domingo, 28 de março de 2010

Jogo amargo ou Cadarços desamarrados em dia de chuva – 2

“... há sonhos que devem ser ressonhados, projetos que não podem ser esquecidos [...] Reses, enxurradas, tenho medo do outono das esquinas...”

Hilda Hilst – Do livro ESTAR SENDO. TER SIDO.

Cigarro amassado entre os dedos, uma vontade imensa de fumar, mas não há um transeunte fumando por essas bandas. De que cor é sorte? Pergunto-me indagando feito bêbado cornudo, moribundo, falido e fétido estragado pela quantidade de vida vivida e pelas bebidas todas que ousou por para dentro. Sorte em azar, isso sei que tenho a ponto de tudo me acontecer de ruim, de podre, de nojento. Perdi não só o dinheiro, as economias, o trocado do pão, perdi o carro, o emprego, a casa, a esposa que se foi com o filho da puta do filho do Zezin do armazém. Perdi o respeito de meus filhos, que se foram também, perdi as roupas e me restaram esses farrapos achados num lixão. Não tenho nada há não ser a sorte de ainda estar vivo e de me acontecer coisas piores. Sem um mísero real para jogar no bicho e mudar de vida, jogando no galo, claro, porque sonho com esse bendito galo cantando há dois dias e sempre deu ele na cabeça, na minha, no primeiro prêmio, mas não tenho como apostar, não tenho, perco a chance de ter galo cozido com batatas, há quantos dias não almoço, não janto, não tenho um café da manhã digno e nem mesmo não digno, porque afinal o que mereço?

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Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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