sexta-feira, 20 de maio de 2011

Quando o amor é amor e reina absoluto

Era dezembro – um ano inteiro passado, mastigado, sorrateiro. Mas o que passou não volta, apenas corre para longe do pensamento, esquecido depois de vivido. As partículas de poeira se amontoando em cima de tudo, apenas alguns fleches de memória, apenas lembranças de partes da história. Já era noite quando ouvi Bidu Sayão cantando: “Acorda, vem ver a lua, que dorme na noite escura, que surge tão bela e branca...”, era um chamado, era a forma mais linda que alguém poderia me chamar ao mundo, ao vivo, era o veneno “anti-monotonia” necessário para desmanchar os nós que travavam minha garganta, evitando que eu gritasse um basta.

***

Acordei meio assustado, era tarde do dia, havia perdido à hora. Algo me dizia para não sair de casa, inventar alguma história e faltar ao trabalho. Mas a responsabilidade me bateu a consciência, tratei de tomar um banho, liguei avisando que não estava me sentindo bem e que chegaria atrasado. Quando comecei a me vestir, na hora em que fui escolher uma gravata, percebi que todas elas viraram serpentes e me espreitavam, aguardavam um mínimo movimento meu para introduzir um veneno mais mortal do que o que eu bebia diariamente.

***

Restou muito, restou muito mais do que eu pensava. No início era tudo confuso, dúvidas, questionamentos a cerca do que me fizeram, do mal que me desejaram, do quanto dei com a porta na cara, e mais as paredes, as janelas, o chão quente e duro, ralando meus braços e joelhos após a queda. Mas quando pensaram que nada mais restava de mim, enganaram-se, deixaram espaço para eu perceber a grandeza que há aqui dentro, o amor mais pleno e ininterrupto, o mais quente e visceral sentimento que pulsa e alimenta, o amor por mim, o que me fez belo e certo do que eu poderia reconstruir, o amor que é amor e reina absoluto em meu mundo próprio e que depois escorre, segue, fluxo líquido evaporando, átomos de mim que encontram amizades verdadeiras, aquelas que independem do que você tem, porque mais vale o que você é.

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Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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