia em si uma certeza de coisas tantas que causava espanto. Mas o que mais causava incômodo era o fato de olhar sempre com ar de quem sabia mais, de quem desdenha, que não está nem aí, que poderia contestar ou maldizer tudo a qualquer momento, “... Quaquaraquaquá, quem riu? Quaquaraquaquá, fui eu...” e ela seguia com seus passos, seus desleixos, seus contextos e ria de qualquer um ou não ria, apenas olhava, mas olhava daquele jeito, por cima, de lado, longe, perto o suficiente para intimidar, causar tonteira absurda. Passando pela rua, lá estava ela, à janela, via tudo, não olhava para nada, de frente outras três se espremiam, não olhavam para ela, não olhavam para nada, mas também tudo viam. O dia passando, entre entrar e sair, passar e ficar, conversar, olhar as horas, sempre elas, imprecisas e parecendo não terem muito que fazer de mais original e importante, viam o dia dar lugar à noite e os diurnos aos noturnos, “... E agora cadê, cadê você? Cadê que eu não vejo mais, cadê? Pois é, quem te viu e quem te vê...”, e depois uma saindo, depois a outra, logo em seguida as duas restantes, e várias outras que não se via, mas que olhavam, viam e mesmo que não restasse mais a presença física nas janelas, seus olhares oblíquos ainda olhavam para quem passasse ou parasse.


* Trabalho em carvão de Carlos Gregório de Souza

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O cheiro do mijo

Corri, corri, corri, percebi que ainda estava perto e todos me olhavam, cochichavam coisas que eu não conseguia entender, a moréia dentuça me espreitando – se correr o bicho pega e se ficar o bicho come – a íngua doendo pra cacete, a espada enferrujada não ajudava pelo contrário, só pesava nas costas e eu corria, corria, corria, nada de água fresca, um calor imenso, uma sede louca consumindo meus pensamentos. Passei por um lugar que era um misto de feio e interessante. O sorriso daquele cara era falso, desafiador e queria desmascará-lo, mas não podia parar, a moréia continuava me seguindo, com seus dentes afiados, brilhando sob a luz do sol, a igreja com seu sino das doze horas, a fome roncando na barriga, a correria não cessava, o desespero aumentando, todos olhando e ninguém estendendo a mão, só cochichando, cochichando coisas absurdas que eu não entendia, por fim cheguei a beira de um penhasco - ou morria em baixo sobre as pedras ou morria em cima pelos dentes do bicho solto e feroz que nadava no ar. Decidi pular, sempre tive vontade de pular no nada e nadar, nadar, nadar. Fechei os olhos e me joguei, sem medo, porque eu tinha mais medo do lugar estranho e interessante, dos cochichos do povo, do sino do meio dia, então fui caindo, devagar, sem pressa e quando parecia que não sobraria mais que pedaços de mim, comecei a flutuar, lindo, leve, belo, mas quando dei por mim, despertava, havia dormido bêbado na calçada e o cheiro do mijo invadiu definitivo as minhas narinas. Aos pouco comecei a redobrar as forças e restabelecer contato com os pensamentos e lembranças da noite anterior. O sol quase a pino, quase ao ponto das badaladas do sino e tudo foi clareando, o trabalho, a saída dele às dezoito horas em ponto, a cervejinha com os amigos, a gata de vestido verde, o amigo dela de olhos verdes, os amigos indo embora, o casal me olhando, eu indo ao banheiro, o cheiro de mijo do banheiro, o rapaz de belos olhos amigo da gata urinando ao meu lado, puxando conversa, depois um apartamento ali perto e muita vodka, muito uísque, algumas cervejas que eu não conhecia e por fim, já na cama o resto de uma garrafa de vinho e tudo foi muito louco, muito intenso, e agora esse cheiro que me enjoa e me excita, minha cabeça rodando e doendo, alguns transeuntes que passam e me olham, falam alguma coisa meio que cochichando e a estátua de um gato selvagem no portão em minha frente, era ele a moréia que me assustava. Estou a atrasado para o trabalho, aliás que exploda aquela repartição, quero minha cama, quero seguir viagem, voando, deslizando num ar cheio de cheiros, quero quem sabe tirar a máscara daquele homem sorridente falso ao extremo falastrão do nada e depois curtir a leveza, o cansaço, a cama, o sonho.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Última Carta

