terça-feira, 15 de julho de 2008

Passeio pelos sonhos

Andei pelos sonhos de alguém essa noite. Parecia que eu tinha nas mãos o poder e a leveza de alimentar sua alma com o meu amor, porque a forma como me olhava, me beijava, era tão voraz que às vezes sentia medo, mas logo em seguida me entregava e correspondia aos seus toques, suas carícias. Eu olhava nos seus olhos e podia ver o que transcorria, transmutava e corria de dentro pra fora. Não durou mais que à noite, mas sinto que me perdi um pouco por lá, me cedi, me excedi, me deixei e trouxe também. O cheiro está preso nos meus pulmões, o sorriso está fixo na minha memória e sinto que não sou mais o mesmo... Sou o menino que virou tudo de pernas pro ar, sou o homem que se perdeu no leito denso da carne, o poeta que não quer rimar e que arde em paixão quando pensa, fala e vive o amor. Tornei-me bicho manso, parte da terra, semente, germinando. Sinto saudade do corpo, dos dentes que me morderam lindamente, dos dedos que percorreram milimetricamente pedaço por pedaço do meu ser. Mas sinto ainda mais por causa daquela alma, que por instantes fundiu-se a minha, misturaram-se e quando separadas... Eu já não era eu mesmo, tinha me perdido no abismo do prazer e me achado, lançado pra fora como num gozo fora do comum, mas não morri... Daquele momento em diante eu tinha nascido, renascido, revivido, despertado para uma vida cheia de entrelinhas, onde podia e posso esmiuçar os detalhes, saborear cheiros e gostos, mas sinto falta... Parte de mim ficou lá, não sei qual foi exatamente, se a maturidade ou a jovialidade afobada, não sei... Mesmo depois de desperto, rosto lavado e retirado o resto do sono preso aos olhos, mesmo assim, continuava pensando nesse encontro, o dia todo a pensar, relembrar, percorrer exaustivamente o passo por passo seguido durante a noite. Se muitos falam que o sono é o momento em que o espírito se desprende do corpo e passeia, reencontra outros afins, preciso de certo encontrar tal criatura que ficou com pedaços de mim. Andarei pelos cantos do mundo, olhos fixos a tudo e a todos, ávido, mirando no que vejo a fim de me ver, de me completar e somar. Parte de mim ficou lá... Hoje deitarei mais cedo, pra se acaso eu sonhar e viajar pelo sono de outrem, eu ter mais tempo pra ficar e que quando eu partir, leve a certeza de que deixei algo e trouxe a certeza de que sempre tenho que procurar dizer tudo, porque muito pode ter mudado quando despertar.

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Parte de mim - o que vira escrita...

Os que me olham, me sentem e me acomapanham

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