segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Nobre ofício do ser (Domingo escancarado)

Roda rodando descompensada, algodão doce azedando a boca, vento poeirento inundando os olhos de lágrimas, nebulosas formas de nuvens, um céu de meio dia a pino doendo à cabeça, mar sereno num vai e vem desgastante. Arrebenta o dedão do pé numa pedra solta na calçada, mais adiante pisa nas fezes de um cachorro de madame, suspira, respira fundo, o dia ainda não acabou, existe lutas a serem lutadas, perdidas ou quem sabe uma vitória antes de dormir. Tudo numa sincronia perfeita de desastre. Acreditava numa forma desigual de encontrar as coisas, de envolver o passado e preservar um futuro que eu queria que existisse que raiasse como sol de primavera, mas onde está tudo, em que casa abandonada se esconderam os meus sonhos sonhados? Passou o deságue, passou o jeito salgado de lágrimas, ainda está passando o gosto travado na boca da vodka da noite anterior. O que mais existe entre os átomos e o espaço que me separa do contexto enxuto do gostar de alguém e de realizar o gostar? Devaneios tolos em sons de guitarra, água gelada gelando a garganta e uma vontade enorme de gritar seu nome, de gritar algumas verdades que escondo de mim mesmo e eu constato que ando perdendo um tempo precioso, que nada mais importa, há não ser resolver essas indagas todas que me perturbam, enchem-me o saco. Tudo desconexo. Qual o sentido? Era tempo de flores, mas os jarros continuam vazios sobre a mesa, criado-mudo, aparador, geladeira, nada de cartões postais, nem menos cartas perdidas. Os jornais acumulados de uma semana, notícias depravadas, escândalos, horóscopos batizados. Nada de novo, tudo enormemente velho, saturado, feito o óleo dentro da panela que fritei batatas. Mas isso tudo é porque hoje é domingo e me bate ressaca moral, a solidão aflorando a falta de alguma coisa, de alguém que não lutei para ter perto de mim, desfecho de história sem graça, sem final feliz, sem príncipes e princesas, sem maças envenenadas, mas as bruxas existem dentro de meus pensamentos agourentos, e simplesmente desisto de pensar, basta uma aspirina, um chá calmante e adormecer sem ligar a TV. Pronto. È isso.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom texto. O domingo, na maioria das vezes, é realmente um dia sofrível. Só as pessoas comuns sabem "fazer do domingo em um dia domingo". No fundo, acho que as pessoas comuns são mais felizes...

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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