Não te quero mais junto a mim, nem próximo, nem ao largo que eu passe. Distância máxima não existe, o ideal seria que você cavasse um buraco e lá ficasse; não aparecesse ao sol, à chuva, ao vento, a nada. Porque tu és vil, imunda, petulante, covarde, macabra, és simplesmente um horror que não quero ter o desprazer de lembrar depois que eu terminar de escrever esta carta. Quanto à casa que estás, ateie fogo, não quero dela nem o terreno, muito menos o que nele há. Não me mande mais suas contas nem me peça um tostão que seja; não me ligue nem me escreva; não mande recados, nem muito menos pelos teus filhos, que apesar de serem teus, tenho um carinho independente de ti por eles. Deles quero toda a presença, conversas. Com eles eu me entendo. E se te resta um pouco de vergonha na cara, rasga esta carta em mil pedaços e joga ao vento, para que de mim tu também nada tenhas, porque após este ponto final que está por vir, em mim de ti nada mais resta.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Padrão desapropriado em noite de desuso

Pardo

Vespas sobrevoando cabeças

Ardo

Vento esvoaçando saias

Tardo

Pensamentos consumindo corpos.

Passo arrastando meu corpo já que este não consegue acompanhar a fluidez de meus sentimentos desejos pensamentos e caio deliberadamente em atrapalhes de palavras; de pernas; de braços. Buscava alguma coisa mas foi aí que tudo encontrei nesse nada que continuo vivendo querendo sabendo perdendo fugindo. O dia passou arrastado também sol forte calor supremo meio das pernas, suor escorrendo pelas costa e vai caindo descendo molhando. Nem muitas conversas sem paciência para isso ou aquilo nada muito especial mas momentos simples em que viajava ouvindo músicas coisas de gente louca ou normal a depender do ponto de vista. Saudade talvez lembrança talvez dor talvez amor talvez tanta coisa que não isso e vou indo novamente arrastando o corpo e agora os pensamentos tanto sono mau agouro mau olhado pessoas destrutivas estourado bombas internas e implodindo as energias que sustentam coisas boas. Tudo meio desordenado sem guardar muito o gosto dos instantes na boca língua pele. Prefiro me ausentar sustentar o esquecimento de minha presença aos outros ao mundo assistido partilhado conformado que vive por viver sem saber se come pimentões ou repolho porque tudo vai ficando com o mesmo sabor sem gosto de tão repetido sem ser visto observado. Olho as unhas das mãos e estão todas escurecidas não sei se pelos cigarros viciados ou pelo carvão do churrasco de ontem ou mesmo pelo frango queimado que tentei salvar desfiando. “Yo no sé si es prohibido... Yo no sé si este amor es pecado que tiene castigo...”. E deitado no sofá de onde não saio há horas alias não saio desta casa há pelo menos quatro dias e não houve churrasco nem frango desfiado depois de queimado somente muitos cigarros e nuvem de fumaça não difusa de dor; de pensar repensando naquele amor que ficou dentro como bicho de porco no peito do pé e coça mas coça tanto que é um misto de agonia e prazer e todo humano é um misto destas duas coisas e mais outras tantas que ficam escondidas coçando coçando e vou arrastando meu corpo e os pensamentos e a dor e o peito do pé no chão para coças e sentir agonia e prazer “... Es más fuerte que yo, que mi vida, micredo y mi sino...” e não quero mais falar nem pensar nem sentir só coçar e arrastar tudo eu corpo sentimentos pensamentos desjos e ir ir ir.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Do gosto perdido que ficou na boca

Deito-me, respiro buscando forças, perco-me observando grãos de poeira suspensos no ar. Vou indo com os pensamentos, a casa na qual cresci, a outra que vivi momentos tão tristes, a mesma luz, a mesma poeira sobrevoando e em todas as outras casas a mesma vontade de mudar, de partir, de não permanecer em lugar nenhum, sair por acostamentos, estradas, romper barreiras e barragens. Daí então aquela chuva repentina no verão quente e eu cantando, eu correndo, eu pulando nas poças, eu molhado, eu chorando, eu rindo. Aquela voz me chamando, ela que não queria - que eu não fosse que não molhasse as roupas, o corpo, a casa quando eu voltasse. E se eu não voltasse? E se eu me perdesse como grão de poeira quando chove ou quando anoitece? E se eu fosse mais corajoso do que ela? E se... Ela não me chama mais, mas ainda tenho a máquina de escrever, cor de sangue, como a cozinha que ela tinha. E criei coragem e saí, não voltei mais, não estive mais presente nas festas, nas casas. Também tenho todos os discos que foram dela, aprendi a tocar piano, a falar outros idiomas. Hoje quando deito perdido é porque deixei tantas partes de mim pelas esquinas, porque deixei meus olhos na França, minha língua na Austrália, minhas mãos na Jamaica, meus pulmões em Cuba, meus ouvidos absorvem o tango em Buenos Aires, meus pés no Rio de Janeiro buscam a boemia freneticamente, meu coração bate compulsivo na Bahia. E percebo ainda deitado que não estou perdido, pois me encontrei em cada contato de pele, de mãos, de cheiro, de boca, que me partindo em milhares de pedaços espessos e coesos era à única forma de me sentir inteiro.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Destampado

