Penumbra proposital no bar do cais. Um jazz antiquíssimo, as vozes estridentes de duas mulheres numa mesa ao fundo. Saí com intenção de me perder por aí e me encontro aqui, entre doses de conhaque e solos de trompete. Aquele jeito lobo tolo todo de ser me voltou com mais força, de querer se confundir com a noite, de espiar a lua, justamente essa que vem deixando a madrugada azulada e o mar mexido. Não sei bem o que ocorrerá daqui pra frente, já que esse hemisfério de pensamentos é tão desnorteante. Existe muito calor e muita roupa. Aquele gosto ainda persiste e quero matar o desejo de continuar sentindo por mais tempo, mas o cordeiro não pasta por esses lados há um tempo e não tenho como saciar a sede de saliva e suor. Eram outros tempos na última lua cheia, era verdadeiramente estado de consumição. Corro no banheiro, lavo as mãos, cheiro de erva-doce, esfrega-esfrega, enxágue. Volto à mesa, novo gole, lembro que não comi nada e nem ninguém, por isso este mau-bem estar, por isso o enevoado, o enervamento quase comunista. Ah! Essa vista de mar revolto está me deixando fora de mim, quero sair, quero sumir, perder-me como então era a proposta original. Lobo feroz me corroendo a pele de cordeiro esquecido. Quero ataque, quero elegância ao passo dado, nada de um equador me dividindo, separando-me do ato de matar a fome, a sede. Vamos ao que interessa, avante com uivos loucos e altos. Não sou querelante, sou do ato, do dado, do ser, então vamos ao que tem de ser, solto, selvagem e chega de ser falante.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Aquele jeito lobo tolo de ser (Macho)
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