sexta-feira, 28 de maio de 2010

Aquele jeito lobo tolo de ser (Macho)

Penumbra proposital no bar do cais. Um jazz antiquíssimo, as vozes estridentes de duas mulheres numa mesa ao fundo. Saí com intenção de me perder por aí e me encontro aqui, entre doses de conhaque e solos de trompete. Aquele jeito lobo tolo todo de ser me voltou com mais força, de querer se confundir com a noite, de espiar a lua, justamente essa que vem deixando a madrugada azulada e o mar mexido. Não sei bem o que ocorrerá daqui pra frente, já que esse hemisfério de pensamentos é tão desnorteante. Existe muito calor e muita roupa. Aquele gosto ainda persiste e quero matar o desejo de continuar sentindo por mais tempo, mas o cordeiro não pasta por esses lados há um tempo e não tenho como saciar a sede de saliva e suor. Eram outros tempos na última lua cheia, era verdadeiramente estado de consumição. Corro no banheiro, lavo as mãos, cheiro de erva-doce, esfrega-esfrega, enxágue. Volto à mesa, novo gole, lembro que não comi nada e nem ninguém, por isso este mau-bem estar, por isso o enevoado, o enervamento quase comunista. Ah! Essa vista de mar revolto está me deixando fora de mim, quero sair, quero sumir, perder-me como então era a proposta original. Lobo feroz me corroendo a pele de cordeiro esquecido. Quero ataque, quero elegância ao passo dado, nada de um equador me dividindo, separando-me do ato de matar a fome, a sede. Vamos ao que interessa, avante com uivos loucos e altos. Não sou querelante, sou do ato, do dado, do ser, então vamos ao que tem de ser, solto, selvagem e chega de ser falante.

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Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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