segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Com fuso perdido entre horário e anti-horário.


Sinuoso caminho
Entre brumas que escondem os olhos
Entre olhos que não querem ver
O mundo que quer desaparecer por entre os dedos
Fumaça espessa de cigarro ardendo o olfato
Água barulhenta entre os meus pés
Terra quente por meus ouvidos
Capim verde amargando a pele
Curva abstrata na memória da boca
Caminho cínico perdido entre abismos de mãos
Não cabe mais,
Não vive mais,
Não chove mais,
Não ri mais,
O estender esgarçado roeu as linhas do tempo
A loucura nefasta comeu o último pedaço de doce
A voz dolorida cantava histérica,
Os ouvidos ansiosos nada podiam ouvir,
Olvido de tudo o nariz nada sentia, apenas queria sentir
Os pés não corriam, não andavam, sôfregos
Perdeu-se tudo,
Se tudo perdeu,
Tudo se perdeu,
Perdeu tudo se,
Divina comédia do não fazer rir, nem chorar, nem nada, nem coisa nenhuma,
Deu-se por demais,
Demais por se deu,
Se por deu demais,
Por se demais deu,
E foi, seguiu, simples, confuso, insinuativo,
Substantivo demais,
Adjetivos de menos,
mais ou menos,
advérbios seguidos de predicados, desalinhando coesão e coerência.
Assim, como foi, sendo isso pois, passado, atrás.
Espinho no pé,
corte na mão, boca azeda.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Oni saurê, aul axé

Ponho-me aos teus pés meu Pai.

Lança-me sobre mim Tua sombra benigna.

Faz de Tua limpeza a claridade de meus caminhos.

Não deixas que eu caia em desespero.

E que ninguém tire meu olhar do horizonte.

Que eu tenha respeito aos mais velhos e saiba com eles aprender o que se deve.

Dê-me saúde meu Pai e também paz no meu coração.

Que eu possa ser um condutor de Tua compaixão e luz.

Que eu só faça o bem.

Não permitas Pai, que eu caía nas armadilhas dos que me querem mal.

Esteja sempre como meu guia, meu escudo, minha proteção.

Agradeço-te e aos Teus pés me ponho.

Servo de Ti.

Esè Epa Bàbá

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sonata de fim de inverno

À amiga Johanna

Meu coração pulsando em noite enluarada.
Brisa marítima com som de vai e vem.
A bela mulher que aguça meus ouvidos,
brinca com cordas e arco
e faz meus pensamentos voarem.
Ela lá,
eu cá,
transmutado de beleza pura,
admitindo a simplicidade do belo
Olvido o triste.
A languidez da luz amarela que brota da janela,
junto aos acordes do violino,
aurora noturna de prazer.
Não sabes essa mulher que agora trouxe de volta lembranças ternas.
Não sabes o quão profunda sua música tocou meu ser.
Mas sabe que seu som paira o real,
como se fosse nuvem em meio ao deserto.
Ah! Bela mulher, de tão longe vieste,
para perto de mim tocar seu instrumento
e adentrar recordações em meu peito.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Nobre ofício do ser (Domingo escancarado)

Roda rodando descompensada, algodão doce azedando a boca, vento poeirento inundando os olhos de lágrimas, nebulosas formas de nuvens, um céu de meio dia a pino doendo à cabeça, mar sereno num vai e vem desgastante. Arrebenta o dedão do pé numa pedra solta na calçada, mais adiante pisa nas fezes de um cachorro de madame, suspira, respira fundo, o dia ainda não acabou, existe lutas a serem lutadas, perdidas ou quem sabe uma vitória antes de dormir. Tudo numa sincronia perfeita de desastre. Acreditava numa forma desigual de encontrar as coisas, de envolver o passado e preservar um futuro que eu queria que existisse que raiasse como sol de primavera, mas onde está tudo, em que casa abandonada se esconderam os meus sonhos sonhados? Passou o deságue, passou o jeito salgado de lágrimas, ainda está passando o gosto travado na boca da vodka da noite anterior. O que mais existe entre os átomos e o espaço que me separa do contexto enxuto do gostar de alguém e de realizar o gostar? Devaneios tolos em sons de guitarra, água gelada gelando a garganta e uma vontade enorme de gritar seu nome, de gritar algumas verdades que escondo de mim mesmo e eu constato que ando perdendo um tempo precioso, que nada mais importa, há não ser resolver essas indagas todas que me perturbam, enchem-me o saco. Tudo desconexo. Qual o sentido? Era tempo de flores, mas os jarros continuam vazios sobre a mesa, criado-mudo, aparador, geladeira, nada de cartões postais, nem menos cartas perdidas. Os jornais acumulados de uma semana, notícias depravadas, escândalos, horóscopos batizados. Nada de novo, tudo enormemente velho, saturado, feito o óleo dentro da panela que fritei batatas. Mas isso tudo é porque hoje é domingo e me bate ressaca moral, a solidão aflorando a falta de alguma coisa, de alguém que não lutei para ter perto de mim, desfecho de história sem graça, sem final feliz, sem príncipes e princesas, sem maças envenenadas, mas as bruxas existem dentro de meus pensamentos agourentos, e simplesmente desisto de pensar, basta uma aspirina, um chá calmante e adormecer sem ligar a TV. Pronto. È isso.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sinhá Flor

