Para se ler ouvindo Romeo nas
vozes de
Thiago Pethit e Hélio
Flanders
Meio que sem jeito tudo começou.
Depois parecia ir se encaixando de forma leve, mas precisa. Não minto em dizer
que não dava nada. Juro! Não acreditava que fosse ir mais, além. Talvez aí
esteja o segredo. Verdade seja dita. Creio que você também não apostava tanto.
Fomos tão desleixados, despreocupados. Isso! A palavra correta é essa:
despreocupados. Eu não liguei porque achava que seria precoce e afobado. Você
não ligou. Não sei porque não ligou, mas deveria ter o sentido de espera, de
saber qual o próximo passo que daria. E do nada nos encontramos no bar. Tenho
tudo como uma cena fílmica – ao passo que eu chegava ao balcão para uma
primeira bebida na noite, você voltava do banheiro, ajeitando os cabelos
desgrenhados. Nos vimos, rimos com os olhos primeiramente, para depois esboçar
nos lábios o prazer do encontro. Cumprimentamo-nos primeiro como amigos, mas
aquele abraço me veio tão protetor. Seu cheiro me invadiu e causou um frenesi.
Um instante eterno. Ali mesmo justificamos de forma tola nossas ausências,
desprendendo desculpas esfarrapadas. Esquecemos por certo momento que estávamos
ali, cada um com seus amigos. Ao me oferecer uma bebida acabou me lembrando que
tinha ido ali justamente para buscar uma. Ri, meio que sem jeito, por me ver
perdido e preso aos seus encantos. Falamos ao mesmo tempo num convite para nos
juntarmos a mesa e companhia que estávamos. Rimos juntos. Mas rimos mesmo e eu
olhava seus lábios e dentes e me sobrava desejo de te beijar. No fundo no fundo,
eu queria ficar só com você ali ou ir para qualquer outro lugar, desde que
fossemos somente eu e você. E mais uma vez você me surpreendeu. Parecia ler
meus pensamentos, meus olhos, minha alma. E então largou aquelas palavras como
quem solta fogos de artificio – vamos há algum lugar? Só nós dois? – estremeci,
ardi, ri um riso bobo de entrega. Paguei as bebidas. E fui em direção aos meus
amigos. Disse que estava indo. Eles não precisavam de justificativas, primeiro
por serem amigos verdadeiros e depois, por terem visto a forma com que conversávamos.
Saímos dali ainda sem saber para onde iriamos, mas isso pouco importava e ainda
hoje pouco me importa para onde vamos. Afinal, em estar contigo sinto que
podemos construir qualquer coisa. Quando entramos no taxi, olhamo-nos numa
indagação para onde deveríamos ir. Os teus olhos quase fechavam no sorriso
farto e isso me encantava profundamente e encanta até hoje. Roubou-me um beijo.
Você deu o seu endereço e partimos. Sentia-me numa montanha russa, tamanho o
frenesi em meu estômago. Uma eternidade se fez dali até sua casa. Conversávamos
com o intuito de fazer o carro ir mais rápido. Sabíamos que nosso vulcão estava
prestes a explodir. Sua mão em minha perna. Meu braço em torno ao seu pescoço. Dali
em diante é tudo que eu rezava e pedia a Deus. Creio que silenciosamente você
agradecia. Nesse exato momento que volto a esse dia, vejo você com sua mania de
enrolar os cabelos com as pontas dos dedos e ainda fico encantado como da
primeira vez. Tanto tempo se passou e ainda agora tenho seu suor me lavando a pele.
Deito minha cabeça em teu peito e sinto seu coração me irrigando de amor. Você
se reclina e sela seus lábios em minha testa. Deixa ali a marca dos lábios que
tanto amo ver sorrir. Rio e do nada você diz – eu também te amo. Você não
perdeu o poder de me ler e isso me faz muito feliz.
Plínio Gomes
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