Grande largura,
universo denso,
espaço enorme.
Desabotoando os sentimentos,
antes amarrados com palha seca - queimou.
As plantas molhadas após um dia de calor e agonia extremos.
Ouvindo os meus passos de pés descalços.
Enxugando os pratos,
varrendo a porta, sala, o quarto.
Tudo muito longe,
tudo muito perto.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Ainda com, sobre, diverso, sortido olhar

E esse olhar sobre mim... Escondo-me, retraio, mas persegue, ousa-me tanto, toca-me.

Não me iludo... Mas é tão encantador esse olhar... Não me diz nada, contempla-me em tudo.

Ando pensando nele, durmo lembrando, acordo esperando.... Ah! Esse olhar! Tenho medo, tenho desejo, tenho...

A sua cor, a sua inclinação, as palavras que lhe saltam rápidas, devagar, soletradas...

Esse olhar me envergonha, faz-me tirar a roupa, faz-me gozar, perfura-me a pele, a alma.

Ah! Esse bentido maldito olhar.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Agruras noturnas ou quem sabe sentimento de mudança

Começou. Sim, começou de forma bruta, não cadenciada. Nuança despercebida, pássaro preto cantando desde as cinco da madrugada. Você está sendo observado há tempo. Amor anti-intuitivo é o que sentes, não sabes o que quer apenas o que não quer. O quadro do Miró em frente à poltrona e fica observando com a xícara de café na mão até esfriar ou com a taça de vinho até esquentar. E com essa mesma taça de vinho se sente leve e quer sair pelo mundo, sem destroços, sem amarras – mas-nunca-tem-coragem-de-sair. Por isso tantas aspirinas, tantas madrugadas acordado pensando em nada, em tudo. Imaginando a noite em que fez amor na grama úmida da praça, a boca melada pelo algodão doce comido minutos antes, o parque e sua roda gigante, cartomantes. E vez em quando um amigo para conversar e o que ele dizia era o que eu sentia e não tinha coragem de dizer. Mas visitas eram raras, furtivas e rápidas por demais, quase médicas. E ficando sozinho fervilhavam os pensamentos, a cabeça doía ainda mais e mais aspirinas que demoravam de fazer efeito e o estômago causava incômodo. Meninos maus não têm lugar no céu. E pensava que ganhava na mega sena acumulada e tentava gastar todo o dinheiro para ver se dormia. Demorava, mas pegava no sono, mas sonhava com serpentes, água jorrando, muitas cores, tons de vermelho e depois um cavalo branco, alado, com dentes perfeitos. E tinham os ciganos dançando. Acordou suado. Mais cansado do que quando havia se deitado. Tudo ao mesmo tempo agora e dentro, aqui, um sentimento sem nome, uma vontade louca de crescer, de mudar, mas mudar dói, e tenta novamente dormir depois de beber água, mas se sente de barriga vazia. E pensa que poderia comer alguma coisa, porque não iria conseguir dormir desta forma, vê que ainda restam algumas fatias de peito de peru, come, bebe mais água, lembra que vai sentir vontade de mijar, mas mesmo assim deita, ganha novamente na mega sena, casa nova, coisas novas, alguns cães, viagens e mais viagens pelo mundo, livre, leve, sem amarras, sem destroços, bocejo...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O fantasma do Mare Dei.

