Faz parte de um jogo. Pregador de roupas, varal, sol e claro, roupas estendidas, esperando ser secadas. Mas o que muda nesse jogo é que não há sol, apenas essa maresia que consome os eletrodomésticos e refrigera minha alma e muitas, mas muitas nuvens cor de chumbo. Poderia falar de desejo, mas o que me custa é demasiadamente pesado, forte. Por isso, venho caminhando numa rua de luzes amarelas em postes de madeira. Enquadramento da câmera nos meus passos descompromissados, a trilha sonora faz um ziguezague com o som dos meus sapatos num cimento cru. É fim de tarde início de noite, o litoral iluminado por esses postes. A música que volta e meia toca é In my place do Coldplay. Poderia falar de amor, mas isso me custa muito mais que o desejo e seguir é preciso. Começa a chover. Continuo o meu andar calmo, despretensioso e perdido enquanto a fina chuva caía. Mas nesse jogo, lembra-se é uma arma mortal e necessária. Saio correndo pela rua, encharcando-me de tudo, existem roupas no varal, é isso, existem coisas que não devem ser molhadas, não quero um re-trabalho. Do terraço onde estão estiradas as amarguras, presas à fina corda, vejo um mar revolto, vejo meus pensamentos nele, sinto que está arrebentando na praia. Poderia falar de sofrimento, mas isso muito me custa também, e tudo é uma questão de escolha. E nesse momento, sem roupas estendidas, sem nada para me preocupar a mais do que em minha vida, então ponho para fora lágrimas que se misturam a chuva. Deixo-me levar, lavar, porque isso tudo irá acabar, isso tudo que hoje me sorve, amanhã, com sol, será apenas evaporação. Poderia continuar a pensar, mas isso, justamente isso, é o que não quero, mas como parar um jogo ininterrupto? Como? Tudo continua, à noite correndo, a trilha sonora, o sopro marítimo, eu.
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Um comentário:
como se desse pra segurar os pensamentos, ou serenar o mar.
eu estou esperando a maré baixar...
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