De alguma forma ou de forma
nenhuma o que passou passou. Velhas expressões como ‘não adianta chorar pelo
leite derramado’ em muito servem para não dizer nada ou dizer tudo a respeito
disso tudo em que se vive. Cadeiras vazias em mesas vazias com copos vazios. Na
chuva podemos chorar com maior tranquilidade. O jazz toca freneticamente em
minha cabeça em tudo que faço por onde ando no que vejo ao escovar os dentes
pentear os cabelos há jazz. Cansei de passar em frente à loja de noivas, a
alvura dos vestidos me cansa. Hercília não vem mais fazer faxinas, Hercília
gostava de cantar enquanto engomava as roupas e usava anil para cintilar o
branco. Algumas coisas vêm ganhando corpo para outras uso placebos – na prática
funcionam muito bem. Sempre tive vontade de andar de trem. A sensação genuína de
sempre estar nos trilhos me conforta. Doses homeopáticas de autocrítica não
fazem efeito, na verdade trazem um efeito colateral nocivo, um não, vários.
Tenho vontade de voltar. Não no sentido de regredir ou de escapar como ladrão
pela janela por onde entrou. Mas voltar. Simples. Puro. Porque existe o lugar
sagrado do quero mais. O lugar não, os lugares. O jazz que toca nesses lugares
é muito mais intenso e o daqui de dentro pouco se ouve. Praticidade é um
alimento essencial. Lembro-me de quando me chamavam de bicho grilo e eu dizia
que jamais ia perder isso. E parece que o poema cai como luva que se tem de
usar para lavar os pratos – ‘Outrora eu era daqui e hoje regresso no estrangeiro,
forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim... ’. E não cabido dentro de todos
os lugares que estive e estou, reparto-me como colar de pérolas que quebrou e
cada bolinha saiu por aí, algumas entraram pelo buraco do assoalho, mas muito
mais delas correu por ruas, praças, avenidas, estradas e depois se encontrar no
tudo ou nada que está por aí.
2 comentários:
Há muito tempo não lia suas criações...é tão bom! Um bjão!
Uma deliciosa viagem... otimo texto!
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