Procurei distante, porque perto
já não enxergava nada. Uma nuvem, bruma, fumaça: Socorro! Um grito ecoando no
vazio, e desespero dentro do quarto, da casa, da cozinha, no limite de tudo, do
caber em si de tanto pensar e comer e rezar e viver e não por pra fora tudo
isso que é muito e não se sabe bem organizar em parágrafos, frases, palavras,
apenas caos, caos, fumaça. Começou assim, de leve, como uma vontade de não
estar mais sozinho, de ter alguém para dividir o fogo, o prazer, o jantar, a
garrafa de vinho, a cama. Depois foi crescendo, como um bolo no forno, subindo,
subindo, o desejo enorme, a solidão beirando a forma, o risco de transbordar,
de derramar e depois o trabalho de limpar tudo, mas não teve jeito, caiu,
passou da borda e começou essa fumaça adocicada, chocolate, e foi aumentando o
desejo, os pensamentos foram e vieram, trouxeram a imagem precisa, mas as coisas
andam tão imprecisas, não ando tendo conversas e ando até impaciente. É isso,
era mais ou menos nisso que queria chegar, no fato de ter de romper espaços, de
ir mais longe, de sair da casca, da casa, da rua, estourar os limites, ultrapassar
as fronteiras que me impedem de ver o inevitável, de perceber o quanto estou me
escondendo por detrás desta fumaça de bolo queimando, desta bruma de romance inalcançável.
Isso.