domingo, 1 de abril de 2012

Prego batido e ponta virada – Alusão provinciana ao desespero


Andar pelas ruas e perceber que os passos seguem as rachaduras do asfalto, perder-se dentro de qualquer fenda e palavras soltas saem gritando de dentro para fora, num inconsciente totalmente sabido, e vai-se escorrendo para dentro das arestas e rachaduras do chão. A entrada invertida da porta do céu escondia um véu triste, talvez até meio pálido, existia uma música ao fundo, que destoava do sino que marcava suas badaladas de uma hora qualquer. A janela esquerda não era tão fácil de alcançar e por isso também permanecia sempre fechada, ao contrário da porta dos fundos por onde entravam os patos e as galinhas e logo os cães vinham latindo de dentro colocando-os a correr em desespero. Mas tudo isso resumia um sentimento forte que se vestia de pálido para não espantar aquele a quem se destina toda essa loucura perdida. Essa história descabida de que ser feliz tem de estar em conjugação constante com o amor, mas o amor não quer sair de dentro das fendas, portas, janelas, rachaduras do chão, porta entrada saída invertida do céu descampado em forma de poeira que são nuvens. Ah! Como sexo despretensioso e beijo roubado faz bem a saúde mental que tanto adoece pela falta da realização deste gozo bendito que brota dos olhos quando se vê aquele a quem se destina essa confusão concisa, cigarros queimados tragados como que exorcizando os espíritos maus da desilusão, partindo partido por ir sozinho para as estradas do mundo, caminhos rachados – de um lado o eu do outro aquele a quem se destinam os passos que sempre ousam seguir adiante para sempre estar do outro lado da fenda e não se encontrarem em momento algum, ou somente nos sonhos sonhados que logo se transformam em pesadelos acordados, porque o asfalto continua aberto e mergulha sem rumo nas horas que são hortas do destino, e segue, segue, segue sem medo, descobrindo que o céu é longe, o caminho é longo e o amor se perdeu numa encruzilhada qualquer ou foram os cães que o puseram a correr como patos, galinhas ou gansos e num ato final de desespero se escondeu atrás do véu triste que era a cortina da janela que jamais será aberta. E não adiantarão que os batedores platônicos estejam desbravando, afinal sempre existirão dois lados entre o abismo, do amor, do sexo, do gozo e tudo um dia será calmaria e compreensão, mas não agora que tudo gira ao contrário e flui em descontento imaginário e solitário e pretenso ao caos. 

Um comentário:

Mácio Nunes Machado disse...

Cada palavra, cada linha lida em desalinho, como gotas de água caindo em forma de chuva tão rara para as bandas de cá, deslizavam estrondosamente por minha alma, lavando,lavando... para que a luz do sol em tempos secos do sertão brilhe em uma outra dimensão...
Gostei demais... Parabéns!!

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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