quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Com fuso perdido entre horário e anti-horário Vol. 2

Não, não era de aquário nem muito menos de escorpião, mas tinha alguma coisa desses signos que me encantava. Um Tum-tum-tum de alguma música eletrônica-bate-estaca ao longe mexendo com meus pés e os pensamentos. Um gosto travoso de alguma fruta que eu comi no café da manhã, uma luz na casa vizinha que sempre me acorda no melhor do sono. Entrando e saindo, a casa estática, a chuva lenta, os pensamentos sortidos. E pensar em amor sugere algo entre cansaço e decepção, não com os outros, mas com alguma coisa aqui dentro, comigo. Existe uma simultaneidade – em todos os lugares ao mesmo tempo e tudo ao mesmo tempo agora – e entro em curto circuito com o cheiro de algas que vem do mar. O vinho me deixou lânguido, a música ajudou. Verdade nua e crua com olfato apurado e mãos sensíveis. Penso que poderia viver coisas diferentes e nem me ater tanto a esses detalhes que agora soam relevantes. Talvez seja tudo uma questão de ótica, de prioridades, apagar algumas coisas, idéias, pessoas. Amanhã, hoje, não sei, quem sabe depois, enfim...

Chegou à hora

Chega de meias frases, meias palavras

Chegamos ao ponto em que seguimos ou paramos

Nosso amor rompeu tantas coisas

Pulou de um século para o outro

Rimos tanto juntos

Chegou à hora

Pronto

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Brasão do Respeito - Alafiá

Saudando o mensageiro cheguei. Vim pra cantar na chuva e ver o arco-íris que vem com ela, ouvir os trovões que estremecem os que me querem mal; Vim para saldar o sol, buscar luz que vem do verde das matas, dos raios que riscam o céu, dos ventos que varrem a maldade, sentir a energia que me prepara para as guerras diárias que a vida propõe; Pedir benção as lagoas e a lama que há no fundo delas, banhar-me na beira do mar que retira todo o mal, bem como lavar minha cabeça no mais lindo rio, com suas águas doces, descansar a sua beira e escutar o silêncio que cura as chagas do corpo e da alma. Comer o mais branco inhame pilado e aprimorar os sentidos, equilibrar minha cabeça; Curvar-me diante do Tempo e sair para o mundo, pronto, respeitador e forte.

Mojubá Lailai! (Apresento meu humilde respeito para sempre!)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Olhares Obliquos

Remanescente de lugar qualquer, trazia em si uma certeza de coisas tantas que causava espanto. Mas o que mais causava incômodo era o fato de olhar sempre com ar de quem sabia mais, de quem desdenha, que não está nem aí, que poderia contestar ou maldizer tudo a qualquer momento, “... Quaquaraquaquá, quem riu? Quaquaraquaquá, fui eu...” e ela seguia com seus passos, seus desleixos, seus contextos e ria de qualquer um ou não ria, apenas olhava, mas olhava daquele jeito, por cima, de lado, longe, perto o suficiente para intimidar, causar tonteira absurda. Passando pela rua, lá estava ela, à janela, via tudo, não olhava para nada, de frente outras três se espremiam, não olhavam para ela, não olhavam para nada, mas também tudo viam. O dia passando, entre entrar e sair, passar e ficar, conversar, olhar as horas, sempre elas, imprecisas e parecendo não terem muito que fazer de mais original e importante, viam o dia dar lugar à noite e os diurnos aos noturnos, “... E agora cadê, cadê você? Cadê que eu não vejo mais, cadê? Pois é, quem te viu e quem te vê...”, e depois uma saindo, depois a outra, logo em seguida as duas restantes, e várias outras que não se via, mas que olhavam, viam e mesmo que não restasse mais a presença física nas janelas, seus olhares oblíquos ainda olhavam para quem passasse ou parasse.