Feminina figura,
esplêndida dentro de si,
não cabe mais e floresce.
Pétala e mais pétalas, flor.
Branca em lua,
sol raiando em virtuosidade.
Todas as noites quando cansado de tentar de tocar,
ele faz surgir nova estrela no céu.
O vento leva de ti o perfume inebriante.
Quando de teus olhos brotam lágrimas,
o mesmo céu fica tempestuoso, desata os nós da chuva.
Teu jeito doce não esconde tua força, só aumenta.
Pecado não te dar olhos, bela florescência.
Maior ainda não dar ouvidos a tua voz aveludada.
Nobre mulher,
sublime perfeição,
aos teus pés me ponho
assim como faço em altar.


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Braseiro

Queimando, ardendo.
Redomas ateadas em fogo extremo.
Nada de círculos protegidos, apenas chamas.
Não há água alguma para apagar,
somente líquidos de acender.
Ardido, brilhante.
Eis que entre brasas e luz que queimam,
estende-se e se deixa lavar.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Linguagem - Pré/Pós - Do não caber em si

Ávida de tudo,
seguiu percorrendo a superfície do corpo.
Parou quando encontrou a outra que ansiava por ela.
Doidas, brigaram entre si,
vez dentro de uma,
vez dentro da outra boca.
Cansadas, mas não saciadas,
não entregues,
desciam ao pescoço,
adentravam ouvidos,
esqueciam a guerra peculiar por instantes,
depois retornavam num contorcionismo desenfreado.
Quando perceberam que buscavam o mesmo ápice,
ritmaram juntas,
quando do salivar aumentando,
entregaram-se,
deixando que os lábios continuassem o entendimento.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Do morro, da oração - Sentir

Espelhado céu
Espalhado mar
Entre preces e súplicas no alto do morro
Meus pensamentos dissolvo
resignado sigo
dissipando a agonia
estático fico,
o rio que se movimenta
e invade, arrebenta
do sopro verde que vem
filtros de mangue
filtros de sonho
perfeito estado tranquilo
leve, solto, ensimesmado - mesmo que o som não caia bem.
Concluindo nada,
vivendo tudo,
barcos açoitando as águas em carinho absoluto.
Entre os olhares de quem não vejo,
preso ao gosto salivado,
boca latejando desejo,
corpo pulsando entre suspiros e palpitações,
caio em delírio são,
conluio de sentimentos bons,
Voz de ressoar translúcido,
onde o olhar que penso brilha,
completo, tímido, feliz e um tanto amedrontado.
E o querer sair por aí grita,
onde o ficar por aqui reina,
onde o despertar junto manda.
Entre sons do bambu chove
Espalhado céu
Espelhado mar
Um rio de rezas
Vento com gosto salivado
Do outro lado mais querendo
E bocas dizendo amém.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

De volta, envolta, volta

Quis que nada mais me perturbasse que eu não me deixasse mais me levar por caminhos desconhecidos. E por mais que eu sempre tenha sonhado em ver o mundo, em ser o mundo e não mais me caber, eu quis, quis mesmo, que nada fugisse ao meu controle, que tudo fosse mais previsível, mais atado. Andava assim, satisfeito com o que vinha acontecendo, mas comecei a perceber que andava ávido de mudança, de sentimento, faltava-me inspiração, cabia algo novo, diferente. Percebi que eu não consigo me comportar nas coisas moldadas demais, que sentimento é solto, livre, como pássaro que míngua na gaiola eu estava sucumbindo ao tédio, ao sem gosto, sem cheiro. Caí em si, caí em mim, que aquele modo de vida não era meu, não era para ser eu, jamais. Porque eu conseguia ver além, porque quando as luzes se acendiam enquanto eu passava era um sinal, porque a lua estava mais bela que o normal, porque as palavras tropeçaram em minha boca, e isso não é comum. Vi coisas que estavam em minha frente, mas que eu fechava os olhos para não ver, porque tinha medo, receio, dívida, covardia até a tampa dos olhos. Libertei meu ser, soltei os bichos todos, soltei os fantasmas. E quanto sinto medo, mais me jogo, mais me lanço ao mar, mais corro para cima, porque não quero voltar à vida de letargia.

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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