sexta-feira, 15 de maio de 2015

Quero Romance

Os dias passam dentro do mecanicismo-nosso-de-cada-dia e tudo quer ser urgente, mas essa urgência toda é rasa, não ultrapassa a camada mais fina da pele. Acordar, ir academia,  ao trabalho, conversas rápidas, mensagens em vez de ligações, e-mails, impessoalidade. Onde podemos mergulhar de fato neste rio? Ou ainda temos muito que andar com água pelos joelhos até uma profundidade que nos mereça? Quero romance. Sim, quero cores, estampas, quero beijos roubados, dados, a utilidade do sim, sons de tudo que marca. Sabe aquela besteira toda de recadinhos na geladeira, no espelho, nas portas? Quero todas. Porque sentimento é para sentir, viver, saborear. Quero sensibilidade à flor da pele sem medo. Estou dando a cara a tapa e mesmo que doa, quero dar a outra face ao amor também. Já passamos de tudo e com isso deixamos passar o carinho, o afeto, o que de fato nos faz diferente de tudo. Quero mar, mergulho de cabeça, pôr do sol com todas as suas cores, o nosso papo untados em suor, o beijo na testa de coragem, o olhar de fora, o ver de dentro, o parque, o circo, o teatro, cinema e pipoca grande pra dois. Romance de viagem, de verão, de primavera e todas as estações, a sopa no dia frio e as letrinhas todas que vem com elas traduzindo cuidado. Cuidado. Que palavra importante. Estar em sintonia com o outro e consigo, fazer o bem, não medir esforços para agradar. Para se ter romance tem de ir mais além do rosto bonito, da conversa-entrevista, do corpo em forma, de onde moramos e o que fazemos para ganhar a vida, porque em romance tudo pode acontecer, o mundo muda, pessoas também, mudamos de lugar, de trabalho, transferimos as energias para o que nos faz bem, alteramos os hábitos, corremos na orla, nadamos, porque romance traz outras necessidades, prioridades, é vital. Vamos ao contento da pele, da língua, do ouvir sonoro, da música tema, das risadas soltas. Quero a tela em branco para usar todas as formas de arte que dois, juntos, podem imprimir sobre. Quero o romance da ponta dos dedos sobre minha pele, da minha mão sobre seu rosto, do braço em torno ao pescoço, do banho de gato, do esfregar as costas. Quero o romance das diferenças, do sal, da saudade para querer estar juntos, do crescer e construir. E pensar no futuro e sentir orgulho de tudo que podemos viver, a superação das crises, porque nosso alicerce é bem mais profundo. E quando parecer que não há mais novidade alguma, que possamos nos reinventar em romance, outras formas, outros tantos quereres, novos campos de descoberta, porque somos enormes quando junto, unidos e parece que o tempo será pouco para tudo que ainda queremos ser. Venho desnudando minha alma, quebrando barreiras e soltando amarras, a cada dia mais me sinto livre para ser, usar, viver, gozar em, no, com romance. Então, vamos? Porque prontos nunca estaremos, mas podemos estar em sintonia, com vontade, querendo de fato e o romance nos espera. Vamos? Abrir as janelas, apurar as vistas, refinar a audição, sentir outros sabores, descobrir outros mundos além dos nossos, vamos além das aparências, das esquinas e reticencias. 

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Arme-desarme ou Pedacinhos de doce sortilégio

+ Em um dia chuvoso, enquanto esperava debaixo de uma árvore não sei bem o que ou quem, alguém veio em minha direção e me chamou a atenção, dizendo que eu poderia ficar resfriado, então estendeu o guarda-chuva, para que dividíssemos. Não me conhecia, não sabia quem eu era, o que tinha feito, porque estava ali, apenas quis me proteger da chuva. ++ Você pensa demais. É perigoso. Evito ao máximo fazer isso. +++ Catou as cinzas de cigarro com a ponta do dedo molhada de saliva e depois raspou na borda do cinzeiro. ++++ Hoje tudo parecia querer me tirar do prumo. Mas cantei, sorri e não levei a sério os percalços do caminho. +++++ Será que podemos buscar a memória do que não vivemos? Ou é mais fácil ignorarmos tudo que poderemos viver amanhã?


quarta-feira, 22 de abril de 2015

Evidências ou Peixe fora d’água

#Sobre todas os telhados das casas vizinhas e das outras todas desta cidade está escorrendo, sendo derramado em vértice-poema o choro da noite. Começou calmo, meio que sendo segurado, sei lá. Mas bastou o olhar mais direto da lua e tudo transbordou.
#Tenho a roupa limpa, acabara de tomar banho, passei aquela seiva que ganhei de aniversário, se não me engano, foi quando completei vinte e seis anos.
#O espelho está embaçado. Não. Todos os espelhos estão embaçados. Não consigo definir quem sou quando me olho. Muito mais que uma imagem invertida de mim. É como se estivesse derretendo do outro lado.
#Tapo a boca com a mão esquerda perante o espanto. Não vi nada demais, na verdade nada vi. É que o pensamento que me tomou foi tão inconsequente. Porque os pensamentos são assim, nos espantam e as vezes nos falas calar?

#Desnudado diante da guitarra espanhola, dancei livre, todos estavam ali, todos ouviam, mas só eu estava em pele, dançando. Alguém pareceu me notar, o olhar até tinha um ‘q’ de apreensão, como se quisesse me alertar. Mas eu sabia bem de mim. 

terça-feira, 31 de março de 2015

Eu água

Para se ler ouvindo 

Thalita Pertuzzatti ''Quando Fui Chuva'''



Escorri para dentro, saindo, pra fora, por inteiro, esmiuçando os espaços, lugares, corpo, pele, cabeça, pensamentos, o tempo, tudo, mas tudo quanto pude ser liquido para passar, ficar e seguir. Se de fato meu estilo é de seguir como pede toda água, cheguei onde tinha de chegar, lagos, rios, mares, oceanos, chuva, saliva, suor. Lembro-me pela imagem d’água de cair, solto, quando em cascatas sobre tua pele vivi a entrega da liberdade, do bater de frente e depois o contorno, e perceber que juntos iriamos mais longe. Todo gosto que escondi e então em mais perfeita dança consegui abrir as comportas e me deixar correr por planícies, inundando tudo, rompendo barreiras, barragens, mostrando como sou água. Na memória de tudo que existe, água. Do sangue que irriga, dos olhos que teimam em derramar sal, do beijo que mela, do gozo que faz suar e lambuzar a pele, do juntar, do lapidar, do viver, do liquido que me criou, do leite que me alimentou, em tudo quando sou: água. E se agora pareço sumir de tuas mãos ou quem sabe me deixas ser livre, não me perdes, apenas me ganha de tarde numa xícara de café ou de chá. Sinto me tocar quando no banho te lavo. Aqueço na taça de vinho e sorvemo-nos nas noites frias. Sempre, em tudo, no ar, no lavar as mãos ou o rosto, sou eu água.


Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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