terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Um dia desses - quando não entendemos o que se passa.

Levantou-se da cama num pulo só, numa destreza sem tamanho. Espantei-me com aquilo, jamais havia visto agindo daquela forma. E eu não fiz nada, apenas fiquei calado enquanto falava, falava e falava. Bem que sabia que eu não gosto de conversar depois que fazemos amor, apenas quero que recoste a cabeça em meu peito e fique ali. Acendo um cigarro para nós dois e ficamos ali. Nada de banho, apenas os nossos corpos juntos, suados, entregues e cansados. Mas naquele dia achou de falar, discutir uma relação de anos naquele momento e eu apenas ouvia. Teve um determinado momento em que se virou, olhou nos meus olhos e perguntou se eu amava, fiz que sim num gesto comum, mas parecia sentir dúvida, não sei. Nesse momento levantou-se num assombro sem precedentes. Num piscar de olhos vestiu-se e foi saindo enquanto riscava o fósforo para queimar o cigarro preso aos dentes, foi se dirigindo à porta e antes de batê-la, virou-se e disse com os olhos cheios de lágrimas: você é insensível.
Não tive reação alguma com aquilo tudo, fiquei estático. Depois de um tempo parado na mesma posição e de ter fumado uns três cigarros, pensei em ligar, pensei em sair à procura, mas decidi dar-lhe um tempo, ou mesmo, me dar um tempo para entender o que havia acontecido. Estamos juntos a mais de três anos, não moramos juntos porque gostamos da liberdade de ir e vir, nos respeitamos, nunca traí, temos amigos em comum e amigos diferentes. Saímos juntos e separados, decidimos juntos comprar os três gatos, bem como os nomes deles. Não somos tão parecidos e isso é que sempre deu o equilíbrio.
Lembro-me como se fosse hoje como nos conhecemos, no dia do aniversário da cidade, estávamos num bar, sentados no balcão, distantes cerca de uma metro um do outro e depois de várias doses de gim tônica tive coragem de lhe chamar para sentar ao meu lado. Daí foram outras tantas doses na noite e outros tantos dias para rolar o primeiro beijo e mais outros dias para irmos para a cama. Damos certo porque conversamos muito antes de tudo acontecer. Sinceramente não entendo porque está agindo desta forma. Decidi então tomar um banho, sair desse estado de letargia que me invadiu e assim, quem sabe achar uma solução. Já debaixo do chuveiro, lembrei do primeiro presente que lhe dei, quando fizemos três meses de namoro, comprei dois ingressos do show de Virgínia Rodrigues, cantora que me apresentou no primeiro jantar que fez pra mim em sua casa. Nossa, que dia mágico! Porque tudo isso está sendo deixado de lado agora? Porque tem de agir dessa forma? Será que não compreende que cada um tem sua forma de amar e de demonstrar?
Quando viajamos juntos certa vez, fomos para o Delta do Parnaíba, olhou pra mim no ônibus, já no meio de percurso e perguntou o que eu achava da nossa relação, com palavras poucas, disse-lhe que jamais havia estado tão tranquilo e feliz e sorri. Ficou sem falar nada por um tempo e me disse que me amava. Dei-lhe um beijo de olhos abertos, para que pudesse ler em minha íris que sentia o mesmo. Mas parecia querer ouvir da minha boca e eu não disse. Meses depois, em seu aniversário, preparei uma festa surpresa com poucos amigos, estava presente sua família e a minha também, quando chegou a minha casa e viu aquilo tudo encheu os olhos de lágrimas e me abraçou. Disse-lhe naquele momento, bem baixinho, sussurrando mesmo em seu ouvido: minha vida, meu amor, minha paixão, não saia jamais da minha vida. E assim desabou em choro de vez, todos perguntavam o porquê e disse apenas que era felicidade e sei que era mesmo, eu podia sentir seu coração falando para mim.
Sua mãe tem uma verdadeira adoração por mim, já seu pai é bem parecido com o meu, calado e sem demonstrar qualquer sentimento. Mas no fundo, sabemos que aprovam a nossa relação. Minha irmã mais velha, numa tarde em que estávamos todos na casa de meus pais, disse a nós dois que um dia queria encontrar um amor tão forte e verdadeiro como o de nós dois, fiquei tão feliz com isso que não soube o que dizer.
Tomado esse banho, acho melhor eu ir atrás, não quero que fique pensando besteiras, por mais que eu não saiba o que esteja se passando naquela cabecinha. E eu não quero perder jamais esse amor.

Um comentário:

Thiago disse...

é que a realidade é só um detalhe.

Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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