Para se ler ouvindo
Thalita Pertuzzatti ''Quando Fui Chuva'''
Escorri
para dentro, saindo, pra fora, por inteiro, esmiuçando os espaços, lugares,
corpo, pele, cabeça, pensamentos, o tempo, tudo, mas tudo quanto pude ser
liquido para passar, ficar e seguir. Se de fato meu estilo é de seguir como
pede toda água, cheguei onde tinha de chegar, lagos, rios, mares, oceanos,
chuva, saliva, suor. Lembro-me pela imagem d’água de cair, solto, quando em
cascatas sobre tua pele vivi a entrega da liberdade, do bater de frente e
depois o contorno, e perceber que juntos iriamos mais longe. Todo gosto que
escondi e então em mais perfeita dança consegui abrir as comportas e me deixar
correr por planícies, inundando tudo, rompendo barreiras, barragens, mostrando
como sou água. Na memória de tudo que existe, água. Do sangue que irriga, dos
olhos que teimam em derramar sal, do beijo que mela, do gozo que faz suar e
lambuzar a pele, do juntar, do lapidar, do viver, do liquido que me criou, do
leite que me alimentou, em tudo quando sou: água. E se agora pareço sumir de
tuas mãos ou quem sabe me deixas ser livre, não me perdes, apenas me ganha de tarde
numa xícara de café ou de chá. Sinto me tocar quando no banho te lavo. Aqueço
na taça de vinho e sorvemo-nos nas noites frias. Sempre, em tudo, no ar, no
lavar as mãos ou o rosto, sou eu água.
Nenhum comentário:
Postar um comentário