Adicionar link de compartimento
Caros amigos,

Venho indicar para vocês o livro - O fantasma do Mare Dei - de um parceiro de coletânea e editora: GEORGE DOS SANTOS PACHECO. Para quem gosta de uma boa leitura, de apreciar novos autores. Segue sinopse, locais onde ele escreve, site da editora e e-mail para compra.
Grande abraço
Sinopse:

Existem suspeitas de que um estelionatário procurado pela polícia embarcará em fuga para fora do país no navio de passageiros Mare Dei, um dos últimos de sua época. Para encontrá-lo, foi colocado em seu encalço o jovem detetive Aquiles Balmant. Mas existe um problema, a polícia não tem uma descrição exata do bandido. Ele pode ser qualquer um... Para complicar, uma passageira é encontrada morta e o policial precisa agir rápido para descobrir o assassino e o estelionatário, ou chegar a conclusão de que os dois podem ser a mesma pessoa...

Mini biografia:

George dos Santos Pacheco nasceu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, em 07 de outubro de 1981. É autor de O fantasma do Mare Dei, publicado em 2010 pela Editora Multifoco, e do e-book Sete ? Contos Capitais, uma coletânea de seus melhores contos, publicado pelo seu blog. É um dos autores da Coletânea Assassinos S/A Vol. II, também da Editora Multifoco.
Blog: http://revistapacheco.blogspot.com, e-mail:
pacheconetuno@oi.com.br.
Leiam textos do George em:

http://revistapacheco.blogspot.com/
http://clubedoscontos.blogspot.com/
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/georgespacheco
http://www.contosgrotescos.com.br/contos/exibe_obra.php?id=123
http://blogcabecascortadas.blogspot.com/search/label/George%20dos%20Santos%20Pacheco
http://www.webartigos.com/authors/.../George-dos-Santos-Pacheco
http://www.esquinadoescritor.com.br/beco_do_crime/index.asp?area=perfil&id_escritor=79
http://www.arquivodobarreto.com/home/index.php?action=obra&id=69
http://www.contosfantasticos.com.br/
http://www.estronho.com.br/contos-e-cronicas/279-suspense-terror-fantasia-e-outros/4298-o-mal-de-
sepulveda.html
http://www.onerdescritor.com.br/category/autores/george-dos-santos-pacheco/
http://www.cantodoescritor.com.br/
Acesse meu twitter:
http://twitter.com/GeorgeSPacheco
Editora Multifoco
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E-mail do George

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Colar de sentimentos no pescoço do tempo

Algumas vezes penso que não existe nada, que tudo não passa de uma vertigem, um desgosto, um vento morno e que depois tudo passará, perceberemos que o conto de fadas acabou sem final feliz. Mas quando no justo tempo em que divago nessas loucuras, percebo que existe muito mais que desatinos. Existe uma profusão de coisas, fatos, pessoas, sentimentos. Quando do fim de tarde e os últimos raios de sol se esforçam para tocar a janela e inundar de luz o quarto quase escuro, percebo tanta poeira pairando no ar, vejo as cores refletidas no cristal, os lírios sobre a mesa exalando um perfume único. Lembro do pão com mortadela que comi no trabalho na hora do almoço, recordo aquele dia em que me vi apaixonado e já estava há tempo e ainda não tinha caído em si. E pensar que um dia eu tive trinta anos e dezessete e doze. Tanto eu fiz, tanto deixei de fazer. Lembrei da música: “... amanhã já é janeiro para quem partiu em agosto...” e lembrei que eu soltava pipas e arraias, corria que batia os pés na bunda para pegar as pipas dos meninos quando cortávamos com linha temperada. Tudo vai se indo e me vindo à saudade do sertão, da aridez, do sol quente, lábios ressecados, o cheiro da terra sendo molhando quando chove, “... doce viola, arrasta o meu coração, me leva para o sertão, me leva...”, e passear a pé, as praças com suas árvores floridas quando chegar à primavera, os periquitos, os cardeais, galos-de-campina, canários da terra, todos cantando em maestria da chuva. Livres, soltos, o meu eu consolado, afoito sim, mas consolado pelos pássaros, e depois o cair da noite estrelado, a brisa leve, o amanhecer orvalhado. Percebo que quando me sinto tão afobado, preocupado, pensar no sertão me liberta, faz com que eu enfeite o destino, omita para o tempo que o meu tempo não passou e ainda estou lá, menino, leve “... uma jangada à deriva céu aberto, leva os corações despertos a sonhar com terras livres...” sem saber que aos trinta e tantos anos existe um vazio tão grande que as recordações só amenizam, mas não preenchem.

Trechos das músicas:

Minha rede – Roque Ferreira

Doce viola – Jaime Alem

Estrela – Vander Lee

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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