quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Outra:vez:amor:dor

A escada sobe, sobe, sobe e não dá em lugar nenhum, como se fosse meus pensamentos, só que no meu caso, dá em um único lugar, nela. Nela padeço, pereço, estremeço, viajo, fico, vivo, com ela tive os momentos mais instigantes da minha jovialidade, experimentei o jeito louco e animal de sentir prazer, com ela cresci. Cresci tanto no amor como na dor, porque ela me fez descobrir o gosto do líquido mais precioso e também o gosto do mais odioso líquido amargo. Amargo acordava quando brigávamos, sentia que meu mundo ia desmoronar, pensava que não existiria mais como continuar vivendo sem ela, porque ela era a escada que eu queria subir sempre e nunca chegar a lugar nenhum, porque não me cansava de subir, subir, subir. Subia sempre o meu sexo subia toda vez que pensava nela, encostava-se a ela, sempre, em riste, pronto, e ela, ávida de mim, molhava-se toda, consumia minha carne, meu suor, nossas bocas misturavam-se, loucas, sedentas, línguas mais loucas e sedentas ainda, era assim que nos tornávamos um só. Só que ela diz não me querer mais, que quer conhecer outros mundos, lugares, pessoas, que não pode mais continuar nessa vidinha sem graça, de cidade pacata do interior, sem badalação, que na capital as coisas acontecem de outra forma, de outras formas, mais luzes, mais brilho, mais sexo, mais tudo. Tudo para ela era tão pouco para mim, porque me bastava à amplitude dela, o tamanho que ela tinha na minha visão, enorme, gigante, monstra, ela meu mundo, meus lugares, todas as pessoas, todos os sexos possíveis, ela a minha cidade grande, cosmopolita, iluminada, cheia de ruas, praças, avenidas, carros, festas, diversão, tudo. Tudo parecia tranquilo para mim, ao mesmo tempo em que tudo se agitava quando ao lado dela, mas ela não queria ser de um só, ela não queria se entregar ao amor de um só, ela queria fugir desse serzinho aqui, pequeno, insignificante diante do todo que ela queria encontrar lá fora. E me lembrei da Clarice Lispector: para te morder e para te soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer – Mas ela não está nem aí para mim, ela está na dela, no egoísmo tântrico, na singularidade do seu contexto e eu? Eu fico aqui, entre goles e mais goles de gim com tônica, espiando pela janela, fumando loucamente um cigarro após o outro, pensando o quanto seria bom que ela não fosse, que ela desistisse desse devaneio de ir embora, de me deixar aqui, sangrando meus pensamentos, masturbação mental que cansa e não dá nenhum, mas nenhum prazer. E vejo a escada que não me leva a nenhum lugar, por mais que eu suba, suba, suba, sempre estarei aqui, embriagado do nada, preso ao passado, entre o amor e a dor.

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Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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