segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Agruras noturnas ou quem sabe sentimento de mudança

Começou. Sim, começou de forma bruta, não cadenciada. Nuança despercebida, pássaro preto cantando desde as cinco da madrugada. Você está sendo observado há tempo. Amor anti-intuitivo é o que sentes, não sabes o que quer apenas o que não quer. O quadro do Miró em frente à poltrona e fica observando com a xícara de café na mão até esfriar ou com a taça de vinho até esquentar. E com essa mesma taça de vinho se sente leve e quer sair pelo mundo, sem destroços, sem amarras – mas-nunca-tem-coragem-de-sair. Por isso tantas aspirinas, tantas madrugadas acordado pensando em nada, em tudo. Imaginando a noite em que fez amor na grama úmida da praça, a boca melada pelo algodão doce comido minutos antes, o parque e sua roda gigante, cartomantes. E vez em quando um amigo para conversar e o que ele dizia era o que eu sentia e não tinha coragem de dizer. Mas visitas eram raras, furtivas e rápidas por demais, quase médicas. E ficando sozinho fervilhavam os pensamentos, a cabeça doía ainda mais e mais aspirinas que demoravam de fazer efeito e o estômago causava incômodo. Meninos maus não têm lugar no céu. E pensava que ganhava na mega sena acumulada e tentava gastar todo o dinheiro para ver se dormia. Demorava, mas pegava no sono, mas sonhava com serpentes, água jorrando, muitas cores, tons de vermelho e depois um cavalo branco, alado, com dentes perfeitos. E tinham os ciganos dançando. Acordou suado. Mais cansado do que quando havia se deitado. Tudo ao mesmo tempo agora e dentro, aqui, um sentimento sem nome, uma vontade louca de crescer, de mudar, mas mudar dói, e tenta novamente dormir depois de beber água, mas se sente de barriga vazia. E pensa que poderia comer alguma coisa, porque não iria conseguir dormir desta forma, vê que ainda restam algumas fatias de peito de peru, come, bebe mais água, lembra que vai sentir vontade de mijar, mas mesmo assim deita, ganha novamente na mega sena, casa nova, coisas novas, alguns cães, viagens e mais viagens pelo mundo, livre, leve, sem amarras, sem destroços, bocejo...

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Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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