quinta-feira, 16 de junho de 2011

Coisa

Queria escrever. Melhor, precisava escrever, há dias não conseguia nortear minhas idéias dentro de frases. Parece-me que realmente estou dentro de uma bolha que me evapora e tudo se perde em tantos pensamentos-indagações. Então comecei a colar os caquinhos, alguns estavam nítidos, fáceis, outros não, escondidos, mas que de alguma forma consegui achá-los nessa inconstância chamada vida. Mas como sempre, algumas peças do quebra-cabeça caem no fundo de um baú-tempo e nem sempre a imagem fica lúcida. Que mania é essa de querer ser tudo? Que diálogo é esse que só você fala? Cala-te e ouve o silêncio: Megera metida à besta. Diz-me se é isso aí ou é apenas um jogo-de-gato-e-rato? Luz de vida, luz divina, luz da diva, luz que é dádiva. No escurecer do dia, a algazarra dos passarinhos no pé de umbu. A brincadeira é séria. Cortei o dedo quando cortava o pão e o sangue não é o vinho, e a dor não é sonora, mas abstrata e densa dentro do meu peito, soluço estampado, do choro não solto. Sempre tive vontade de escrever um texto que começasse assim: Queria escrever. Melhor, precisava escrever, há dias não conseguia nortear minhas idéias dentro de frases... E hoje parece que ele vem, como parte de mim que sempre quis sair por aí, viajar, conhecer o mundo, mesmo que esteja chovendo em Roma e eu com o dia livre. E mesmo tudo molhado, vermelhos intenso cruzam as ruas em roupas, semáforos, paredes e telhas e sonhas com o sorriso de James Franco e pensar no mais puro mel, chorar de felicidade ou de tédio ou um oceano de arrependimento. E todas as pessoas que liguei e não me atenderam, mas é que nem sempre ou quase nunca tenho coragem de ligar e falar e assumir que tenho algo para por pra fora. E parece que o mundo todo se voltou contra mim – É um trabalho voluntário exigido a todos aqui. Mas o que será de mim, o que farei com meus ideais, não existe uma bussola, nem mesmo mapa, tudo sou eu, os caquinhos, as peças perdidas no baú ou nos espaços entre os tacos do chão. E só penso no sorriso e Buscar a palavra certa, o sentimento completo, o beijo, aquele beijo. É assim que a banda toca, em dias de frio o vinho, o cobertor e estar sozinho passando um pé no outro, pensando em alguém. Caramba, é muita loucura, por isso queria escrever, mas há muito queria escrever, jogar tudo no papel e imortalizar e profetizar e me abster de tudo, só a musica entrando e saindo. Coisa alguma, coisa nenhuma, talvez o resto da dor de um ano atrás tenha ganhado força e agora saindo de mim em forma de chuva, de suor. Coisa nenhuma. Apenas devaneios salpicados de sal que vem nessa bruma. Coisa alguma. Teatro desnudo de uma cena muda, atores monstros transformados em gente e um deles tenta ao máximo ser alguma coisa perto do ser humano, mas falha, porque monstros são perfeitos em serem monstros, mas humano não, humano é demais, humano é poesia e isso tão complicado, é tão cheio de dor, de amor, de paixão, de saudade, de se arrepiar ouvindo a canção. Coisas. A batida, o surdo do samba, cutucando, cutucando as coisas aqui dentro e poderia continuar repondo e sobrepondo palavras e frases, mas chega uma hora que as coisas precisam sair de cena, os monstros precisam desistir e deixar os humanos com os humanos. Vou me arrumar, vou sair, vou ver os vermelhos que reinam, vou ser humano, deixar de ser coisa, de ser monstro, de ser cinza.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Soneto de passarinho

Canta, canta passarinho, canta, canta miudinho
Na palma da minha mão
Quero ver você voando, quero ouvir você cantando
Quero paz no coração...”

Geraldo Azevedo

Sonhei que tinha ninhos de passarinho nas pilastras de dentro de casa, um sonho lindo, nítido. Depois vinham todos eles, os pássaros, para a janela, olhavam o dia cinza, chuvoso e davam a cantar, eram vários, muitos, sabiás, sofrês, galos-de-campina, cardeais, rolinhas-fogo-pago, pêgas, passarinhos-de-arroz, rouxinóis, canários-da-terra, periquitos, pardais e muitos outros, com suas cores e cantos. Uma festa danada em minha janela. Não demorou muito o sol apareceu, veio juntar-se a grande algazarra, banhou tudo com seu dourado, deu mais vida as cores das penas dos passarinhos. Um dia mágico, o sonho vivo.

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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