quarta-feira, 26 de maio de 2010

O fim do amor. O fim de Clara.

Sobre a cama suspirava a espera daquela que entrou no banheiro. Era um momento tão esperado por ele. Preparou-se tanto, ensaiou o que diria, porque normalmente as palavras lhe teimavam em não sair da boca, embaralhavam-se, destoantes, confusas. Mas até então tudo corria perfeito, conseguiu imaginar bem as perguntas e falas daquela que neste momento demorava por demais em seu banheiro, por isso disse tudo de forma clara, pausada e coesa.

Desde pequeno nutria um amor por ela. Adorava seu sorriso, apressava o passo para poder sentir seu cheiro no vento que ficava. Estava sempre por perto, protegendo-a de tudo e todos. Era sua chance de tê-la, de estar ao lado, de poder tocar-lhe os cabelos longos e macios. Não cabia dentro de tanta felicidade, de tamanho êxtase. Seguiu-a depois de que ela saiu de um bar, cambaleando pelas ruas do centro da cidade. Ofereceu-se para lhe acompanhar até em casa, mas ela dissera que não queria ir para a dela e perguntou languidamente se ela poderia dormir para a dele. Respirou fundo, pois isso não estava em seu script e de uma forma rápida e certeira disse que sim. Ela o beijou demoradamente com um gosto muito forte de tequila. Ele empalideceu, mas retribuiu o beijo. Caminharam vagarosamente até o carro e seguiram.

Ali estavam a mais de quarenta minutos. Ele ávido por ela, por dizer o quanto a amava, o quanto deseja por essa realização, esperando quase que tranquilamente na cama. Quase, porque todo esse tempo ela estava trancada no banheiro. Não aguentando mais a consumição da espera foi até a porta e bateu suavemente, chamando-a:

- Clara! Clara! Está tudo bem?

(Silêncio)

- Clara? Posso entrar?

(Silêncio)

Ele entrou no banheiro e viu sua clara deitada no chão, deitada não, caída próximo ao vazo sanitário, com o rosto roxeado. Agarrou sua Clara, balançou, sacudiu, gritou seu nome, mas ela já não respondia mais, não falava mais, não respirava mais, não poderia mais dar continuidade ao encontro. Clara estava em outra. E por isso ele não esperava, para isso ela não tinha ensaiado. O que fazer? Como proceder com essa situação, com Clara, com o seu amor?

- Claraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.

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Parte de mim - o que vira escrita...

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