sábado, 6 de fevereiro de 2010

Algum pedaço - ou Fendas desastradas - Confuso

"... e vomitas sobre mim, depois puxas a descarga e te vais, me deixando repleto dos restos amargos do que não digeriste..."
Caio Fernando Abreu - do livro Dragões não conhecem o paraíso.
*****
Era uma festa, tinha uma festa, fez-se uma festa grandiosa pela minha chegada. Cativou-me, lançou olhares, dançou se insinuando, eu quis, eu tive, eu quero. Ainda existia um espaço entre a gente, existia uma nostalgia do outro lado, não era festa completa, não foi festa certa, era máscara de festa veneziana comprada em loja de departamentos. Mas fomos, sempre vamos, mesmo que astros, signos, búzios digam para não irmos, sempre vamos. Tira roupa, joga roupa, corpos nus, muito suor, muito suor, muitos suspiros, muitos suspiros, mundo girando, realidade voltando perturbada. Noites esperando, noites querendo. E uma vez juntos, muito álcool, muita rosca, muita vodka, muita cerveja, muito gim, muito tudo que for de beber e embriagar. E mundo girando, até que corre para o banheiro, se lança sobre o vaso e põe pra fora tudo que foi bebido, tudo que foi imaginado, tudo que insinuou querer fazer. Grito por detrás da porta fechada, grito, grito, chego a ficar rouco, ouço o cair da água do chuveiro, ouço parar de cair a água, abre a porta, sai sem roupa alguma, do mesmo jeito que entrou, deixou no vaso, no ralo aquele desejo todo, pega peça por peça de roupa e vai se vestindo e ao mesmo tempo se desnudando de mim, das palavras ditas. E vai embora, deixando-me na mão, na casa só, na tristeza, na nostalgia que era sua e agora é minha. Ainda resta um garrafa de vinho na geladeira, ainda passará dias até um novo encontro. Ainda haverá paz?

Um comentário:

Solange Maia disse...

pq tem gente assim ? que sai à francesa e nos deixa cheios de interrogações...

gosto daqui...

beijão Plinio

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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