quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Em se deixar levar e lavar


Para se ler ouvindo Romeo nas vozes de

Thiago Pethit e Hélio Flanders

 
Meio que sem jeito tudo começou. Depois parecia ir se encaixando de forma leve, mas precisa. Não minto em dizer que não dava nada. Juro! Não acreditava que fosse ir mais, além. Talvez aí esteja o segredo. Verdade seja dita. Creio que você também não apostava tanto. Fomos tão desleixados, despreocupados. Isso! A palavra correta é essa: despreocupados. Eu não liguei porque achava que seria precoce e afobado. Você não ligou. Não sei porque não ligou, mas deveria ter o sentido de espera, de saber qual o próximo passo que daria. E do nada nos encontramos no bar. Tenho tudo como uma cena fílmica – ao passo que eu chegava ao balcão para uma primeira bebida na noite, você voltava do banheiro, ajeitando os cabelos desgrenhados. Nos vimos, rimos com os olhos primeiramente, para depois esboçar nos lábios o prazer do encontro. Cumprimentamo-nos primeiro como amigos, mas aquele abraço me veio tão protetor. Seu cheiro me invadiu e causou um frenesi. Um instante eterno. Ali mesmo justificamos de forma tola nossas ausências, desprendendo desculpas esfarrapadas. Esquecemos por certo momento que estávamos ali, cada um com seus amigos. Ao me oferecer uma bebida acabou me lembrando que tinha ido ali justamente para buscar uma. Ri, meio que sem jeito, por me ver perdido e preso aos seus encantos. Falamos ao mesmo tempo num convite para nos juntarmos a mesa e companhia que estávamos. Rimos juntos. Mas rimos mesmo e eu olhava seus lábios e dentes e me sobrava desejo de te beijar. No fundo no fundo, eu queria ficar só com você ali ou ir para qualquer outro lugar, desde que fossemos somente eu e você. E mais uma vez você me surpreendeu. Parecia ler meus pensamentos, meus olhos, minha alma. E então largou aquelas palavras como quem solta fogos de artificio – vamos há algum lugar? Só nós dois? – estremeci, ardi, ri um riso bobo de entrega. Paguei as bebidas. E fui em direção aos meus amigos. Disse que estava indo. Eles não precisavam de justificativas, primeiro por serem amigos verdadeiros e depois, por terem visto a forma com que conversávamos. Saímos dali ainda sem saber para onde iriamos, mas isso pouco importava e ainda hoje pouco me importa para onde vamos. Afinal, em estar contigo sinto que podemos construir qualquer coisa. Quando entramos no taxi, olhamo-nos numa indagação para onde deveríamos ir. Os teus olhos quase fechavam no sorriso farto e isso me encantava profundamente e encanta até hoje. Roubou-me um beijo. Você deu o seu endereço e partimos. Sentia-me numa montanha russa, tamanho o frenesi em meu estômago. Uma eternidade se fez dali até sua casa. Conversávamos com o intuito de fazer o carro ir mais rápido. Sabíamos que nosso vulcão estava prestes a explodir. Sua mão em minha perna. Meu braço em torno ao seu pescoço. Dali em diante é tudo que eu rezava e pedia a Deus. Creio que silenciosamente você agradecia. Nesse exato momento que volto a esse dia, vejo você com sua mania de enrolar os cabelos com as pontas dos dedos e ainda fico encantado como da primeira vez. Tanto tempo se passou e ainda agora tenho seu suor me lavando a pele. Deito minha cabeça em teu peito e sinto seu coração me irrigando de amor. Você se reclina e sela seus lábios em minha testa. Deixa ali a marca dos lábios que tanto amo ver sorrir. Rio e do nada você diz – eu também te amo. Você não perdeu o poder de me ler e isso me faz muito feliz.
 
Plínio Gomes

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