* Trabalho em carvão de Carlos Gregório de Souza

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O cheiro do mijo

Corri, corri, corri, percebi que ainda estava perto e todos me olhavam, cochichavam coisas que eu não conseguia entender, a moréia dentuça me espreitando – se correr o bicho pega e se ficar o bicho come – a íngua doendo pra cacete, a espada enferrujada não ajudava pelo contrário, só pesava nas costas e eu corria, corria, corria, nada de água fresca, um calor imenso, uma sede louca consumindo meus pensamentos. Passei por um lugar que era um misto de feio e interessante. O sorriso daquele cara era falso, desafiador e queria desmascará-lo, mas não podia parar, a moréia continuava me seguindo, com seus dentes afiados, brilhando sob a luz do sol, a igreja com seu sino das doze horas, a fome roncando na barriga, a correria não cessava, o desespero aumentando, todos olhando e ninguém estendendo a mão, só cochichando, cochichando coisas absurdas que eu não entendia, por fim cheguei a beira de um penhasco - ou morria em baixo sobre as pedras ou morria em cima pelos dentes do bicho solto e feroz que nadava no ar. Decidi pular, sempre tive vontade de pular no nada e nadar, nadar, nadar. Fechei os olhos e me joguei, sem medo, porque eu tinha mais medo do lugar estranho e interessante, dos cochichos do povo, do sino do meio dia, então fui caindo, devagar, sem pressa e quando parecia que não sobraria mais que pedaços de mim, comecei a flutuar, lindo, leve, belo, mas quando dei por mim, despertava, havia dormido bêbado na calçada e o cheiro do mijo invadiu definitivo as minhas narinas. Aos pouco comecei a redobrar as forças e restabelecer contato com os pensamentos e lembranças da noite anterior. O sol quase a pino, quase ao ponto das badaladas do sino e tudo foi clareando, o trabalho, a saída dele às dezoito horas em ponto, a cervejinha com os amigos, a gata de vestido verde, o amigo dela de olhos verdes, os amigos indo embora, o casal me olhando, eu indo ao banheiro, o cheiro de mijo do banheiro, o rapaz de belos olhos amigo da gata urinando ao meu lado, puxando conversa, depois um apartamento ali perto e muita vodka, muito uísque, algumas cervejas que eu não conhecia e por fim, já na cama o resto de uma garrafa de vinho e tudo foi muito louco, muito intenso, e agora esse cheiro que me enjoa e me excita, minha cabeça rodando e doendo, alguns transeuntes que passam e me olham, falam alguma coisa meio que cochichando e a estátua de um gato selvagem no portão em minha frente, era ele a moréia que me assustava. Estou a atrasado para o trabalho, aliás que exploda aquela repartição, quero minha cama, quero seguir viagem, voando, deslizando num ar cheio de cheiros, quero quem sabe tirar a máscara daquele homem sorridente falso ao extremo falastrão do nada e depois curtir a leveza, o cansaço, a cama, o sonho.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Última Carta

Não te quero mais junto a mim, nem próximo, nem ao largo que eu passe. Distância máxima não existe, o ideal seria que você cavasse um buraco e lá ficasse; não aparecesse ao sol, à chuva, ao vento, a nada. Porque tu és vil, imunda, petulante, covarde, macabra, és simplesmente um horror que não quero ter o desprazer de lembrar depois que eu terminar de escrever esta carta. Quanto à casa que estás, ateie fogo, não quero dela nem o terreno, muito menos o que nele há. Não me mande mais suas contas nem me peça um tostão que seja; não me ligue nem me escreva; não mande recados, nem muito menos pelos teus filhos, que apesar de serem teus, tenho um carinho independente de ti por eles. Deles quero toda a presença, conversas. Com eles eu me entendo. E se te resta um pouco de vergonha na cara, rasga esta carta em mil pedaços e joga ao vento, para que de mim tu também nada tenhas, porque após este ponto final que está por vir, em mim de ti nada mais resta.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Padrão desapropriado em noite de desuso

Pardo

Vespas sobrevoando cabeças

Ardo

Vento esvoaçando saias

Tardo

Pensamentos consumindo corpos.

Passo arrastando meu corpo já que este não consegue acompanhar a fluidez de meus sentimentos desejos pensamentos e caio deliberadamente em atrapalhes de palavras; de pernas; de braços. Buscava alguma coisa mas foi aí que tudo encontrei nesse nada que continuo vivendo querendo sabendo perdendo fugindo. O dia passou arrastado também sol forte calor supremo meio das pernas, suor escorrendo pelas costa e vai caindo descendo molhando. Nem muitas conversas sem paciência para isso ou aquilo nada muito especial mas momentos simples em que viajava ouvindo músicas coisas de gente louca ou normal a depender do ponto de vista. Saudade talvez lembrança talvez dor talvez amor talvez tanta coisa que não isso e vou indo novamente arrastando o corpo e agora os pensamentos tanto sono mau agouro mau olhado pessoas destrutivas estourado bombas internas e implodindo as energias que sustentam coisas boas. Tudo meio desordenado sem guardar muito o gosto dos instantes na boca língua pele. Prefiro me ausentar sustentar o esquecimento de minha presença aos outros ao mundo assistido partilhado conformado que vive por viver sem saber se come pimentões ou repolho porque tudo vai ficando com o mesmo sabor sem gosto de tão repetido sem ser visto observado. Olho as unhas das mãos e estão todas escurecidas não sei se pelos cigarros viciados ou pelo carvão do churrasco de ontem ou mesmo pelo frango queimado que tentei salvar desfiando. “Yo no sé si es prohibido... Yo no sé si este amor es pecado que tiene castigo...”. E deitado no sofá de onde não saio há horas alias não saio desta casa há pelo menos quatro dias e não houve churrasco nem frango desfiado depois de queimado somente muitos cigarros e nuvem de fumaça não difusa de dor; de pensar repensando naquele amor que ficou dentro como bicho de porco no peito do pé e coça mas coça tanto que é um misto de agonia e prazer e todo humano é um misto destas duas coisas e mais outras tantas que ficam escondidas coçando coçando e vou arrastando meu corpo e os pensamentos e a dor e o peito do pé no chão para coças e sentir agonia e prazer “... Es más fuerte que yo, que mi vida, micredo y mi sino...” e não quero mais falar nem pensar nem sentir só coçar e arrastar tudo eu corpo sentimentos pensamentos desjos e ir ir ir.

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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